O Guerreiro pelo Brasil: contra a reificação da teoria crítica na questão nacional

Precisamos urgentemente demonstrar que o internacionalismo da classe trabalhadora está ancorado no seu patriotismo anti-imperialista. Precismos desreificar a teoria crítica mostrando a centralidade da questão nacional.
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Sobre a “polêmica” em torno da questão do PCB x PTB suscitada na ocasião da comemoração da data em que o maior líder dos Trabalhadores do Brasil que deixou a vida para entrar na história, gostaria de colaborar com o seguinte argumento.

Acho que a história de Ignácio Rangel é bastante significativa. Militou na ANL e no PCB, mas rompeu com eles ainda nos anos 40 ao ver que Getúlio não só executou o programa econômico da ANL, como o fez muito melhor. Será assessor econômico do Getúlio nos anos 50, capitaneando os projetos da Petrobras e da Eletrobras. Não só fomos aliados e rivais em várias ocasiões: PCB e PTB partilham quadros. Nem vou citar o caso do próprio Prestes.

Não só PCB e PTB mantiveram essa relação pendular na construção política, mas também na teoria. Não podemos esquecer da polêmica Jacob Gorender x Guerreiro Ramos e seus reflexos no ISEB.

Gorender acusava Guerreiro de ecletismo epistemológico, em bases parecidas com as quais hoje em dia critica-se Bourdieu. Mas, Guerreirão não só tinha a categoria da totalidade como central na sua teoria, como a fez em bases muito superiores aos demais lukacsianos brasileiros que esvaziavam a questão nacional reificando a teoria revolucionária. A mais patente expressão dessa reificação é o insosso debate da “via prussiana brasileira” que vai contaminar toda a teoria crítica do Brasil. Guerreiro era muito mais leninista que a maioria dos intelectuais do PCB da época e entendeu que uma determinada conjuntura não só deve ser examinada em singularidade histórica, como geográfica também. Entender as diferenças da estrutura agro exportadora brasileira, que pouco lembra a chinesa ou a russa, é o mais importante para se pensar uma teoria revolucionária que corresponda ao Brasil. É muito similar a ruptura que Lenin promove contra Kautsky e que Mao e Deng Xiaoping promoveram contra o PCURSS.

A “crítica da crítica crítica” de Guerreiro direcionada contra a reificação da questão nacional pelo PCB vai reverberar em toda a esquerda brasileira. A POLOP e em algum sentido Marighella seguiram um caminho similar, mostrando o vazio da teoria crítica oriunda do PCB na medida em que reificava a questão nacional. Internacionalmente, são muito famosas as críticas romena, Juche e de Tito sobre a mesma questão. No final de sua vida, Lukács também se ligou disso. Nesse mesmo sentido, podemos citar o famoso discurso de Che Guevara na Argélia, no qual o revolucionário critica os termos desiguais de intercâmbio no interior do bloco socialista.

Precisamos urgentemente demonstrar que o internacionalismo da classe trabalhadora está ancorado no seu patriotismo anti-imperialista. Precisamos desreificar a teoria crítica mostrando a centralidade da questão nacional.