Bolsonaro não dá Ibope. O drama das TV’s bolsonaristas

Falar bem de Bolsonaro não dá Ibope. Pelo menos é o que revela a análise dos números divulgados pelo instituto. Todas as emissoras que embarcaram no bolsonarismo em busca de migalhas de propaganda tiveram que contentar-se somente com as raspas.
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Falar bem de Bolsonaro não dá Ibope. Pelo menos é o que revela a análise dos números divulgados pelo instituto. Todas as emissoras que embarcaram no bolsonarismo em busca de migalhas de propaganda tiveram que contentar-se somente com as raspas.

O caso mais emblemático é o do SBT, emissora nos últimos meses perdeu o segundo lugar na audiência depois de quase uma década. A queda foi de 30% em relação ao ano anterior. A emissora de Silvio Santos também não se ajudou. A substituição repentina de programas, o cancelamento de líderes de audiência e outras atitudes dúbias, consolidaram a queda da emissora. O jornalismo do SBT parece feito para o homem médio dos anos 80. No século XXI soa anacrônico, vulgar e mal pensado. A única jornalista a pontuar na audiência era Raquel Sherazade, que apesar dos apesares, tinha uma figura consideravelmente consolidada. O SBT tratou de colocá-la na geladeira devido às suas críticas ao governo.

Outro setor problemático na emissora do Baú é o do entretenimento. O programa do Ratinho, antigo líder de audiência da emissora, hoje amarga um triste 5° lugar, atrás de grandes programas como: “Pra ganhar é só Rodar”; “Roda Roda Jequiti” e “As Aventuras de Poliana”. Ratinho é um dos mais ferrenhos defensores do presidente. Pelo jeito, o SBTista prefere que ele se atenha aos já consolidados “Teste de DNA” e “Pula Pula Xaropinho”. Xaropinho dá mais Ibope que Bolsonaro.

No Reino de Deus as coisas não parecem muito melhores. A Record, com exceção dos programas policialescos, viu seu setor de jornalismo – e entretenimento – perder prestigio e audiência. O jornalismo da Record nunca foi de se invejar, mas também não envergonhava. Com a proximidade dos pastores mantenedores com o governo impopular a situação se agravou. Noticia-se inclusive uma nova guinada no jornalismo da emissora para os próximos meses. A contratação de Carolina Ferraz, a investida em Zeca Camargo e a volta de Flavio Ricco ao grupo Record dão sinais de mudança. Além disso, há também uma notável tentativa da emissora em se deslocar-se da pecha de “emissora do Bolsonaro”. Aleluia.

A RedeTv não merece análise mais detalhada pois é uma ex-emissora em atividade. A televisão de Amilcare e Cia parece que tem toda a programação alugada por inquilinos pobres. As produções são terríveis e os números são piores ainda. Sua única esperança de continuar existindo é a MP do governo Bolsonaro que permite sorteios na televisão. Sim, os mesmos sorteios que extorquiam idosos e crianças desatentos ao charlatanismo de prêmios impossíveis. Além disso, a emissora não paga salários, demite sumariamente e têm como sua maior atração, diretamente de Manaus, o inclassificável Sikera Jr. A única boa notícia é que em breve não teremos mais o risco de ver eleito um escada da RedeTV no mais alto posto da República.

A Band não pagou a medição do Ibope nos últimos dois meses. A situação financeira, que estava se estabilizando, voltou a complicar depois da pandemia. O maior faturamento da casa, o setor de Esportes, ficou seriamente prejudicado. A audiência não deu valor ao esforço diário de Craque Neto em divertir os brasileiros confinados, infelizmente. A emissora precisa urgentemente estabilizar sua situação financeira para poder voltar a disputar audiência. Principalmente no setor de Jornalismo e de esportes, cargo chefe do Grupo Bandeirantes. Os flertes com o Bolsonarismo se mostraram infrutíferos. O apresentador matinal bolsonarista Ernesto Lacombe andou perdendo pra Rede Vida, reprise de novela dos anos 80 e delírios congêneres. No mínimo sofrível. A Band, cujo papel jornalístico sempre fora de grande relevância, vê cada vez mais distante os tempos de glória.

Em compensação, falar mal de Bolsonaro parece funcionar. A Rede Globo tem em 2020 o melhor ano desde a invasão dos streamings. O Jornal Nacional comanda o crescimento, dia após dia. O setor de jornalismo é arrojado e volta a ditar as regras na emissora carioca. Até mesmo a reprise da péssima novela “Fina Estampa” está indo bem, empurrado pelo crescimento do JN. A Globo vocaliza a voz da oposição, na ausência de uma. Os únicos danos relevantes ao bolsonarismo – não autofágicos – foram provocados pela Rede dos Marinho. Bater em Bolsonaro revigorou o jornalismo global e o colocou em conformidade com as outras mídias liberais mundo afora.

O presidente tentou ajudar; além da MP dos sorteios na TV, o capitão promoveu Fabio Faria (Genro de Silvio Santos) ao Ministério das comunicações (minúsculas, conforme escrito). Também tentou tirar da Globo o monopólio futebolístico, aparentemente sem êxito.

Não adiantou. Bolsonaro, outrora ícone pop, hoje amarga a impopularidade na televisão. Seus apoiadores são humilhados diuturnamente pelos números e até seus antigos apoiadores parecem abandoná-lo. E não tem Fabio Faria que ajude.

O pop não poupa ninguém.