GUSTAVO CASTAÑON: O que é neoliberalismo?

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Como todo termo que nomeia alguma ideia que é um rotundo fracasso, ‘neoliberalismo’ é um nome rejeitado. É comum quando o usamos, que algum vigarista deboche de seu uso. Na prática, a fórmula mais eficiente de identificar um neoliberal é que ele diz que neoliberalismo não existe. Na teoria, há critérios melhores.

Exatamente como um comunista nega que já tenha existido comunismo no mundo, um neoliberal nega que já tenha havido neoliberalismo. Isso porque ambos são casos extremos que não são possíveis na realidade. Agora, evidentemente, podemos chamar de neoliberal toda política que caminha em direção a essa distopia se distanciando mesmo do liberalismo clássico. E julgá-la por seus efeitos.

Como o nome já indica, o neoliberalismo, termo que estava na moda nos anos 80, pretende ser uma atualização do liberalismo econômico clássico, de Smith e Ricardo. Quando eu fiz economia, atendia pelo nome de “monetarismo”.

Ele defende uma radicalização do “laissez-faire” (tradução livre: livre fazer), ou seja, da liberdade de empreender, livrando a iniciativa privada das amarras regulatórias defendidas pelo liberalismo clássico para impedir os oligopólios e monopólios garantindo a competição e também das amarras trabalhistas criadas pelas social-democracias para impedir que a vida do trabalhador fosse uma escravidão e infelicidade sem limites.

No principal, propõe derrubada das regulações financeiras, jurídicas e trabalhistas do mercado; privatização generalizada de todas as empresas e atividades do Estado (inclusive saúde, educação, previdência e Forças Armadas) com exceção do judiciário e polícia; austeridade fiscal, que na prática significa que eles querem impedir o Estado de investir e de emitir para emprestar, condenando a atividade de crédito e mesmo de emissão de moeda (através da alavancagem) aos grandes bancos; e, é claro, abertura indiscriminada de mercados para a festa das corporações internacionais.

Esse conjunto de tentativas de assassinato de economias nacionais periféricas ganhou o apelido nos anos 90 de “Consenso de Washington”, pois era o espírito do conjunto de recomendações feitas aos países subdesenvolvidos pelo FMI, Banco Mundial e o Tesouro Norte-Americano, uma espécie de cartilha que deveria ser aprofundada pelos países que começavam a entrar em colapso pela armadilha da dívida criada pelo choque de juros altos dos EUA. Como viciados, se tornavam dependentes de mais drogas do FMI (um punhado de dólares) para sobreviver ao colapso de suas moedas nacionais causadas pelo… neoliberalismo.

Assim como um dia Smith, funcionário da Companhia das Índias Ocidentais, primeira corporação da história do mundo, escreveu “A Riqueza das Nações” sob encomenda de seus patrões para justificar a abertura de mercados pelo mundo para eles, o neoliberalismo foi encomendado a Hayek e financiado com Friedman para o novo ciclo do seu verdadeiro nome, que hoje, por causa dele, não pode mais ser pronunciado: COLONIALISMO.