A ideologia do 9 de Julho: a fabricação do antigetulismo paulista

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É muito comum um “antigetulismo paulista” ser tomado como um fato do qual se extrai grandes explicações, que vão desde o Golpe de 1964 à derrota de Brizola em 1989. No entanto, a manufatura dessa suposta característica intrínseca da política de São Paulo não foi algo simples e demandou muitas décadas para se estabelecer.

É curioso que o próprio dia 9 de julho, que celebra a derrota dos liberais paulistas em 1932, só foi se tornar feriado estadual em 1997, quando a data foi incorporada ao calendário pelo governo tucano da época. Outro dado interessante é o fato de os paulistas, em 1950, terem dado a Getúlio Vargas 64% dos votos na eleição para presidente, porcentagem muito maior que a conseguida em seu estado de origem, Rio Grande do Sul, onde obteve 49%. Claro que o apoio de Adhemar de Barros naquela eleição colaborou nesse resultado, mas que político de São Paulo arriscaria se aliar a um “monstro autoritário odiado pelos paulistas”? Óbvio que não era esse o sentimento das massas de São Paulo em relação ao ex-presidente.

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A Revolução de 30 representou a ascensão das camadas médias na política nacional, aspiração que fervilhava na capital paulista há décadas. O processo de industrialização do país promovido pelo governo Vargas beneficiou sobremaneira São Paulo, onde sempre esteve localizado o maior parque produtivo do Brasil. Getúlio é o patrocinador das leis trabalhistas que beneficiaram os operários, concentrados especialmente em São Paulo, que foram ardorosos apoiadores de seus governos. Então, de onde vem esse estigma do ‘estado antivarguista’?

9 de Julho a fabricação do antigetulismo paulista
Multidão se aglomera em comício pró-Getúlio na Praça da Sé, São Paulo, em outubro de 1945

Em 1930, o Trem da Revolução, que trouxe Getúlio Vargas do sul do país para tomar posse no Rio de Janeiro, foi obrigado a fazer várias paradas pelas estações do interior paulista, onde a população recebia com festa os revolucionários. A entrada na cidade de São Paulo e o caminho até o Palácio dos Campos Elíseos, antiga sede do governo, foi assim registrada no diário de Vargas: “Chegamos à capital paulista cerca de 11 horas da noite, levados em triunfo da gare até o automóvel. Este percorre as ruas no meio de verdadeiro delírio popular. Parece que toda população de São Paulo comungava com a revolução. Magnífico povo.[1]

Na manhã seguinte, O Estado de São Paulo publicou uma grande foto de Getúlio na primeira página com a manchete: “São Paulo recebe triunfalmente o presidente Getúlio Vargas”. Segundo o jornal, duas mil pessoas foram à Estação da Luz receber Vargas, formando “um grande mar escuro sobre o qual parecia ter chovido o sangue de miríades de flâmulas e lenços vermelhos. As árvores eram tomadas pela turba. Em cada forquilha engarfava-se um homem. Os muros estavam cobertos de espectadores, as gateiras, os portões, os terraços, as grades, as platibandas, onde houvesse apoio para um pé acomodava-se um espectador. À passagem do automóvel, pétalas de rosas eram atiradas. Já não se ouviam mais os vivas de duas mil pessoas, mas de cinco, seis, dez mil. E sob esse fragor de aplausos rumou para a cidade, acompanhado de cortejo enorme, o dr. Getúlio Vargas.[2]

Dois dias depois, no Rio de Janeiro, a multidão começou a se aglomerar, às 9 da manhã, na Central do Brasil para aguardar a chegada do novo presidente. Porém, a viagem demorou mais que o esperado e Getúlio só conseguiu chegar ao Rio às 18h. “O longo atraso se devia às inúmeras paradas a que fora submetida a composição desde a saída de São Paulo, na noite anterior, quando Getúlio, como se fosse um astro de cinema do porte de Emil Jannings ou de um Chester Morris, cansara os dedos de tanto rabiscar o próprio nome. (…) Após a partida da capital do estado, os paulistas de Mogi das Cruzes, Jacareí, Taubaté, Cachoeira e Queluz obrigaram o trem a parar sucessivamente. Para se certificar de que a composição não seguiria direto, sem dar chances à população local de saudar Getúlio, barricadas humanas se formaram no leito da via férrea, forçando o maquinista a acionar o sistema de freios para evitar atropelamentos fatais.[3]

Sobre esses eventos, Getúlio registrou em seu diário: “Por todo o caminho, em todas as estações, tínhamos de atender ao povo entusiasmado, vibrante. No geral, trabalhadores rurais, operários etc. Flores, discursos, foguetes. (…) Toda a comitiva admira-se da vibração do espontâneo entusiasmo do povo paulista.[4]

A Revolução de 30 marca a chegada ao poder das camadas médias urbanas que iniciaram suas revoltas, na década anterior, contra as oligarquias do ‘café com leite’. A força social organizada que impulsionou o movimento foram os tenentes, sendo o marco inicial da rebelião a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, ocorrida em 1922.

Em 1924, os paulistanos foram protagonistas do movimento que resultou na eclosão de diversas outras revoltas pelo país, sendo a mais famosa, a Coluna Miguel Costa-Prestes. Em 5 julho daquele ano teve início a Revolução Esquecida, o maior conflito urbano da história do Brasil, que produziu cenas só vistas até então na Primeira Guerra Mundial, com explosões de bombas, prédios destruídos, bombardeios por aviões, deslocamentos de soldados com metralhadoras, tanques de guerra cruzando a cidade e trincheiras abertas nas ruas. Em São Paulo, o tenentismo mostrou pela primeira vez que não era apenas um clamor impotente por mudanças, mas sim um projeto de poder real capaz de enfrentar as oligarquias.

O comando das operações ficou a cargo do general Isidoro Dias Lopez, contando com a participação de diversos tenentes, dentre eles Miguel Costa, João Cabanas, João Alberto Lins de Barros, Juarez Távora e seu irmão, Joaquim Távora, morto no conflito. Os revolucionários de 1924 ocuparam a cidade de São Paulo durante 24 dias, obrigando o governador, Carlos de Campos, a fugir após o bombardeio do Palácio dos Campos Elíseos. Pelo interior do estado ocorreram também diversas rebeliões com prefeituras sendo tomadas pelos revoltosos.

A resposta do governo central foi brutal. As Forças Armadas utilizaram o chamado “bombardeio terrificante” para desmobilizar a rebelião, lançando bombas em vários pontos da cidade, em especial nos bairros operários do Brás, Ipiranga, Mooca, Belenzinho e também no Centro. Depois de três semanas de conflito, o saldo foi de 503 mortos, 4.846 feridos e 200.000 pessoas fugindo da cidade em trens para o interior.

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Cenas de guerra nas ruas de São Paulo, julho de 1924

Após a derrota, Miguel Costa partiu em retirada, liderando um batalhão de soldados que seguiu para o Paraná. Lá, alguns meses depois, se encontraram com outro grupo de tenentes revoltosos vindos do Rio Grande do Sul, que marchavam sob comando de Luís Carlos Prestes. Assim, as tropas gaúchas e paulistas se uniram formando a 1ª Divisão Revolucionária, que ficou conhecida como Coluna Miguel Costa-Prestes, percorrendo 25.000 quilômetros pelo interior do país, através de 13 estados, e se exilando invicta após três anos de luta.

É provável que você nunca tenha ouvido falar da Revolução Esquecida de 1924, o que mostra a acuidade de quem nomeou o evento. Mas por que um acontecimento dessa magnitude e importância para a história de São Paulo e do Brasil foi esquecido?

Os eventos de 1924 a 1930 marcam um período de ruptura na história brasileira, em que nosso povo lutou para superar um sistema político impermeável e um sistema econômico que submetia o país à monocultura de exportação, impedindo seu desenvolvimento e concentrando os dividendos em uma única região. Esse modelo, que já era insustentável e nocivo ao interesse nacional, entrou em colapso com a quebra da bolsa de Nova Yorque, em 1929.

Getúlio assumiu o governo num país com economia devastada, totalmente dependente da exportação de café, cujos preços estavam em queda livre pela combinação de superprodução com crise econômica mundial. Para se ter dimensão do rombo que precisava ser enfrentado, o Brasil havia lucrado em 1929, antes do crash da bolsa, U$445 milhões com a exportação de café. Em 1930, o lucro caiu para U$180 milhões, o que destruiu as contas externas de um país agrícola que precisava importar quase todos os bens manufaturados que consumia.

Por isso, no ano seguinte, fazendo uso dos poderes revolucionários, Vargas deu uma solução estatal ao problema, ordenando a queima dos estoques de café para elevar o preço do produto. Foram incineradas 70 milhões de sacas, o que correspondia, naquele período, ao consumo mundial do grão por três anos. Segundo jornais da época, a quantidade de café queimado no Porto de Santos era tão grande que o cheiro de café percorria diversos municípios do litoral paulista, só sendo contido pela Serra do Mar.

Além dessa providência drástica, Vargas promoveu diversas outras medidas que possibilitaram o reequilíbrio das variáveis macroeconômicas, ao colocar fim à valorização artificial dos preços do café adotada pela República Velha por pressão dos produtores – o que gerava custos a todo o país em benefício exclusivo dos cafeicultores. Getúlio também estabeleceu o controle da produção de café, passando a tarifar os novos plantios e ajustar os impostos de exportação do produto, e impulsionou a participação cada vez maior do Estado na produção e planejamento econômico. O feito foi reconhecido inclusive pelo presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, que, em passagem pelo Rio de Janeiro em 1936, declarou em sua partida: “Despeço-me esta noite com grande tristeza. Há algo, no entanto, que devo sempre lembrar. Duas pessoas inventaram o New Deal: o Presidente do Brasil e o Presidente dos Estados Unidos.[5]

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Encontro de Franklin Roosevelt com Getúlio Vargas no Rio de Janeiro [novembro de 1936]
No entanto, parte dos revolucionários de 1930 não ficou nada satisfeita com essas medidas de Getúlio que, mesmo necessárias ao país naquele momento, também beneficiava de alguma maneira os cafeicultores contra os quais os levantes tenentistas em São Paulo tanto lutaram. João Cabanas foi um dos tenentes que escreveu diversas cartas à Vargas criticando a política cafeeira do governo, além de protestar contra o interventor escolhido para São Paulo, João Alberto Lins de Barros.

Tendo participado da Revolução Esquecida de 1924 e da Coluna Miguel Costa-Prestes, João Alberto não foi hábil na condução política do estado e enfrentou oposição tanto de outros tenentes, que desejavam ser nomeados para o cargo, quanto da elite paulista que desejava influir na escolha do interventor e não admitia ser governada por um pernambucano de hábitos simples e pouco dado às formalidades. Segundo o dono do jornal O Estado de São Paulo, Júlio de Mesquita Filho, “o interventor imposto por Getúlio não demonstrava a menor identificação com a realidade local e nenhum apreço à aristocracia do cargo, pois cometia a gafe de receber os democráticos, em pleno salão nobre do palácio, apenas de pijamas e chinelos ‘cara de gato’.” Para Mesquita, faltaria a João Alberto “a cultura necessária para analisar uma sucessão de fatos que só conhecimentos sociológicos lhe permitiriam perceber. O interventor, nascido sob o signo do padre Cícero e criado na admiração dos cangaceiros Antônio Silvino e Lampião, militar cuja infância se passara na contemplação dos mocambos do Recife, não seria a pessoa certa para dirigir a terra paulista.[6]

A situação na capital paulista era tensa e a nomeação de João Alberto tinha sido uma estratégia de Getúlio justamente para acalmar os ânimos até as eleições gerais que estavam marcadas para 1932. Além de tenente e herói de guerra, João Alberto também era membro do Gabinete Negro, que Getúlio chamava ironicamente, em seu diário, de seu “Soviete Supremo”[7].

O Gabinete era um conselho de Estado que auxiliava Vargas na condução do governo revolucionário e era formado por Juarez Távora, Pedro Ernesto, Oswaldo Aranha, Virgílio de Melo Franco, José Américo, Góes Monteiro, general Leite de Castro, além de Getúlio e João Alberto. Desde o início do Governo Provisório, São Paulo tinha se tornado um foco de tensões, forçando Getúlio a trocar de interventor quatro vezes em menos de um ano e meio.

A solução não era simples. Além da rivalidade entre os grupos de tenentes que queriam a interventoria paulista, havia também os civis locais pressionando para obterem o mesmo cargo. Francisco Morato, fundador do Partido Democrático (PD), julgava ser o candidato natural, visto que havia apoiado a eleição de Vargas contra Júlio Prestes, antes da Revolução. O chefe tenentista, Miguel Costa, era o nome mais indicado por aqueles que queriam manter o governo de São Paulo sob comando militar, mas sua proximidade com Prestes durante a condução da Coluna Invicta aterrorizava a elite local. Outro nome cotado era o do general Isidoro Dias Lopes, chefe militar da Revolução Esquecida.

O nome ideal para comandar São Paulo naquela conjuntura era o bravo tenente Siqueira Campos – paulista, sobrevivente da heróica Revolta dos 18 do Forte de Copacabana e um dos líderes mais expressivos da Coluna Miguel Costa-Prestes. Mas, infelizmente, Siqueira Campos morreu num acidente de avião pouco antes da Revolução de 30, quando voltava do Uruguai. Curiosamente, o outro passageiro era João Alberto, que conseguiu sobreviver à queda do avião no Rio da Prata.

Getúlio precisava de um nome de confiança, que não representasse a derrota total de nenhum dos grupos em disputa e que fosse maleável às orientações do Catete. Por isso, escolheu João Alberto como interventor. Miguel Costa foi nomeado comandante da Força Pública, além de Secretário de Segurança do estado. O general Isidoro foi confirmado no comando da 2ª Região Militar, sediada em São Paulo. Ao PD, nomeou um membro do partido como Ministro da Fazenda e outro como presidente do Banco do Brasil. “Tudo acomodado, classes conservadoras e operariado”, anotou Getúlio em seu diário.[8]

No entanto, a trégua entre o governo, os tenentes sediados em São Paulo e os liberais bandeirantes não durou muito. A imprensa, que apoiou o novo interventor em um primeiro momento, logo voltou a artilharia contra João Alberto, acusando-o de incapaz e de ser culpado pelas falências de empresas no estado. Além do fato de não cultivar apreço pelas formalidades, o que incomodava a tradicional elite local, ainda circulavam desconfianças a respeito das preferências ideológicas do interventor, que teria “consentido na criação de uma Sociedade dos Amigos da Rússia e autorizava o funcionamento de uma célula do Partido Comunista no estado. Embora tenha dado várias entrevistas para negar qualquer relação com o marxismo, o interventor não conseguiu apagar os boatos de que seria um pretenso agente vermelho de Moscou infiltrado por Getúlio em pleno Campos Elíseos.[9]

O enfraquecimento de João Alberto fez com que os grupos ligados ao PD se aproximassem do PRP (Partido Republicano Paulista, derrubado do poder em 1930) após a criação do Grupo da Lavoura, que foi uma tentativa de João Alberto organizar os colonos e pequenos agricultores que antes faziam parte do Instituto do Café de São Paulo, controlado pelo PD. Além disso, Miguel Costa e o general Isidoro começaram a se desentender entre si e com João Alberto.

O PD rompeu com o interventor no dia 5 de abril de 1931. Em 28 de abril, alguns membros do partido, junto a oficiais da Força Pública, organizaram um levante, exigindo a demissão de João Alberto e Miguel Costa. O movimento, apelidado de “abrilada”, foi logo sufocado pelas forças fiéis ao governo, resultando em mais de 200 presos, entre eles, o braço direito do general Isidoro. Getúlio o afastou imediatamente do comando da 2ª Região Militar, nomeando Góes Monteiro para o lugar.

Dia 13 de julho, João Alberto renuncia e indica, em acordo sigilosamente intermediado por Getúlio para melar a aproximação do PD com o PRP, o redator-chefe do jornal O Estado de São Paulo, nome caro aos liberais paulistas, Plínio Barreto. Porém, diante das ameaças de Miguel Costa de não aceitar a nomeação, Plínio desiste do cargo antes da posse. Nova crise que se seguiu numa sucessão de nomeações frustradas.

O resultado dessa escalada foi a organização dos liberais de São Paulo na Frente Única Paulista (FUP), que era a união do PD com o velho PRR organizada por Júlio de Mesquita Filho. O objetivo da Frente era lutar contra a centralização do Governo Provisório – exigindo a restituição da velha ordem federativa, com autonomia dos estados nos marcos que sustentaram o colonialismo interno de São Paulo sobre o resto do Brasil via cafeicultura de exportação –, usando o recurso do ‘orgulho paulista’ para mobilizar a população contra o governo federal. Essa estratégia discursiva foi bem sintetizada no slogan divulgado no jornal O Estado de São Paulo do dia 15 de janeiro de 1932: “São Paulo para os paulistas!

Diante desse quadro, Oswaldo Aranha seguiu para o estado para negociar uma saída até as eleições que estavam próximas, mas enquanto ele realizava negociações “jornais e emissoras de rádio paulistas evocavam o mito histórico dos antigos bandeirantes como principal apelo à mobilização popular. A cada nova edição, o noticiário vinha atulhado de menções às ‘glórias ancestrais’ e à ‘bravura de Anhanguera e Borba Gato’. A autoestima da população era habilmente instigada por editoriais que propunham uma espécie de vingança histórica contra a derrota sofrida durante a Guerra dos Emboabas, no início do século XVIII. Para a imprensa de São Paulo, Getúlio almejava reeditar o famigerado Capão da Traição, o massacre ordenado em 1708 pelo emboaba Bento do Amaral Coutinho contra os paulistas. O discurso nativista, que mesclava ufanismo, xenofobia e indignação cívica, seduziu estudantes, convenceu as camadas médias, reagrupou de vez as elites.[10]

Todos sabemos como isso terminou. Os liberais de São Paulo organizaram um levante para depor Getúlio, iniciado em 9 de julho de 1932, mas não foram acompanhados por nenhum dos estados que participaram da conspiração, pois ninguém queria restabelecer o domínio da elite paulista sobre o país.

Isolados, não conseguiram fazer a contrarrevolução nem barrar a consolidação do governo que organizou o Estado brasileiro e iniciou o processo de modernização do país. O curioso é que grande parte dos ganhos da industrialização do Brasil, das obras de infraestrutura, da expansão do mercado consumidor pela regulação do trabalho etc. foi apropriado, justamente, pelo estado de São Paulo. Como disse certa vez o ex-ministro Delfim Neto: “as elites paulistas nunca perdoaram o bem que Getúlio fez a São Paulo”.

Derrotada a contrarrevolução, os liberais paulistas, liderados por Júlio de Mesquita Filho, criaram a USP, em 1934. Perdida a batalha militar, partiram para a ideológica, da hegemonia cultural. E venceram, convertendo numa vitória política a derrota na guerra que jogou as forças paulistas contra o resto do país, deixando centenas de mortos (não há um consenso em relação a esse número que pode variar de 600 a 2000 baixas).

É por isso que o povo de São Paulo hoje, 9 de julho, é submetido à celebração da ressentida derrota dos liberais de seu estado numa revolta fracassada contra o país. É por isso, também, que estão condenados ao esquecimento do 5 de julho de 1924, data que os coloca como pioneiros da causa nacional.

Uma pena. Os paulistas merecem lembrar.

[1] VARGAS, Getúlio Dornelles. Diário: volume 1, p.19.

[2] NETO, Lira. Getúlio: dos anos de formação à conquista do poder (1882-1930), p.514.

[3] Ibid. p.516.

[4] VARGAS, Getúlio Dornelles. Diário: volume 1, p.20.

[5] https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,teoria-de-keynes-chegou-cedo-ao-pais-imp-,752361

[6] NETO, Lira. Getúlio: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1945), pp.67-68.

[7] VARGAS, Getúlio Dornelles. Diário: volume 1, p.74.

[8] Ibid. p.28.

[9] NETO, Lira. Getúlio: do Governo Provisório ao Estado Novo (1930-1945), p.67.

[10] Ibid. p.77.