Humilhação e ingenuidade: EUA recusam Brasil na OCDE

O governo dos Estados Unidos acaba de recusar o pedido do Brasil para entrar na OCDE. Quando Trump prometeu a Bolsonaro, em pleno Salão Oval da Casa Branca
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O governo dos Estados Unidos acaba de recusar o pedido do Brasil para entrar na OCDE.

Quando Trump prometeu a Bolsonaro, em pleno Salão Oval da Casa Branca, que iria apoiar a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), Bolsonaro se comprometeu a, em troca, abrir mão do tratamento especial a que o Brasil tinha direito na Organização Mundial do Comércio (OMC).

O Tratamento Especial e Diferenciado na OMC permite que países periféricos se beneficiem de vantagens comerciais contra os países mais desenvolvidos. É uma forma consagrada internacionalmente de balancear o desequilíbrio gerado pelo poder comercial dos países avançados, que costuma operar como um bloqueio ao desenvolvimento dos países mais atrasados.

A OCDE, por sua vez, é considerada um “clube de países ricos”. Os promotores da entrada do Brasil no grupo entendem que o país receberia um bônus de confiança dos investidores dos países ricos, proporcionando um aumento de investimentos na nossa economia.

Isso é notoriamente falso, visto que o Brasil já recebe muito mais investimento estrangeiro do que uma série de países da OCDE e isso não gera, por si só, desenvolvimento algum.

Em julho, o Secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, veio à São Paulo e ludibriou nosso governo, reiterando o apoio dos EUA. Isso ocorreu pouco mais de três meses depois de o Itamaraty lançar uma nota oficial anunciando que o Brasil estava, definitivamente, abrindo mão do tratamento especial na OMC.

Mas não parou por aí. O governo de Jair Bolsonaro entregou a Base de Alcântara, no Maranhão, aos americanos. Entregou também, a Embraer para a Boeing, o que já seria um escândalo pelo simples fato da entrega, não fosse piorado ainda mais pelo vazamento de um relatório da Força Aérea brasileira entendendo que este ato estava salvando a Boeing de seus concorrentes sem dar nada em troca para o Brasil.

Trump acenou mais uma vez para Bolsonaro em agosto, declarando o Brasil um aliado oficial extra-OTAN. Tudo indicava que o Brasil estava se aconchegando numa estratégia submissa ao projeto geopolítico regional dos EUA, cedendo elementos centrais enquanto recebia a atenção desejada de Donald Trump.

Mas depois de todo o esforço da diplomacia nacional para comprovar que o Brasil seria um digno serviçal, os Estados Unidos preferiram apoiar somente a entrada da Argentina e da Romênia ao clube dos países ricos. Essa é provavelmente uma das maiores humilhações sofridas pela política externa brasileira em toda a sua história.

Já houve um americanismo ingênuo na história diplomática do Brasil, logo após a Proclamação da República, mas não rendeu tantos frutos assim aos americanos. Os formuladores da política externa atual podem comemorar a vitória tão aguardada do americanismo ingênuo que, seguindo a tradição iniciada pelas elites aculturadas responsáveis pelo nosso atraso, chega cem anos mais tarde.