A desindustrialização do Brasil

Em outubro de 2015 escrevi um longo artigo chamado “Desindustrialização: pode o Brasil sobreviver sem um expressivo setor industrial?”. Integrava a série de textos trimestrais que eu produzi, durante algum tempo, para a Fundação João Mangabeira sobre os grandes temas nacionais. A ideia era plantar um acúmulo de conhecimentos e formulações que pudesse se desdobrar, adiante, em um programa de governo. A série foi interrompida no sexto ou sétimo número, quando um político reconhecidamente corrupto assumiu a presidência da Fundação.
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Em outubro de 2015 escrevi um longo artigo chamado “Desindustrialização: pode o Brasil sobreviver sem um expressivo setor industrial?”. Integrava a série de textos trimestrais que eu produzi, durante algum tempo, para a Fundação João Mangabeira sobre os grandes temas nacionais. A ideia era plantar um acúmulo de conhecimentos e formulações que pudesse se desdobrar, adiante, em um programa de governo. A série foi interrompida no sexto ou sétimo número, quando um político reconhecidamente corrupto assumiu a presidência da Fundação.

Há muitos anos este é um debate fundamental, que agora ganha contornos dramáticos. Perdendo a indústria automotiva, estamos retornando ao período anterior ao Plano de Metas, de Juscelino Kubitschek.

Para os economistas liberais, a desindustrialização é quase indiferente, pois o importante é que o país produza de acordo com os “sinais de mercado”.

Ou seja, tanto faz produzir bananas ou aviões.

Para entender a barbaridade disso, basta ler o início do meu texto:

“A crise de 1929 desarticulou as economias primário-exportadoras e exigiu mudanças de rumos. Começou então a se formar, entre nós, uma nova economia política do desenvolvimento que ressaltava a importância da indústria. No grande debate de então, pelo menos oito argumentos foram decisivos, todos válidos até hoje:

“1. Na medida em que a renda das sociedades se eleva, aumenta a proporção dessa renda que se destina a consumir bens com maior conteúdo tecnológico e diminui a proporção que se destina a consumir bens primários; por isso, as economias que se especializam nestes últimos estão condenadas a disputar uma parcela decrescente da renda total.

“2. Pelo motivo acima, as importações industriais tendem a aumentar mais rapidamente que as de bens primários; a industrialização é necessária para atender essa demanda crescente e evitar crises nas contas externas.

“3. A indústria tem muito maior capacidade de inventar produtos, criando mercados novos, enquanto os bens primários permanecem sem alterações significativas, continuando a depender da expansão de mercados tradicionais; além disso, é a indústria que agrega valor aos produtos da agricultura e da mineração.

“4. As barreiras à entrada de novos concorrentes são maiores nos setores intensivos em capital e tecnologia do que na produção de bens primários, que por isso ficam mais expostos à competição.

“5. A indústria tem um poder inigualável de irradiar dinamismo para o restante da economia, pois seus efeitos de encadeamento para frente e para trás são muito mais fortes; ela ocupa o topo da cadeia produtiva, demandando insumos de todos os setores e ofertando produtos para todos eles.

“6. As economias de escala estão mais presentes na indústria, por causa do alto grau de complexidade e de complementaridade dos processos produtivos que acontecem nela.

“7. A inovação tecnológica ocorre majoritariamente na indústria de transformação, e a partir dela se difunde para os demais setores.

“8. A oferta de bens industriais se ajusta de forma mais ágil e flexível à demanda, enquanto a oferta de bens primários é muito mais inelástica, de modo que neste último caso os ajustes são feitos, principalmente, via preços; no longo prazo, esses preços tendem a cair.”

O texto completo está neste link. Eu o publiquei em “Ensaios brasileiros”, meu último livro.

Por: Cesar Benjamin.