Pentecostalismo e a inadequada interpretação weberiana

Enquadrar o fenômeno pentecostal brasileiro no avanço de algum "liberalismo popular" é o mesmo que tentar encaixar fenômenos latino-americanos na fôrma explicativa e no desenho do desenvolvimento das sociedades ocidentais, com as quais elas tem pouco ou nada a ver.
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A tese weberiana de que o protestantismo favoreceria a emergência do capitalismo diz respeito às religiosidades reformadas e a determinado contexto específico: o da criação de certa subjetividade moderna.

Mas depois ela foi vulgarizada e propagandeada a torto e direito, na crença de que, se um povo abandonasse o cristianismo tradicional, daria o primeiro passo para a entrada na esfera do iluminismo e das relações econômicas contemporâneas.

Durante décadas alguns sociólogos e economistas defenderam que a entrada do protestantismo no Brasil seria benéfica para o nosso capitalismo. Parte das elites da República Velha, inclusive, fizeram de tudo para dar boas vindas a missionários protestantes. Ainda hoje há quem continue a ver no trânsito religioso vivenciado no país o nascimento de alguma mentalidade liberal no seio do povão.

Bom, as seitas evangélicas, e particularmente as pentecostais, não são o protestantismo histórico. Elas se fundamentam em crenças e geram subjetividades bastante diferentes do ascetismo do trabalho e da racionalidade instrumental impulsionada pela Reforma.

O pentecostalismo brazuca possui tendências e elementos que não estão presentes também entre os norte-americanos. Não é uma religiosidade importada, e seu crescimento explosivo jamais poderia ser explicado por alguma conspiração.

Essas seitas, em geral, tem uma teologia bastante fluida, adaptáveis a fenômenos de possessão e a uma mentalidade explicitamente mágica, que sacraliza a existência na forma de uma guerra espiritual perene. A subjetividade que essas crenças e práticas religiosas geram podem ser tudo, menos iluministas ou liberais.

Enquadrar o fenômeno pentecostal brasileiro no avanço de algum “liberalismo popular” é o mesmo que tentar encaixar fenômenos latino-americanos na fôrma explicativa e no desenho do desenvolvimento das sociedades ocidentais, com as quais elas tem pouco ou nada a ver.

O mesmo vale para as teses recorrentes sobre o “empreendedorismo popular”. São ideias que estão no mesmo patamar e dialogam com a “nova classe média” dos petistas e que encaram como uma grande novidade algo que é mais velho do que andar para frente: pobre se vira de alguma forma, e não tem tendência quase nenhuma à poupança – algo que, por si só, já coloca abaixo uma leitura weberiana simplória do que vem acontecendo atualmente no país.

Por: André Luiz Dos Reis.