Armínio Fraga e o discurso cheio de cosmético dos golpistas neoliberais

golpista armínio fraga neoliberal

Foto: Antonio Milena

Nunca um candidato a ministro da Economia se mostrou tão candidato ao cargo para 2023 – mais candidato do que o eventual candidato à presidente da República no governo que imagina (Luciano Huck) – como o economista Armínio Fraga. E já vem com o velho discurso neoliberal preocupado com o “social” como se fosse a grande novidade diante do desastre do ultraliberalismo do atual governo.

A desenvoltura do ministro em seus pronunciamentos públicos justifica-se. Em face dos escombros, qualquer pequena promessa de avanço cheio de amavios parece alvissareira. Entretanto, o mofo do argumento perpassa o discurso de que o problema central do país é o Estado, cujos defeitos e percalços se resumiriam aos gastos com pessoal da máquina pública e a previdência. E que a questão do crescimento e distribuição de renda está no combate aos supostos “privilégios”.

Ou seja, o passado ainda úmido embolorando o cenário com novas tonalidades. As manchas de claro e escuro e o odor exalam a velha camuflagem dos problemas e da confusão entre causas e efeitos. Traz a nuvem da palavra do especialista para embaçar os olhos dos incautos sobre as contradições entre o fenômeno nas suas aparências e a real essência da questão econômica.

Ora, seria ocioso alongar-se muito sobre o cerne do problema, qual seja, o modelo a que o Brasil está submetido. Não se trata só de distribuição de renda, mas da forma como a riqueza nacional é produzida, acumulada e concentrada – e o que fica no território brasileiro e o que é enviado para fora.

A queda tendencial da taxa de lucro ainda existe, e vai longe, pois é inerente ao capitalismo. O desemprego, nessa lógica, se faz necessário para se manter os salários baixos, dentre outras contradições – até o limite da explosão social, claro. Não se trata ainda de somente aumentar o consumo, como fizeram os governos do PT, sem desenvolver as potencialidades criativas da sociedade como um todo, visando a um projeto coletivo.

Não se trata também de perpetuar uma democracia do tipo vaselina, com a distribuição proposta pelo liberalismo político de John Rawls, para quem os ricos podem ficar mais ricos desde que pobres subam um pouco na escala social. Isso tudo, sob o “véu da ignorância” natural como elemento fundador de um suposto contrato social.

Nas contradições inerentes ao sistema capitalista, mais ainda, nos conflitos entre grandes corporações, quem garante uma escala móvel segura indexada a um princípio como esse? O estado mínimo?

Sim, porque, Armínio Fraga foi um dos articuladores mais atuantes do estado mínimo no Brasil, durante a era FHC, tendo sido diretor da área internacional do Banco Central entre 1991 e 1992 e depois presidente da instituição entre 1999 e 2002. A propósito, a leitura do livro “Brasil Delivery”, da economista e professora da Universidade de São Paulo Leda Paulani, denuncia o descalabro da evasão de divisas propiciada pelos mecanismos criados pelo Banco Central da época.

Armínio Fraga tem aparecido nos jornais e dado entrevistas como já se credenciando com seu currículo de especialista. Sem dúvida, está aproveitando o sentimento nostálgico dos iludidos com o Real de FHC e a suposta modernização pós-moderna da desfaçatez do Consenso de Washington.

Aproveita, assim, a janela do obscurantismo atual que nada oferece para o futuro, a não ser um desmonte geral da economia, educação, cultura e diversos outros setores. Suas palavras exalam e confirmam certos odores do velho discurso, conforme se pode verificar pelo que foi publicado por Maria Clara do Prado na página A9 do Valor Econômico, edição desta terça-feira, 14/1/2020. Diz Armínio:

“O Brasil tem um Estado corrompido, gordo e regressivo”. E completa, dizendo não ter havido ênfase na produtividade quando se pensou a relação entre o dinheiro público e propostas, segundo ele, equivocadas de “políticas pseudonacionalistas”. Quem lê e não sabe nada de economia pensa: o sujeito é especialista e já foi do governo, acho que dá para confiar.

Segundo o ex-presidente do Banco Central de FHC, “nossa elite se abraçou com um modelo corrupto e ineficaz de desenvolvimento, tirando proveito do Estado, e nosso sistema político não foi capaz de superar essa realidade.” Repete, assim, a crença de que o nosso problema é o velho e suposto patrimonialismo de herança ibérica dos “donos do poder” de Raymundo Faoro, tese desmontada por Jessé de Souza em suas análises sobre a indigência intelectual de estratos da classe média brasileira.

Ora, a questão, de fato, é sempre quem captura do Estado para fins particularistas e privatistas. Mas, quer se esconder, na verdade, quem exerce a hegemonia para isso, o que o neofascismo da Lava-Jato ajudou a obscurecer.
Armínio Fraga identifica elite com os políticos, mas não com os donos de bancos, corretoras, multinacionais, meios de produção e administradoras de grandes fortunas, como ele mesmo, na condição de presidente da Gávea Investimentos. Em suma, o mesmo discurso que elegeu Jair Bolsonaro, com a ressalva, porém, de críticas à Fiesp, que, segundo ele, esteve alinhada “a ideias que não deram muito certo”.

Quais ideias das Fiesp não deram certo? A do pato amarelo na Avenida Paulista que ajudou a dar o golpe em Dilma Rousseff, em 2016, abrindo a Caixa de Pandora que resultou, com apoio do PSDB e seu candidato Aécio Neves, no desgoverno Temer-Bolsonaro que já dura quatro anos?

Sair da versão mobile