A crise na saúde também é culpa de quem destruiu nossa indústria

Desindustrialização brasileira e crise na saúde
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Todos aqueles que promoveram a desindustrialização brasileira achando que financismo e matéria-prima bruta seriam capazes de nos bancar são hoje responsáveis diretos pelo colapso do sistema da saúde e pela nossa incapacidade de reagir à pandemia.

Não temos respiradores suficientes nem aptidão para fabricá-los a tempo de evitar mais mortes. Não temos a química necessária para fazer testes massificados e seguros. Não temos estrutura informacional para unificarmos o sistema de saúde em um só protocolo. Não temos sequer materiais básicos de proteção para grande parte dos profissionais do socorro, que ora se sacrificam e muitas vezes são acometidos pela doença e obrigados a desfalcarem seus postos.

Temos, ao invés, milhares de zonas cegas que sofrem com o mais alto índice de contágio do planeta e uma escala de subnotificação que talvez seja impossível de medir.

A falta de infraestrutura de saneamento que impediria o espraiamento não apenas de Covid-19, mas de outros tipos de influenza, dengue, malária e até sarampo resulta diretamente da opção dos governos neoliberais pelo mero extrativismo de commodities sem investimento proporcional em indústria de transformação.

Os lucros do minério bruto que vendemos para a China jamais pagariam a maquinaria necessária para tirar metade da nossa população do século XVIII, e os governos supostamente progressistas de FHC, Lula e Dilma sabiam disso e no entanto preferiram se agarrar à grana fácil e imediata da demanda emergente.

Agora que esta demanda afunda, o peso desta incompetência e vassalagem cai sobre as costas do povo brasileiro. Cada nova vala aberta pelo vírus serve para lembrar-nos deste erro histórico, e para nos mostrar que um país vasto em tudo como o Brasil não pode prescindir de Projeto Nacional.

Se hoje um terço da população suporta um governo genocida que mantém um teto de gastos para a saúde e uma “secretaria de desestatização e desinvestimento” durante uma pandemia, é porque governos neoliberais optaram pelo espontaneísmo apolítico.

Se nossa cultura é hoje dominada por rastaqueras que sequer entendem a importância estratégica do isolamento social é porque estes neoliberais se amesquinharam no poder e governaram segundo os consensos fabricados em Washington. Vulneraram o povo com quinquilharias, fragmentaram-no com diversionismos importados, abandonaram a questão nacional em prol do individualismo, e por tudo isso se desconstituíram moralmente.

Portanto, e por muito mais, nosso primeiro grande desafio após vencermos a peste (e venceremos!) será devolver o Brasil aos brasileiros, e isto implica necessariamente em demover algumas ilusões cosmopolitas das elites intelectuais, o figurino francófilo de parte da esquerda e a pantomima yankee da direita, e toda razão que supõe ser o Brasil membro orgânico dessa ideia de globo burguesa e ocidental.

Nosso lugar não é a periferia do globo, mas o centro dinâmico da América Latina. Nosso espaço é este, e é por ele que devemos erguer nossas defesas, reconstruir nossa indústria, reorientar nossa cultura e o nosso destino. É por aqui e desde aqui que devemos nos imunizar às pragas imperialistas que há séculos nos corroem.

Por Daniel Magalhães