Sobre a convocação do Tite

Foto: Lucas Figueiredo / CBF
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Foto: Lucas Figueiredo / CBF

Nomes: apesar de uma ou outra controvérsia, sobretudo pela ausência dos dois principais destaques do futebol brasileiro nos dois últimos anos, Arthur e Luan, ambos do Grêmio, houve pouca discordância no geral. Os bons resultados obtidos com o treinador gaúcho à frente da Seleção depois de passagens fracassadas de Dunga e Felipão lhe garantiram um crédito que tem sido comum nos últimos mundiais por parte dos técnicos brasileiros. Parreira em 2006, o próprio Dunga em 2010 e Scolari em 2014 chegaram com bastante crédito após um ciclo de mundial vitorioso, com conquistas como da Copa América e da Copa das Confederações. Tite não chegou a tempo de disputar nenhuma competição oficial a não ser as eliminatórias sulamericanas, onde o Brasil foi primeiro disparado, mas a situação do treinador é bastante confortável respaldado por torcedores e imprensa.

Repercussão: como tem sido comum a cada Copa do Mundo, talvez com a exceção da última, que foi aqui, a Seleção gera cada vez mais indiferença. Ainda é relevante, é assunto e as pessoas vão parar pra assistir durante o mundial. No entanto é notório que a expectativa pela convocação e pelos eventos preliminares ao campeonato do mundo surgem primeiro na imprensa para depois respingar no público. Isso vem ao encontro de uma pesquisa Datafolha recente que mostrou que o desinteresse pelo futebol tem aumentado sobretudo entre a classe trabalhadora. Os motivos são bastante óbvios embora a imprensa esportiva trate tudo de maneira superficial ou mesmo os ignore: preços de ingressos altíssimos e proibitivos, nível técnico medonho diante da situação em que o futebol brasileiro foi colocado com a Lei Pelé de se tornar mero exportador de pé-de-obra, campeonatos modorrentos com intermináveis rodadas que só os clubes mais ricos disputam o título, poucos ídolos e, no caso da seleção, poucos jogadores que atuam aqui convocados. Mesmo quando destaques, como o caso da dupla gremista, são preteridos por jogadores que atuam no futebol europeu em times periféricos da Ucrânica. Fica difícil.

Imprensa esportiva: por ter feito trabalhos excelentes no Corinthians e até agora na Seleção e por ter a simpatia da imprensa, especialmente a paulista, o técnico Tite — que notadamente é o melhor treinador brasileiro — é muito pouco criticado e suas opções e justificativas, mesmo que contraditórias, logo encontram razão de ser para muitos. Criticá-lo por vezes é visto como heresia. Colocam Tite acima do bem e do mal. É um claro equívoco. Ainda que como dito as controvérsias da convocação não sejam muitas, até porque não há ninguém do nível de um Romário ou Neymar sendo deixado de fora, há uma excessiva boa vontade com as justificativas usadas. O treinador da seleção brasileira argumentou, por exemplo, que a convocação do Taison do Shakhtar da Ucrânia se deu por ele atuar no futebol europeu e na Champions League, mas o mesmo critério não valeu para o lateral Rafinha do Bayern de Munique, preterido em relação ao atual jogador do Corinthians Fagner. Pouca gente falou a respeito ou criticou a opção, que diga-se é despropositada já em assumir que só por atuar na Europa põe qualquer atleta em vantagem, mesmo que por um clube periférico que nas competições internacionais é mero “sparring” dos grandões do continente.

Perspectivas: o Brasil é favorito para a conquista da Copa do Mundo, como sempre que disputa é. Assim são Brasil, Argentina, França, Alemanha, Inglaterra, Espanha – e também seria a Itália, se se classificasse. Chega com resultados recentes nas Eliminatórias e amistosos mais positivos que seus rivais, porém é pouco pra colocar o título como algo muito provável. As Eliminatórias não correspondem ao nível encontrado no mundial e tampouco os amistosos. É a primeira competição oficial em que a seleção, sob a batuta de Tite, vai enfrentar e, apesar de muitos bons nomes jogadores extra-classe, a meu ver, só há dois no grupo: Marcelo e Neymar. O Brasil, sempre que foi campeão, teve muitos destaques individuais. Mesmo em 94, uma seleção que marcou mais pelo jogo coletivo, teve Romário, Bebeto, Taffarel e, sim, Dunga barbarizando. Faltam candidatos a protagonistas e bagagem. Muitos dos jogadores vão para a Copa com a responsabilidade de fazerem a diferença — caso de Coutinho, por exemplo — estarão em seu primeiro mundial. É esperar pra ver, mas se eu fosse torcedor da Seleção eu não estaria tão confiante no Hexa.

Essa coluna é dedicada ao querido amigo Carlos, economista, o Jao Snow ex-estagiário do Twitter, que nos deixou precocemente no último domingo.