Brasil X Turquia: Uma análise para além do preconceito

Brasil X Turquia Uma análise para além do preconceito
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Os brasileiros de modo geral tendem a pensar em países como a Turquia como um povo subdesenvolvido e atrasado em relação aos valores civilizatórios (ocidentais) e isso justificaria o porquê de personalidades como o atual presidente do país, Tayyip Erdoğan, ser tão popular no país.

A questão que se mostra evidente é que por muito menos do que aconteceu na Turquia de Erdogan, os brasileiros se entregam a paixões por personalismos que entregaram um desempenho muito inferior ao do presidente turco, basta ver a mediocridade dos últimos governos brasileiros e a voracidade da polarização que lastreia a incompetência.

Um país não pode se candidatar a potência, ou seja, ter um povo de alto nível educacional, soberania política e jurídica, um bom nível de renda per capita, uma baixa desigualdade, um território bonito que enche os olhos de orgulho e etc., sem desenvolver uma complexidade produtiva, pois é isso que agrega valor de fato, riqueza, naquilo que é produzido internamente. E, em uma perspectiva capitalista, a capacidade de criar riqueza torna a vida dos cidadãos de países complexos mais valiosas que a vida dos cidadãos que se dedicam a atividades de baixa sofisticação. Ou seja, sair da mediocridade produtiva e alcançar uma sofisticação econômica é uma tarefa difícil, pois todos os países tendem a concorrer pelas vagas do topo. Sendo assim, ainda há um agravante, pois os países do topo tendem a empurrar para baixo os que estão subindo a escada.

Nessa perspectiva, Brasil e Turquia desde o início desse século estavam subindo as escadas, no entanto, só um desses foi derrubado e o outro, pelo menos até agora, se mantém na corrida. Aqui nosso ápice de sofisticação e renda per capita foi o ano de 2014 e em parte o Brasil, pela potência naturalmente que é, começou a retirar espaço na divisão de riqueza do mundo, principalmente na América Latina. Não à toa, depois disso, nossos líderes se mostraram incompetentes, até porque muitos foram comprados, ao não resistir aos empurrões do Império. A partir de 2014 acontece a Lava-Jato e todo o tecido sofisticado nacional começa a ser internacionalizado (JBS, AMBEV e até mesmo o próprio Itaú), começa a ser destruído para não ser mais dor de cabeça aos concorrentes estrangeiros (Odebrecht, Camargo Corrêa, J&F Holding… ) e outras foram simplesmente entregues, como a EMBRAER e a BR Distribuidora.

Esses são somente alguns exemplos, mas a Lava-Jato afetou pelo menos 50 mil empresas e, já em 2017, tinha forçado a venda de 100 bilhões em ativos, a maior parte comprada pelo estrangeiro. Nesse mesmo período, Erdogan também passou por situações como essa, mas foi um bom jogador, ora se alinhando ao ocidente, ora flertando com Rússia e China  acredito que esse jogo já estourou o prazo de validade) e até foi avisado antecipadamente sobre um golpe de estado que aconteceria em seu país pelo próprio Putin e tratou de resolver o problema logo. Ou seja, na Turquia, a destruição do tecido sofisticado nacional ainda não ocorreu, então eles tiveram certo sucesso até agora e o Brasil, um nítido fracasso. Não adianta os governos passados se gabarem de que fizeram isso ou aquilo, se isso não pode sobreviver à primeira crise devido a suas próprias incompetências em lidar com os ataques do Império.

Mas vamos aos números. Em termos de comparação, o valor industrial per capita em 2003 no Brasil era de 1243 dólares e o da Turquia de 1208 dólares. Em 2018, o valor no Brasil foi para 1175 dólares e na Turquia foi para 2514 dólares. Enquanto em 2018 o Brasil tem um valor industrial per capita inferior ao que tinha em 2003, a Turquia conseguiu dobrar o seu no mesmo período de tempo.

Esse texto não tem a pretensão de defender Erdogan perante os leitores, mas tem a missão de evidenciar o poder de uma diplomacia sábia e reativa. Também tem o propósito de evidenciar a força do nacionalismo econômico enquanto guia das relações produtivas e sua beneficência para o país.

Por Daniel Bispo

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Fonte: https://stat.unido.org/SDG/TUR