A economia da biodiversidade

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Devastado pela Segunda Guerra Mundial, o Japão iniciou seu processo de reconstrução. Nos anos seguintes, além de recuperar a capacidade produtiva do país em bases tradicionais, já conhecidas, os japoneses começaram a investir pesadamente em uma nova família de técnicas – a microeletrônica –, que ainda engatinhava. Quando essa família amadureceu e reorganizou a produção industrial em todo o mundo, o Japão estava apto a ocupar uma posição central na nova maneira de produzir.

Há poucas décadas a China deu a partida para modernizar sua economia. Durante muito tempo foi conhecida pelas cópias e pelas manufaturas baratas. Mas não ficou nisso. O Estado chinês definiu setores estratégicos, entre os quais várias famílias de técnicas que ainda não existiam de fato, eram apenas promessas. Hoje, trinta anos depois, a China é vanguarda mundial na tecnologia 5G, que começa a reorganizar boa parte da economia-mundo neste início do século XXI.

Os países retardatários que obtêm êxito não percorrem passo a passo os caminhos do passado. Suas estratégias combinam recuperação do atraso e inovação radical.

O Brasil tem muito a fazer no terreno das coisas tradicionais. Mas isso não basta. Que inovação radical poderíamos começar a preparar agora, para nos lançar à frente adiante?

Defendo que nosso diferencial futuro está no que chamei de economia da biodiversidade. Já podemos visualizá-la, com uma forte aplicação das biologias, mas ainda não a desenvolvemos plenamente. É um desafio estratégico, que, entre outras coisas, pressupõe a conservação da megabiodiversidade que existe em nosso território, sem a qual nada poderemos fazer.

Estamos jogando fora esse potencial, em troca de nada. A extração de madeira é uma técnica que tem, digamos, 50 mil anos. A criação de bois data de, mais ou menos, 10 mil anos.

São essas duas atividades que hoje se expandem na Amazônia, com apoio do governo e com a ajuda do fogo, em nome do progresso. Estamos reduzindo a cinzas a maior diversidade biológica do mundo, que ainda sequer conhecemos e cujo potencial ignoramos.

Nosso presidente não dá um pio contra o desmatamento crescente, mas reclama dos dados que mostram esse mesmo desmatamento. Já brigou com o IBGE, com a Fiocruz e, agora, com o Inpe – instituições, entre outras, que concentram a inteligência da sociedade brasileira.

Isso não é uma política nem de direita nem de esquerda. É burrice em estado puro.

Tratei sinteticamente a questão da Amazônia, tentando estimular o debate sobre a economia da biodiversidade, no texto “Amazônia: cuidado, frágil”. Foi o oitavo e último da série de textos que produzi para tentar mapear as grandes questões nacionais da atualidade. A nova direção da Fundação João Mangabeira, ligada ao PSB, interrompeu o trabalho, alegando que “Amazônia não está na pauta política atual”.

A burrice, como se vê, distribui-se democraticamente entre esquerda e direita.

O texto completo sobre Amazônia pode ser lido aqui.

Por Cesar Benjamin