As matérias divulgadas até aqui pelo The Intercept Brasil e por seus parceiros na investigação jornalística não deixam nenhuma dúvida quanto as inúmeras ilegalidades cometidas por Sérgio Moro e sua total parcialidade na condução da lava-jato.
Condução é o termo correto, já que está evidente que Moro é quem mandava em Deltan Dallagnol e, por consequência, na própria força-tarefa.
A cada vazamento fica mais claro que vamos assistir, mais cedo ou mais tarde, a várias anulações de decisões da lava-jato que, além de Moro e Dallagnol, devem deixar muito enrolados alguns desembargadores do TRF 4 e ministros do STJ e STF.
Porém, mesmo com sentenças anuladas aqui e ali, os estragos propositais (talvez o Intercept deixe isso explícito em algum momento, como na fala do Dallagnol dizendo que “já estava em entendimentos com os americanos”) causados pela lava-jato em nossa economia não vão ser superados tão cedo, se é que um dia serão.
O foco principal da lava-jato foi na Petrobrás e nas maiores empreiteiras brasileiras.
A maior demonstração disso, talvez, esteja no caso dos navios-sonda, onde Eduardo Cunha teria interferido para que a japonesa Mitsui e a sul-coreana Samsung vendessem os equipamentos para Petrobrás.
Mitsui e Samsung, beneficiárias diretas de tal ato de corrupção segundo a própria lava-jato, não sofreram nenhuma punição ou tiveram qualquer dos seus executivos presos.
Basta imaginar o que teriam sofrido com Sérgio Moro se fossem empresas brasileiras.
Quando vemos o peso das grandes empreiteiras na economia brasileira e as obras de grande vulto que realizaram no exterior (é um reducionismo mentiroso da lava-jato colocar o mérito da engenharia nacional como mera consequência de corrupção) dá para medir um pouco o estrago causado.
Aeroportos, portos, hidrelétricas, metrô, grandes obras de irrigação, estradas, etc.
O setor de engenharia e construção do Brasil era dos mais competitivos que tínhamos no disputado cenário internacional.
E dos que mais absorviam mão de obra.
Só nas maiores empreiteiras são mais de 350 mil empregos diretos que acabaram e um número muito maior de empregos indiretos extintos.
Dezenas de bilhões de reais em contratos cancelados no Brasil e no exterior.
Qual país rico e desenvolvido destruiria empresas nacionais desse porte em nome do combate a corrupção? Nenhum!
Puniriam executivos e acionistas responsáveis mas salvariam as empresas e os empregos gerados.
Só olhar como fizeram Alemanha, França e EUA quando, por exemplo, a Thyssen, Alstom ou Halliburton se viram envolvidas em casos de corrupção.
Com a ação da lava-jato voltada para criminalizar todos os contratos vencidos pelas construtoras brasileiras no exterior, em parceria estreita com o Departamento de Justiça dos EUA, nenhum país vai querer contratar empresas brasileiras.
Um grande revés para a engenharia nacional ainda não devidamente avaliado.
E, diante da importância do setor de engenharia e construção para o país, não dá para deixar de perguntar: onde Lula estava com a cabeça quando permitiu o envolvimento da Odebrecht e da OAS na reforma da cozinha do tal sítio de Atibaia ?
Como um líder político dessa envergadura pôde ter tamanha irresponsabilidade?
Foi irresponsável tanto em relação a duas das maiores empresas brasileiras, causando o desemprego de muita gente, como foi inconsequente para com sua própria biografia.
Esse tipo de relação não republicana com grandes agentes econômicos (não adianta a justificativa de que outros governos também mantiveram esse tipo de relacionamento) ajudou muito na narrativa que a lava-jato usou para ganhar simpatia popular com grande incentivo da mídia, especialmente em setores da classe média, historicamente sensíveis a pautas moralistas. Pautas estas defendidas por anos pelo próprio PT.
Graças a esses apoios a lava-jato pôde comprometer setores inteiros da economia nacional sob aplausos de muitos e, não fossem os vazamentos no Intercept, estariam os membros da força-tarefa ainda blindados na zona de conforto para atuar fora da lei.
Agora, com Bolsonaro assinando o tratado de livre comércio entre Mercosul e União Européia depois do desmonte do setor da construção civil, vamos ver não as grandes empresas brasileiras realizando obras na Europa (o que seria muito natural antes da lava-jato), mas empresas europeias ganhando a maioria dos grandes contratos no Brasil e levando divisas daqui para os seus países.
Vamos sofrer por muito tempo ainda as consequências das ações da lava-jato contra a economia brasileira.
Um dia talvez dê para mensurar o tamanho do estrago.