O Brasil de João Gilberto

João Gilberto e a utopia social da bossa nova.
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Creio que a morte de João Gilberto encerra um ciclo geracional, de um Brasil que se via como vanguarda, ao mesmo tempo em que demonstra a necessidade de o país estabelecer novo pacto, que o faça capaz de se encontrar com seu destino, isto é, a vida e a morte de João Gilberto se traduzem em perspectivas estéticas e políticas complementares.

58% da população condena as “trapaças” do juiz Sérgio Moro, mas se nega a conviver com o “rouba, mas faz”, que caracterizou os anos do PT no poder.

É disso que se trata, de o Brasil, como a “mulher que prepara outra pessoa”, parir tempo em que fazer política coincida com os desafios de realizar justiça social e de a conciliar com democracia e probidade.

Assim, a vida de João Gilberto demonstra o quão alto pode aspirar o povo brasileiro, em que o homem comum pode, com esforço, trabalho e dedicação, mas com fomento estatal, construir sua identidade no mundo.

Mundo que deve ter no Brasil inspiração para se adaptar às exigências de diversidade próprias ao multiculturalismo, mas também de verificar que as dificuldades desse povo são a chave para um mundo mais solidário e sustentável, de um povo que teve que aprender a progredir apesar da adversidade, seja a decorrente da pobreza seja a da impossibilidade de o Estado lhe oferecer assistência social.

Essa debilidade do Estado não propiciou apenas falta de projeto nacional, mas fomentou divisões na sociedade e intolerância ao mesmo tempo em que violência e sectarismo se sobrepuseram à ordem e à legalidade.

Se a vida de João Gilberto representou ruptura com padrões estéticos, que sua morte represente novo projeto político para o país, no qual diversidade cultural, futuro melhor para todos e patriotismo sejam contemplados em nossa democracia constitucional.

Por Ciro Gomes