Demissões no GLOBO revelam crueldade capitalista e ingenuidade dos jornalistas

Por Floriano Brasil - As demissões dessa semana nas redações dos jornais O GLOBO e EXTRA expõem a dupla face de um setor específico dos trabalhadores no sistema capitalista, que é a dos jornalistas em grandes meios de comunicação. Demissões que ocorrem num momento de caras emoções, como se não bastassem as agruras da pandemia. Feliz Natal, leitores!
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Por Floriano Brasil – As demissões dessa semana nas redações dos jornais O GLOBO e EXTRA expõem a dupla face de um setor específico dos trabalhadores no sistema capitalista, que é a dos jornalistas em grandes meios de comunicação. Demissões que ocorrem num momento de caras emoções, como se não bastassem as agruras da pandemia. Feliz Natal, leitores!

De um lado, o que é comum a todos os setores, isto é, a crueldade, não em termos sentimentais, mas no da própria imanência do sistema capitalista, qual seja, a de não existir bondade ou maldade nesse sistema, mas sim coisificação das pessoas para valorizar o valor. Não se trata nem de produzir valores de uso, como imaginam os jornalistas, mas sim valores de troca para valorizar o valor do capital.

De outro, a ingenuidade dos jornalistas de acharem que fazem “jornalismo” a favor da sociedade, contra supostas elites poderosas. Cumprem, na verdade, a função de “fechadores” de jornal, como se diz no jargão profissional, no sentido de editores e repórteres que hierarquizam informações num complexo quebra-cabeças de manipulação de símbolos, ícones, números e dados diversos sobre fatos à disposição de diferentes forças em conflito – mas, sobretudo, dos donos do negócio, que são seus patrões.

O comportamento dos jornalistas, tentando uma forma honrada e elegante de falar de suas demissões no Facebook, sinaliza, porém, a esquizofrenia típica do escravo contemporâneo que nunca pode vislumbrar outra possibilidade na vida, a não ser a vida que levou durante o tempo de fascinação jornalística.

Isso, a ponto de muitos demitidos, após serem explorados durante décadas pelo jornal que os demitem agora, irem ao Facebook para postar mensagens elogiando ou o próprio jornal, ou a experiência que viveram durante os anos de exploração e as amizades que fizeram ao longo desse tempo.

Pode ser até compreensível essa postura sentimentalóide num contexto em que os jornalistas são confinados numa bolha ufanista dentro da qual passam a maior parte de suas vidas. Alguns só faltaram dizer que, além de agradecer o fato de terem sido explorados durante décadas pela empresa jornalística, sentem-se orgulhosos por fazerem parte ou terem sido usados, por exemplo, na sociedade estabelecida entre os jornais e a lava jato ou nas articulações que resultaram no golpe de 2016.

Alguns medalhões, colunistas famosos, ou foram demitidos ou serão recontratados com salários reduzidos na maior desfaçatez da cara de pau capitalista. É de se indagar por que os jornalistas não falam claramente sobre a sordidez dessa situação. Uma hipótese provável é no sentido de alguns acalentarem a esperança de serem contratados por outras empresas similares do ramo. Isso, se houver tais empresas a curto prazo.

Pura ilusão e ingenuidade. A tal época de ouro do jornalismo, conforme alguns acreditam, que teria ocorrido no “auge” da democracia, é a época de outro ouro, é a mesma época de hoje e de ontem, qual seja, a do “metal” de interesses subjacentes à superfície das coisas, a superfície das ilusões que camuflam a essência do vazio e da crueldade.

Na sua ingenuidade profissional dourada por suas assinaturas em matérias de grande impacto sobre a chamada “opinião pública”, os jornalistas, que pensaram estar “fazendo história”, esqueceram que são uma mercadoria como outra qualquer. Que, na verdade, não vendem seu trabalho aos donos dos jornais, mas sim sua força de trabalho para produzir valor de troca a fim de valorizar o valor.

Sua força de trabalho é o valor de uso dos donos dos jornais na associação com outros capitalistas do setor de medicamentos, armamentos, agronegócios e outras áreas da produção global capitalista. Alguns acreditaram que tinham uma condição “intelectual” especial por serem jornalistas. Esqueceram que são trabalhares como outros quaisquer.

Participaram e participam sem querer de uma corrupção silenciosa – a grande exploração capitalista – na qual gravam sua imagem e seus nomes com a marca da honestidade por fazerem o que acreditam ser um trabalho honesto e digno na denúncia contra as injustiças e os desmandos capitalistas. Depois são descartados como peças substituíveis, que depois serão substituídas por outras e outras – e assim por diante na sucessão do tempo da valorização do valor.

Por: Floriano Brasil, jornalista e especialista em análise de políticas públicas.

Por Floriano Brasil - As demissões dessa semana nas redações dos jornais O GLOBO e EXTRA expõem a dupla face de um setor específico dos trabalhadores no sistema capitalista, que é a dos jornalistas em grandes meios de comunicação. Demissões que ocorrem num momento de caras emoções, como se não bastassem as agruras da pandemia. Feliz Natal, leitores!