Sobre ‘O Som e o Sentido’ de José Miguel Wisnik

Zé Miguel traça o percurso da música brilhantemente do modal ao tonal, e relaciona -- nas pegadas implícitas de Derrida, que comparece mais nas entrelinhas que em citações diretas -- todo percurso da música clássica tonal com a ascensão sublimatória e o caminho linear do progresso, não por caso denominado "música das alturas", até começar a se despedaçar nas experiências que culminam no serialismo e minimalismo.
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Terminei ontem de ler maravilhado o livro “O Som e o Sentido”, de José Miguel Wisnik.

Uma vez um orientando veio me dizer que queria pesquisar sobre as “relações entre música e cultura, e como as coisas interagem”, e eu brinquei com ele que isso era um tema para mais que uma vida, não para um Mestrado. E não é que enviei recentemente para ele um zap dizendo: “atenção, este era o livro que você estava procurando, lamento não ter lido antes para ter te indicado”.

Zé Miguel traça o percurso da música brilhantemente do modal ao tonal, e relaciona — nas pegadas implícitas de Derrida, que comparece mais nas entrelinhas que em citações diretas — todo percurso da música clássica tonal com a ascensão sublimatória e o caminho linear do progresso, não por caso denominado “música das alturas”, até começar a se despedaçar nas experiências que culminam no serialismo e minimalismo.

No final, embora de modo bem resumido (fiquei com gostinho de “quero mais”), ele investiga como a música “de massas” (jazz, rock, etc) recupera o modalismo recalcado pelo modernismo, numa operação que poderíamos (a palavra é minha) chamar de descolonização musical. A tendência para o pulso, voltando a música a flertar com elementos que foram perdidos ao longo do seu desenrolar moderno, é bem sintomática na música pop atual.

Enfim, minha mini-resenha aqui é bem tola diante da grandiosidade do livro. Para quem gosta de música, é indispensável.

Por Moysés Pinto Neto, Doutor em Filosofia pela PUC-RS e professor na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA).