Bolsonaro, o carrasco, quer recusar o seu papel

O presidente Jair Bolsonaro na Agrishow, feira de tecnologia para o campo, em Ribeirão Preto, SP. Foto por Weber Sian/ACidadeon
Jair Bolsonaro na Agrishow, feira de tecnologia para o campo, em Ribeirão Preto, SP. Foto por Weber Sian/ACidadeon
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Hoje (29/4), o “presidente” do Brasil solicitou de maneira informal, mas publicamente e com a costumeira justificativa patriótico-religiosa, uma redução de juros no Banco do Brasil para o setor agrícola.

O presidente Jair Bolsonaro na Agrishow, feira de tecnologia para o campo, em Ribeirão Preto, SP. Foto por Weber Sian/ACidadeon
Jair Bolsonaro na Agrishow, feira de tecnologia para o campo, em Ribeirão Preto, SP. Foto por Weber Sian/ACidadeon

Evidentemente, as típicas reações negativas provenientes dos agentes econômicos e financeiros vieram, alertando o “presidente” sobre o limitadíssimo espaço de manobra que ele ainda tem (ou pensa ter) para se desfazer da imagem de carrasco que inevitavelmente lhe aguarda no futuro próximo.

Ele parece ter compreendido que se elegeu com as mãos atadas pelo mercado financeiro. Não lhe será permitido promover políticas diferentes daquelas conhecidas no tripé macroeconômico que o Consenso de Washington nos impôs nos anos 90: redução de gastos públicos primários, câmbio flutuante e o regime de metas de inflação.

A despeito de uma redução suicida dos investimentos públicos e privados, a despeito do desemprego estrutural crescente, a despeito da desindustrialização, a despeito do sequestro do orçamento público pelos credores financeiros daqui e de fora, a despeito de tudo isso o governo brasileiro não pode sair da regra do arrocho permanente.

Assim vai se assassinando a capacidade produtiva e consumidora do país. O “presidente” parece ter percebido isso, e que o corolário necessário desta situação é que baixar os juros de forma consistente é a única via de saída que lhe restaria para combater um cenário de horror econômico, mas… vivemos num oligopólio financeiro que, para além de dar as cartas da política econômica, ainda se configura como um cartel plenamente autorizado pelo poder público. Ou seja, nem a concorrência interna ao setor bancário lhe pode servir nesta hora.

O “presidente”, assim parece, percebeu que não há saída. A saída seria mudar estruturalmente o modelo, mas isso está fora de questão para o verdadeiro governador da economia, que se chama Paulo Guedes.

Tanto quanto no caso do preço do diesel, agora com o juro para o agricultor o “presidente” quer tirar de sua mão o machado de carrasco que lhe fizeram segurar para ganhar o poder. Mas o machado já é parte do seu corpo, numa metáfora política tenebrosa e cadavérica.

Essa é a verdadeira arma apontada contra tudo e contra todos. Antes figurada com dedos, agora traduzida em estrangulamento e decapitação econômica. Setor após setor, empresa após empresa, pessoa após pessoa.