Chile: o paraíso dos neoliberais em chamas

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Tudo queima no Chile, com a população desejando um basta às condições insuportáveis de um país em que todos os serviços básicos são controlados por cartéis privados, e que até a aposentadoria foi saqueada por agências financeiras em conluios com bancos.

No país considerado por Paulo Guedes e outros Ministros do Reino, como o sionista do MEC, um paraíso neoliberal, cerca de vinte pessoas já morreram nos protestos, e mais de mil se encontram presas.

Lá não há sistema de saúde ou educação de base públicos. As universidades foram privatizadas e só são acessíveis mediante empréstimos. O sistema de previdência foi saqueado por agências financeiras que agem em conluio com os bancos. A pessoa poupa durante quarenta anos para se aposentar ganhando cinco, seis, em alguns casos dez vezes menos do que quando trabalhava, gerando uma onde de suicídios entre idosos, que perderam a capacidade de se sustentar, a dignidade e a vontade de viver.

A renda per capita do Chile é a maior da América do Sul. Mas o custo de vida é impagável para o cidadão comum, que chega a gastar um quarto de sua renda em transportes. Não à toa, o sistema de metrô da capital foi alvo de depredação generalizada durante essa semana.

O país tem cerca de 18 milhões de habitantes, uma população menor que a da região metropolitana de São Paulo. Os números dos quais costuma se orgulhar se empalidecem diante de uma comparação mais realista. O PIB per capita do Chila é maior do que o brasileiro [16 mil dólares para eles e 9 mil dólares para nós, no nominal]. Mas menor do que a da capital paulista, que é de 22 mil dólares. Um sinal de que essa medição não é sinônimo de bem estar social.

O país vive de exportar bens primários: cobre, vinhos e alguma coisa a mais. Sem complexidade econômica, os empregos são de baixa qualificação, e exigem portanto uma educação precária.

A desigualdade social no Chile, medida pelo índice Gini,é de 0,45. Menor que a do Brasil [0,56], um campeão do continente, mas bastante superior a Argentina [0,39], que tem população duas vezes e meia maior, e não muito diferente daquela da Venezuela [0,44]. Sua desigualdade não foi alterada estruturalmente pelo neoliberalismo, portanto: queda da pobreza, quando medida por critérios apenas de renda, não é sinônimo de superação da fragilidade social.

O presidente atual do país, o liberal Sebastian Piñera, pediu desculpas por sua cegueira diante dos problemas vividos pela população, e anunciou um pacote de medidas que inclui um programa de renda mínima, anulação de aumentos de tarifas de luz elétrica, um seguro para a compara de medicamentos básicos, e mudanças no sistema previdenciários.

É como pedir desculpas pelo projeto neoliberal que tirou o Estado da vida social e econômica, entregando o povo de bandeja para as grandes corporações rentistas e multinacionais.

Exatamente o que Paulo Guedes, que viva no Chile quando da implantação do modelo por Pinochet, quer fazer por aqui.

Por André Luiz Dos Reis