O papel da Embraer no desenvolvimento nacional

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Algo que não é dito por ai é que o Brasil possui um potencial fantástico a ser explorado com o desenvolvimento da aviação regional, segmento que a Embraer é campeã no mundo todo. Por possuir uma extensão continental e uma população concentrada principalmente nas regiões costeiras, a aviação regional tem um papel de integração territorial e cultural que promove uma série de benefícios econômicos e sociais para o país. Algo que já é praticamente consolidado na maioria dos países de primeiro mundo, com a ajuda do Brasil a partir da sua maior empresa de tecnologia (criada e desenvolvida pelo Estado brasileiro), a Embraer.

Na Europa, EUA e Canadá, por exemplo, a quantidade de voos dentro do país é muito maior do que no Brasil justamente porque houve toda uma preocupação com um projeto de país duradouro que conseguisse essa integração, o que, obviamente, passou pelo desenvolvimento da aviação regional a partir de intervenção econômica do Estado. Desse modo, viaja-se muito mais rápido e muito mais barato para todo o país, permitindo assim uma maior quantidade de negócios realizados, menos tempo ocioso (tempo é dinheiro) e, é claro, todo um intercâmbio de informações que possam gerar mais riqueza, tanto do ponto de vista econômico como do cultural.

Só para compararmos, os EUA possuem uma frota de aviões 11 vezes maior que a nossa (490 aviões no Brasil para 5190 nos EUA, nos dados de 2014), sendo que aqui no Brasil temos apenas 105 cidades que conseguem ter serviço aeroportuário e nos EUA temos 390, sendo que a diferença territorial entre ambos os países não chega a 1.3 vezes (sem falar que há desertos nos EUA). Enquanto o brasileiro viaja em média 0,5 vezes por ano, o estadunidense viaja 2,5. Não preciso nem dizer o que isso representa em termos econômicos reais, com a geração de empregos nos mais diversos setores e, principalmente, no de aviação correto?

No Brasil, até há pouco existia um projeto de integração sendo levado a cabo pela Secretaria de Aviação Civil, o Pdar (Programa de Desenvolvimento da Aviação Regional), mas que foi suspenso pela ‘falta de capacidade de investimento do Estado e, principalmente, da Infraero’. Até pouco tempo, essa secretaria contava com status ministerial para a aceleração desse processo, mas hoje foi absorvida pela pasta de Transportes. O responsável por levar à frente esse processo, iniciado no Governo Dilma, em 2012, era Moreira Franco, mais conhecido como o Gato Angorá da Lava Jato.

Com a crise, esse projeto de integração foi praticamente entregue à iniciativa privada, que, por não ter um lucro imediato, muito menos garantido, não investe o montante necessário para que esse projeto tão importante para o país tenha fôlego. As operadoras privadas não querem saber de aeroporto com pouca infraestrutura para receber voos, muito menos quando elas ainda não tem uma quantidade média de voos minimamente ‘lucrativa’. Ou seja, a lógica do mercado por si só é ineficiente aqui.

Falo de tudo isso não só para que olhemos a questão da integração territorial como algo de extrema importância para o desenvolvimento nacional, mas principalmente para que tenhamos em mente o papel da Embraer como catalizador desse processo. A empresa JÁ É campeã mundial no setor de aviação regional. É ali aonde ela ganha a maior parcela dos seus lucros. Ou seja, mesmo que grande parte da sua cadeia produtiva não esteja localizada no Brasil, é aqui que está a sua inteligência e, principalmente, um potencial absurdo de mercado. Não é à toa que os EUA se interessam tanto pela Embraer. Lá está localizado o maior mercado CONSOLIDADO de aviação regional, sem falar é claro do interesse militar com a questão do KC-390.

Se a demanda agregada do setor ainda é pequena no nosso país, o papel do Estado como agente primário na ativação desse processo pode alavancar exponencialmente os ganhos da empresa no médio prazo e, é claro, dar um boom na nossa economia em um período de crescimento irrisório.

Obviamente, a autorização da venda da Embraer pelo Estado brasileiro, desse modo, representa uma visão específica de Brasil. Uma visão curto-prazista, uma visão míope do mercado que não enxerga um palmo a frente o quão grande é esse país e qual é o tamanho do seu potencial, inclusive para o próprio mercado que o renega. Me custa acreditar que o problema se trata apenas de perspectiva econômica. Se trata de uma perspectiva social. Ou a falta dela. Nos perdoe Ozires.

Por Vinicius Costa Martins, jornalista e Secretário de Comunicação do PDT/SP