E depois, Maria Casadevall?

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Em 2016, a Revista AzMina teve uma ideia tão brilhante quanto o falido plano de ação da esquerda nas últimas décadas: criar uma campanha que promovesse a exposição do corpo feminino. Segundo suas criadoras, a missão do #MamilosLivres era questionar a censura e o pudor, mas o que o projeto realmente fez foi atrair um bando de predadores para uma coletiva satisfação sexual mediante a imagem de mulheres e meninas inocentes.

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Não demorou muito para que o #MamilosLivres fosse aprovado e, claro, incentivado por machos que esperam ansiosamente o descuido de mulheres alienadas pelos hypes liberais que a internet cria. Aliás, não é sintomático que campanhas movidas pela exposição dos corpos femininos ganhem tão rápido a grande mídia enquanto pautas decisivas para a vida das mulheres, dos negros e dos pobres continuem cobertas por esse amontoado de inutilidades?

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Enquanto vivermos numa sociedade regida pelo patriarcado, a nudez pública de uma mulher jamais será vista como algo além de objetificante, para não dizer potencialmente perigoso. E embora a hipersexualização dos corpos femininos seja realmente uma injustiça, não podemos ignorar a realidade e pautar um movimento tão sério como o feminismo em nossas vontades, sentimentos e achismos.

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Essa situação é a amostra perfeita do campo guerreado pela expectativa versus realidade. De um lado, temos uma mulher branca, rica e estudada, que insiste em vender uma liberdade ilusória para milhares de meninas inquietas, porém inocentes – assim como você certamente foi há dez anos atrás. Do outro, as matérias sangrentas que estampam diariamente os veículos de comunicação, recheados de notícias sobre mais um assédio, mais um estupro, mais um feminicídio. Talvez porque a liberdade de Maria Casadevall ainda não chegou na Brasilândia.

Enquanto a maternidade for imposta, a sociedade regida pelo capitalismo, o aborto criminalizado e a heterossexualidade continuar como a tradição mais antiga e compulsória de nossas vidas, nenhuma mulher é livre. Atitudes como essa não dialogam com a moça periférica que volta de ônibus cercada dos três filhos após 12 horas de trabalho. E se não conversa com a classe trabalhadora, por que o assunto é tão importante assim?

Não compre essa ilusão delirante de que atitudes irresponsáveis como a de Maria Casadevall são alguma prova de empoderamento. Como mostrar os seios desafia o patriarcado? O sistema sempre se aproveitou da inocência das mulheres e exposição de seus corpos para o próprio prazer e, principalmente, manter a dominação masculina. A indústria pornográfica é um exemplo disso.

Longe de mim cercear a liberdade de expressão de mulheres, mas, como mulher, lésbica, ativista pela emancipação feminina e fiel ao raciocínio de que absolutamente tudo é político, ainda me pergunto…. E depois dos peitos, Maria Casadevall? O que você vai fazer?

Por Júlia Cabral.