RICARDO CAPPELLI: A Páscoa dos presos

RICARDO CAPPELLI: A Páscoa dos presos
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Duas imagens marcarão para sempre uma histórica Sexta-feira da Paixão.

Na Praça de São Pedro, o Papa Francisco leu mensagens representando cada uma das 14 estações que marcam a Via-Sacra. As poucas pessoas presentes se revezaram na tarefa de carregar a Cruz de Jesus. Entre elas, presos que escreveram algumas das mensagens, levados especialmente para a cerimônia.

No mesmo dia, no país mais rico do planeta, presos cavavam covas coletivas para enterrar pessoas mortas pela covid-19. Seres humanos que partiram sem que ninguém – parentes ou amigos – procurasse por seus corpos.

Enquanto Jorge Mario Bergoglio estendia a mão do perdão e da misericórdia, cobrindo de amor os crucificados, homens excluídos pelo sistema, “descartáveis”, enterravam almas marcadas pelo abandono.

Por que tanta solidão nos EUA, terra onde supostamente vigora a bonança e a prosperidade? Por que a nação mais rica possui também a maior população carcerária do mundo? Essa é a justiça que buscamos? Este é o modelo de sociedade pregado por Jesus?

Quem são os presos? Os que estão atrás das grades ou os que vivem livres em sociedades atormentadas por uma desigualdade indecente? Que valores movem os cristãos?

Na Páscoa do isolamento a luta não parece ser apenas contra uma grave ameaça sanitária. Vivemos uma disputa muito mais profunda. Quanto vale uma vida?

A ganância de uns poucos justifica a morte de um único cidadão nonagenário? Se não morrer um parente ou um amigo nosso, “não estou nem aí”?

Neste dia sagrado, com o coração angustiado pela distância dos entes queridos, me vem à memória o saudoso Dom Hélder Câmara: “se falo dos famintos, todos me chamam de cristão; se falo das causas da fome, me chamam de comunista’.

Comunismo vem de comum. Remete à comunhão, comunidade, lugar onde todos são iguais. A palavra foi associada à violência, ao autoritarismo, ao “diabo” pelos que praticam a religião da ganância, da usura, do lucro acintoso onde poucos reinam explorando muitos.

O Papa Francisco estende a mão aos que erraram. A confissão e o perdão é um dos postulados mais importantes da Igreja Católica. Bolsonaro diz que “bandido bom é bandido morto”.

O presidente busca o tempo todo dividir, fraturar a nação, encharcá-la de ódio. Não pensa na comunhão, na união. Mira apenas seu projeto mesquinho de poder pessoal.

Jesus Cristo dá comida aos que têm fome, acolhe os que sofrem, cura os doentes, defende que somos todos irmãos, iguais, comuns.

Esta é uma corrente do bem que perpassa gerações e assume variados símbolos civilizatórios. Liberdade, igualdade, fraternidade. Comunhão ou desigualdade? De que lado você está?

Ressuscite seus valores, ainda mais fortes, a cada dia. Fique em casa. Feliz Páscoa.

Por Ricardo Cappelli