13 de maio: José Sebastião Rosa, o célebre Juca Rosa

Neste 13 de maio, data em que se rememora o ápice do processo que levou a abolição da escravatura, apresento, para quem ainda não o conhece, José Sebastião da Rosa, o célebre Juca Rosa.
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Neste 13 de maio, data em que se rememora o ápice do processo que levou a abolição da escravatura, apresento, para quem ainda não o conhece, José Sebastião da Rosa, o célebre Juca Rosa.

O Juca Rosa foi, sem sombra de dúvidas, o Pai de Santo mais conhecido do Rio de Janeiro do século XIX. O seu nome foi presença constante nos periódicos brasileiros, principalmente no Diário do Rio de Janeiro. Para que o leitor tenha uma dimensão da magnitude de sua figura, encontrei, em minhas pesquisas[1], mais de 480 menções ao seu nome nos jornais das décadas finais dos oitocentos.

As fontes históricas indicam que nasceu no Rio de Janeiro, no ano de 1833. Nada se sabe de seu pai, mas sua mãe era africana, e teria, supostamente, lhe transmitido os conhecimentos rituais.

Juca dizia nunca ter sido escravizado e trabalhou como cocheiro, criado e alfaiate. Ainda, afirmava ter sido Praça do Exército brasileiro. Contudo, a narrativa de que nunca teria sido escravizado mostra poucos indícios de verossimilhança, pois, um filho de uma africana, nascido no Brasil da década de 1830, muito provavelmente teria sido escravizado. A afirmação de que teria sido Praça do Exército é um indício de como Juca teria obtido sua liberdade.

Acredita-se que Juca exerceu o que os periódicos da época chamavam de feitiçaria durante um período de tempo considerável sem que fosse importunado pela polícia. O seu culto ganhou notoriedade e a sua base de fiéis cresceu.

Há diversos relatos que indicam a presença de pessoas da elite senhorial em sua “casa de dar fortuna”. Suspeita-se do envolvimento de políticos em seu culto, como o Deputado do partido Conservador, Duque Estada Teixeira.

Os seguidores de Juca o chamavam de diversos nomes, como: Pai Quibombo e Pai Vencedor, por exemplo. Acredita-se que, em verdade, tais eram os nomes das entidades que eram incorporadas por Juca.

Tudo parecia prosperar em sua casa de dar fortuna, até que em 1870, uma denúncia anônima pôs tudo a perder.

Os jornais acusaram Juca Rosa de feitiçaria, de charlatanismo, de “corromper mulheres casadas e jovens donzelas” e de ofensas a religião cristã. Contudo, ainda que fossem verdadeiras tais acusações, tais condutas não eram proibidas pelo Código Criminal de 1830.

As práticas religiosas de Juca Rosa estavam resguardadas pelas normas vigentes. O subterfúgio jurídico utilizado foi o crime de estelionato.

Seguiu-se um processo judicial que foi amplamente divulgado pelos jornais. Principalmente pelo Diário do Rio de Janeiro, que aumentou exponencialmente sua tiragem.

Juca Rosa e seu advogado Jansen Júnior utilizaram todos meios e estratégias possíveis para tentar reverter o que parecia inevitável, a condenação do pai de santo. Juca mandou publicar, inclusive, uma nota de reposta as ofensas que eram diariamente publicadas contra ele na imprensa.

Não adiantou.

Em julho de 1871, o Juiz João Alfredo Correia de Oliveira condenou Juca Rosa a seis anos de cárcere.

Preso em sua cela, José Sebastião Rosa sumiu dos jornais. Permaneceu o Juca Rosa. A sua alcunha se perpetuou e passou a ser utilizada como sinônimo dos pretos feiticeiros, donos de casa de dar fortuna, atuantes em batuques, zungus, candombes e candomblés.

José Sebastião Rosa deixou o cárcere em 26 de julho de 1877 e desapareceu por completo dos periódicos.

Juca Rosa é o grande símbolo das religiões afro-brasileiras no Rio de Janeiro do século XIX.

O seu caso é emblemático: conseguiu manter o seu culto ativo – sem grandes interferências policiais – durante um grande período de tempo. Simboliza as políticas precárias de negociação para a realização dos cultos afro-brasileiros que permitiram a sua perpetuação.

Há alguns indícios dessas políticas de negociação. Provavelmente, o culto de Juca era frequentado, também, por pessoas da elite senhorial, que lhe conferiram proteção. Há, também, a hipótese do envolvimento de figuras do baixo escalão da polícia – como os inspetores de quarteirão – o que permitiu a realização dos rituais. Por fim, Juca fazia os seus ritos em diversas casas, sempre mudando de local, dificultando, a repressão.

As fontes dão indícios de que o Deputado Duque Estrada Teixeira teria sido o autor da denúncia anônima que colocou fim a casa de dar fortuna de Juca Rosa.

Teria, o Deputado saquarema, realizado a denúncia motivado pela descoberta de que sua esposa, ou amante, frequentava o culto de Juca e que teria passado a se envolver com ele. Ou, ainda, que a denúncia teria sido motivada por uma contenda envolvendo maltas de capoeiras, uma apoiada pelo Deputado e outra por Juca. Não se sabe.

O que efetivamente se sabe é que Juca foi o mais célebre Pai de Santo que atuou no Rio de Janeiro do século XIX. Juca, por meio dos elementos de seu culto, desafiou o próprio controle da elite branca e senhorial.

Em meio ao difícil e incerto jogo de negociações que permitia a sua prática religiosa, Juca foi preso e condenado. Não pelo crime de estelionato, mas por não ter guardado o lugar que lhe era imposto pelas relações de poder e dependência entre pretos e brancos no final do século XIX.

Juca é um símbolo da resistência cotidiana e diária à escravidão e, por isso, deve ser lembrado neste 13 de maio.

Saravá, Juca Rosa!

Neste 13 de maio, data em que se rememora o ápice do processo que levou a abolição da escravatura, apresento, para quem ainda não o conhece, José Sebastião da Rosa, o célebre Juca Rosa.

Referências

Referências
1 Artigo elaborado com base em minha dissertação de Mestrado em Filosofia e Teoria Geral do Direito, intitulada: “Direito e Religião: a intolerância as religiões afro-brasileiras”. Disponível em: https://www.academia.edu/42963108/Direito_e_Religi%C3%A3o_a_Intoler%C3%A2ncia_%C3%A0s_religi%C3%B5es_afro-brasileiras