As besteiras da Escola Austríaca

JONES MANOEL As besteiras da Escola Austríaca
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Dois exemplos rápidos sobre as besteiras da Escola Austríaca.

A ideia do “problema do cálculo econômico” no socialismo parte de duas falácias interligadas. A ideia de um equilíbrio perfeito entre oferta/demanda, produção/consumo, no capitalismo. A noção, inclusive, é que não existe problema alocativo no capitalismo. Na prática, eles pensam assim: olhe, quando existe no mercado um sinal de demanda por mais comida, o preço no curto prazo tende a subir, mas no médio prazo, a produção aumenta, o preço se equilibra e se pá, fica até mais barato a longo prazo. O que falta aqui?

Falta tudo. Quem disse que necessariamente é possível aumentar a produção? Quem disse que o custo do aumento de produção vai ser compensado pelo lucro médio? Quem disse que existe terrar virgens ou disponibilidade de aumento de produtividade das terras já usadas? Quem disse que a produção de alimentos não é controlada por monopólios que vão manter o preço propositalmente alto? Etc.

Então, partindo de uma ideia falsa, a-histórica, mentirosa, do que é a dinâmica do mercado capitalista, eles imaginam o socialismo como uma economia COM A MESMA DINÂMICA do capitalismo, só que juridicamente, com os meios de produção estatizados. Esse é o “xis” da questão.

Como a economia para eles não são as relações reais de produção e reprodução da vida, mas um modelo perfeito, idealmente construído, que quando se tira um dos elementos desse modelo – a propriedade privada -, é claro que o modelo entra em parafuso. Mas isso é problema do modelo. O socialismo não é uma economia burguesa com os meios de produção juridicamente estatizados. O negócio é tão tosco que no modelo de “crítica” ao socialismo, desconsideram dados básicos do capitalismo, como o papel dos monopólios e oligopólios na formação de preços.

O segundo exemplo, esse clássico, é a lógica formalista, idealista e a-histórica de fazer “análise econômica”. Por exemplo, na cabeça de um tabacudo da “Escola Austríaca” baixar o valor da força de trabalho vai, necessariamente, aumentar o investimento, produção, crescimento e emprego. A premissa é que existe sempre, a todo momento, um valente e inovador empreendedor que deseja investir, mas não consegue por causa da burocracia, custo da força de trabalho, insegurança jurídica etc. Melhorando o ambiente de negócios, o investimento vem sempre. Baixando o custo da força de trabalho, um dos principais “fatores de produção”, o investimento é garantido. A lógica primária é: baixar custo de investimento = crescimento do investimento = crescimento econômico = prosperidade geral. No mundo real, porém, a coisa é diferente.

Nada, absolutamente nada, garante que uma redução do valor da força de trabalho tenha como consequência necessária aumento do investimento privado e do emprego. E isso por uma série infinita de motivos a serem compreendidos e analisados.

Dois exemplos básicos. A redução do valor da força de trabalho pode se transformar em apenas aumento potencial do lucro, sem aumento de investimentos. Ou então o aumento potencial do lucro com redução de custos pode se transformar em maior volume de operações financeiras da empresa ou fusões e aquisições.

Logo, a ideia de reduzir salários e direitos trabalhistas = aumento de investimento = aumento de emprego = posterior aumento de salário; é outro modelo abstrato, formalista, a-histórico, falso e burro, como tudo que a Escola Austríaca fala. É isso.

JONES MANOEL As besteiras da Escola Austríaca