A Coreia do Sul de Jurassic Park ao Oscar de Parasita

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Por Douglas Duarte – Na esteira da vitória acachapante de “Parasita”, muita gente tem falado de como a política pública audiovisual sul-coreana foi importante pro êxito do filme. É verdade e vale detalhar essa história.

Tudo começou em 1994, quando “Jurassic Park” tomou de assalto todos os cinemas do país. Por. Três. Meses.

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É isso. Durante três meses tudo que os coreanos puderam ver projetado enquanto comiam pipoca eram os dinossauros do Spielberg. Nesse ano, a participação dos filmes coreanos foi de 2,1%.

Lá (como cá) os cineastas (que existiam) espernearam. Só que lá (diferente de cá) o governo deu ouvidos. E foi fazer contas pra ver o impacto.

Descobriram que muito do que ganhavam vendendo carros mequetrefes pro mundo, perdiam em não tendo uma indústria audiovisual decente. Ficou famoso o número: pra balança comercial, os três meses assistindo a Jurassic Park em loop anularam a venda de um milhão e meio de Hyundais.

Os dirigentes do país podiam até desprezar os cineastas locais, mas gostavam de dinheiro e queriam botar a economia pra funcionar. E por isso deram início a uma política taluda de incentivos e (tremei, liberaletes de jardim) COTAS.

Criou um fundo setorial (que temos, mas está parado) e uma lei de audiovisual que regulava tudo (isso não temos) e batizou o programa de “Aprendendo com Hollywood”.

A cota de filmes nacionais nos cinemas passou de 30 para 73 dias por ano. Na TV surgiram diversas regras, mas o caroço: nenhum país podia ter mais que 60% da programação e obras coreanas deveriam ocupar um percentual que podia chegar a 80% da programação.

Incentivaram infraestrutura, se fosse feita no país. Emprestaram dinheiro para produtoras – mais barato ainda se fossem pequenas e médias. Bancaram a participação em festivais, as filmagens em outros territórios, a exportação das obras pelo mundo, as dublagens em outras línguas e deram bolsas pra que coreanos “aprendessem” a filmar, a produzir, a regular audiovisual em dezenas de países do mundo.

O anãozinho que tinha 2,1% da participação do próprio mercado tem hoje em média 57,6%. Repetindo: CINQUENTA E SETE VIRGULA SEIS PORCENTO. Estamos estacionados em 12% tem um tempo, e isso só graças às mutretas dos filmes do Bispo Macedo. Esfregue isso na cara do próximo paspalho que te disser que cotas não funcionam.

Ter uma política pública forte de audiovisual é bom porque dá dinheiro, mas também é importante porque cria diversidade nas narrativas. Só pra falar de Oscar, nossos candidatos passados tinham na família barões do cinema, dos bancos, do café e, esse ano, da construção civil.

Bong Joon-ho? Filho de professor e de uma dona de casa.

Por Douglas Duarte