Green New Deal no Brasil: condições para o debate

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A perspectiva desenvolvimentista contemporânea deve saber lidar, por força de imposição da realidade, com a crise ambiental. Qualquer projeto de país neste século – o que por definição exclui projetos de nova colonização das periferias – terá que considerar uma gestão inteligente do problema. Esta gestão inteligente deve partir de um diagnóstico real e realista, que tenha a coragem de rejeitar ideias utópicas.

Não é hora de manifestar ingenuidades, pois a seriedade da questão exige negar duas visões que tendem para os polos.

Uma delas é o negacionismo grosseiro, que despreza as evidências empíricas e os estudos científicos para sugerir o cenário “business as usual” (que jamais deveria ter seduzido ninguém em países periféricos como o Brasil, dado que manter tudo como está significa manter o Brasil na subalternidade, na minoridade econômica e política internacional, o que se traduz em manter nossa miséria social). O negacionismo, portanto, é reacionário não por se contrapor à estética política que vem dos centros políticos mundiais. Ele é reacionário exatamente porque faz o trabalho sujo de manter nossa estrutura produtiva colonial e, com ela, miséria e desigualdade.

A outra visão é aquela que propõe um retorno idílico às origens naturais, elogiando o modo de vida pré-industrial e propondo uma substituição completa do modelo socioeconômico por uma aventura naturalista cooperativa e nativista. Esta perspectiva é também reacionária, embora esteja francamente em acordo com a estética política que vem dos centros políticos mundiais. Ela é reacionária porque sugere a países como o Brasil o não desenvolvimento, a não apropriação do Brasil e suas potencialidades pelos brasileiros. E, portanto, também acaba por permitir que o Brasil mantenha sua estrutura produtiva colonial intacta, e com ela, miséria e desigualdade.

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Alexandria Ocasio-Cortez, deputada do Partido Democrata, que defende um Green New Deal para os EUA

A perspectiva desenvolvimentista contemporânea deve saber analisar a questão ambiental dentro de um marco estruturalista, que perceba a divisão internacional do trabalho e os interesses estrangeiros que residem nos discursos que, afinal, chegam a um só lugar por caminhos opostos. É preciso debater a hipótese de um “green new deal”, mas sob um marco conceitual que reserve ao Brasil a decisão política sobre como gerir seu patrimônio ambiental.

É perfeitamente cabível manter princípios como o respeito a comunidades originárias e tradicionais num “green new deal” brasileiro. Assim como é cabível manter ativa a potencialidade agrícola do país. A condição para isto é a ousadia de se pensar um projeto de desenvolvimento que descreva um caminho próprio. A autonomia produtiva de um país periférico de industrialização tardia e incompleta, sob a força de uma crise ambiental desta monta, deveria levar obrigatoriamente a pensar em uma “neoindústria”.

Pois sem indústria, não haverá desenvolvimento. Mas sendo uma indústria fechada às condicionantes ambientais, será uma indústria atrasada com pouca chance de povoar o panorama econômico nacional com a sofisticação das chamadas Universidades Produtivas.

Reflexões como esta, eu tentei trazer na entrevista que fiz com a Oficial de Assuntos Econômicos da CEPAL Camila Gramkow na Revolução Industrial Brasileira. Assista a entrevista na íntegra: