JONES MANOEL: Idealismo, negação da práxis e a importância de Engels

JONES MANOEL: Idealismo, negação da práxis e a importância de Engels
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Um discurso muito presente na universidade e certo marxismo, é a ideia de “retorno à Marx”. Essa noção tem como fundamento a ideia que todos, inclusive Engels, deturparam a obra de Marx e que a resolução dos nossos problemas passa por uma leitura correta, nova, renovada, da obra marxiana. Quem usa essa tese, via de regra, usa como argumento que Lenin, Rosa, Gramsci e afins nunca leram a Ideologia Alemã, Manuscritos Econômicos e filosóficos, Grundrisse etc. Esse argumento, contudo, tem algumas lacunas.

– Figuras como Lênin tiveram acesso a um estudo sistemático das cartas de Marx e Engels e os documentos da Primeira Internacional. Hoje em dia praticamente ninguém mais estuda esses documentos. Nas cartas de Marx e Engels, por exemplo, é possível aprender uma rica teoria da questão nacional (infinitamente melhor que o niilismo dos “os operários não têm pátria”), questão militar, articulação entre lutas imediatas e estratégia revolucionária, política externa e diplomacia, organização política.

– Lenin e tantos outros, através desses documentos, puderam apreender o materialismo histórico em estado prático-efetivo. Ainda citando Lênin como exemplo, era impossível ele cair em niilismo nacional conhecendo tão bem as posições de Marx e Engels sobre a Irlanda e Polônia. Eu, por exemplo, comecei a pensar a questão nacional e militar na periferia do capitalismo lendo cartas de Engels.

– Quem lê essas cartas também sabe que Marx e Engels trabalhavam em plena concordância. Livros polêmicos de Engels, como A origem da família… e o Anti-Duhring foram escritos a partir de diálogos com Marx. Marx não precisava concordar, autorizar, para Engels publicar. Mas mesmo assim, nas cartas, é possível ver Marx concordando plenamente com a produção de Engels.

– Na história do movimento operário, da Alemanha até a China passando pela Rússia e Vietnã, escritos de Engels foram a base de formação de milhões de comunistas. Não só comunistas, mas comunistas que tomaram o poder, fizeram a Revolução. Do socialismo utópico ao socialismo científico, ou as reflexões de Engels sobre o Estado em A origem da Família…, são ótimos. Não tem nada de mecanismo, positivismo etc. Engels nunca foi tosco. Ele era didático e com um sentido de prática política nos seus escritos que irrita muitas críticos críticos e puros.

– O desprezo a Engels, na real, é uma expressão da negação prática da nossa história. Como todos os líderes do século XX tinham Engels na mais alta conta, para expurgar Fidel, Mao, Che, Sankara, Kim Il-sung e afins, é necessário demonizar Engels.

– Deve ser uma delícia se afirmar marxista e negar todas as experiências práticas dos trabalhadores de exercício do poder ou só reivindicar, num século com mais de 40 revoluções, os 7 primeiros anos da Revolução Russa. É a eterna espera, como diria Trotski, do bom Deus colocar nas suas mãos o Estado Operário perfeito.

– Também irrita, destaco novamente, o caráter didático e popular das exposições de Engels. A linguagem do parceiro de Marx sempre foi um exemplo para líderes como Fidel e Lênin. Em breve vou escrever em detalhes uma reflexão a essa crítica fácil, abstrata e pequeno-burguesa aos manuais e outras formas de divulgação do marxismo.

– Ano que vem, meu amigo Euclides Vasconcelos e outros camaradas vão lançar um livro com escritos militares de Engels. Recomendo muito a leitura. Acho massa marxista que sabe pronunciar em alemão alienação e estranhamento, porém, mais importante ainda é saber fazer organização popular e a arte da guerra.