Ciro Gomes na Casa de Papel

Ciro Gomes na Casa de Papel moeda mbl
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Estreou nesse sábado a nova temporada da série, La Casa de Papel, no Netflix. Com um terço da humanidade presa em casa por causa da pandemia do coronavírus, a expectativa é que nessa temporada a série, que é recordista de público da plataforma de streaming, ultrapasse todos os seus já incríveis números de audiência anteriores.

Criada por uma TV espanhola em 2017, a série teve pouca repercussão em seu país de origem. A fama ocorreu após a Netflix ter comprado os direitos de transmissão e feito o lançamento mundial da produção, que ganhou novas temporadas pelo sucesso alcançado.

A história gira em torno de um grupo de assaltantes que organiza um engenhoso plano para roubar a Casa da Moeda da Espanha. Usando macacões vermelhos e máscaras com o rosto de Salvador Dalí – que foram logo incorporados ao universo pop pela enorme repercussão da série –, os criminosos invadem o local, abrem o cofre, mas não conseguem escapar com o dinheiro que encontram, ficando presos dentro do prédio com dezenas de reféns.

Na verdade, descobre-se que o fracasso do assalto foi ensaiado e proposital para que os criminosos pudessem permanecer por dias dentro do prédio, ganhando tempo ao negociar com policiais que acreditavam se tratar de um roubo frustrado. Enquanto isso, os assaltantes usavam as impressoras da Casa da Moeda para imprimir uma quantia gigantesca de dinheiro, que era o real objetivo do roubo.

No Brasil, a série também teve grande audiência e repercussão, movimentando discussões na internet e gerando milhares de memes com os mais diversos teores. Inclusive memes políticos, que ganharam novas conotações nesses tempos de pandemia.

Um meme que ficou muito conhecido na campanha eleitoral de 2018 foi o que está na capa deste texto, associando o candidato Ciro Gomes à impressão de dinheiro. Esse em especial me veio à mente tão logo soube da estreia da nova temporada da série que, diferente das demais, foi assistida sob a quarentena que acabou de derrubar os já desgastados pilares que sustentaram o neoliberalismo nas últimas décadas.

A lógica do meme está ligada a uma ideia que foi muito disseminada por militantes liberais após as palestras de Ciro Gomes nas Universidades, que se intensificaram depois do golpe de 2016, ganharem notoriedade nas redes sociais. Como Ciro defendia uma fórmula de inspiração keynesiana, prevendo forte investimento estatal para reorientar a política econômica vigente no Brasil desde os anos 90, e Keynes propunha a expansão monetária como um dos instrumentos de ação do governo para financiar sua política anticíclica, logo, estava mais que demonstrado que Ciro Gomes queria resolver todos os problemas do Brasil imprimindo dinheiro e o distribuindo à população. Q.E.D.

Um “argumento” profundo vindo das profundezas da internet, disseminado com a força das máquinas de propaganda financiadas do exterior e que tiveram papel importante naquela eleição. Uma rápida busca pelos termos “Ciro Gomes” e “impressora” na internet revela a extensão que essa caricatura esdrúxula alcançou nas redes sociais no período.

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O coronavírus acelerou o processo de decomposição do insustentável modelo econômico que inspirou muitos pastores do liberalismo a doutrinar gerações em suas crenças furadas. Com roupagem de ciência, abundaram as novas igrejas em forma de think tanks patrocinados do exterior que, assim como ocorre nas diversas denominações neopentecostais, se dividiam apenas na interpretação dos textos sagrados dos seus profetas de Chicago e Áustria.

Do Orkut à GloboNews, fiéis promoveram ruidosas seções do descarrego para expulsar do Brasil os demônios do ‘marxismo cultural’ e do ‘inflacionismo keynesiano’.

“Estado mínimo!” – gritavam imberbes pastores de seus púlpitos do Youtube. E a Palavra se espalhava pelos quatros ventos levada pelos algoritmos da Internet cuidadosamente projetados para esse santo fim: convencer os incautos da periferia do capitalismo de que a castração de seus Estados nacionais era o sacrifício supremo para agradar o Deus-Mercado.

Tirem os brincos de ouro de suas mulheres, de seus filhos e de suas filhas e tragam-nos a mim”.  Todos tiraram os seus brincos de ouro e os levaram a Arão.  Ele os recebeu e os fundiu, transformando tudo num ídolo, que modelou com uma ferramenta própria, dando-lhe a forma de um bezerro. Então disseram: “Eis aí os seus deuses, ó Israel, que tiraram vocês do Egito!” (Êx. 32: 2-4)

Diante de tanta blasfêmia, o velho barbudo lançou a tábua das leis ao chão e a ira divina veio em forma de um vírus para mostrar o que ocorre com os adoradores do bezerro de ouro.

“Quando Moisés aproximou-se do acampamento e viu o bezerro e as danças, irou-se e jogou as tábuas no chão, ao pé do monte, quebrando-as. Pegou o bezerro que eles tinham feito e o destruiu no fogo; depois de moê-lo até virar pó, espalhou-o na água e fez com que os israelitas a bebessem.” (Êx. 32: 19-20)

E foi daí que el Professor e sua gangue tiraram a ideia para o próximo assalto, que segue na atual temporada da Casa de Papel: resolveram roubar a reserva de ouro da Espanha, derretendo as barras e transformando-as em pequenas pelotas para serem escoadas por dutos misturados à água.

Em tempos em que imprimir dinheiro já é solução defendida até pelos ideólogos/comentaristas da Globo, Ciro Gomes precisa reciclar os velhos memes em sua próxima campanha, mas, diferente de 2018, assumir o conteúdo. Ao invés do moderado projeto de esgotar o déficit fiscal em 24 meses, o que mostra o tamanho da canalhice dos ‘memes da impressora’, Ciro deve tirar seu macacão vermelho do armário e gritar para quem quiser ouvir: “¡Chiquipum! ¡Chiquipum! ¡Chiquipum!”