O paradoxo de Max Weber: Brasil, China e EUA

JONES MANOEL O paradoxo de Max Weber Brasil, China e EUA
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Max Weber, no final da Primeira Guerra Mundial, teve que fazer uma constatação incômoda: a capacidade de mobilização militar, social e ideológica da Inglaterra foi infinitamente maior do que a da Alemanha. A constatação gerou surpresa pois o esperado era que a Alemanha, um regime político mais autoritário e centralizador, teria uma capacidade de arregimentação bem melhor do que o parlamentarismo inglês.

Weber descobriu, depois da Guerra, as maravilhas do social-imperialismo (Lênin, antes mesmo da Guerra, já tinha entendido isso): um regime democrático-burguês com certo nível de política social e emprego cria um nível de coesão social maior do que a repressão burocrático-militar. O famoso Benjamin Disraeli, na Inglaterra, já tinha teorizado – e aplicado – sobre os benefícios do social-imperialismo: usar os lucros da expansão colonial-imperialista para criar uma aristocracia operária de melhores salários e condições de vida e assim apassivar por dentro a radicalidade do movimento operário, criando um amplo setor da classe trabalhadora aliada da política externa inglesa.

Weber, em suma, descobriu que a propaganda patriótica precisa ter como lastro uma base de compromissos materiais de classe. Um povo com baixos salários, desempregado, sem direitos sociais e econômicos, tendencialmente, será menos útil nas aventuras da classe dominante. Weber, em suma, descobriu Maquiavel!

É por isso (e outros fatores) que um político conservador como Putin não permite uma política neoliberal de terra arrasada e não poucas vezes, atende ao interesse dos sindicatos contra os patrões. É também por esse motivo que a China está realizando uma musculosa política de redução das desigualdades internas, fortalecimento dos direitos sociais e econômico, ampliação dos serviços públicos, melhora cada vez mais acelerada das condições de trabalho.

Estados Unidos e Brasil, ao contrário, seguem uma política de destruição de forças produtivas: afundam o povo trabalhador na pobreza, miséria, baixos salários, serviços públicos ineficientes, suicídios, violência em massa, encarceramento galopante etc. Os EUA, como potência mundial, fragilizam sua capacidade de disputa hegemônica global. Não à toa é que vários bilionários defendem impostos sobre grandes fortunas como forma de reduzir as desigualdades.

O Brasil, como país dependente, se afunda ainda mais no subdesenvolvimento e na irrelevância global. Destruir as condições de vida do povo significa fragilizar ainda mais a nossa soberania nacional. Não importa muito a cor do gato – socialista ou burguês -, a regra é a mesma: a intensificação da conflitividade interna reduz a capacidade de projeção hegemônica de um país e no caso de um país dependente, como é o nosso, nos condena a condição de eterno gigante com pés de barro.

Na cabeça da burocracia estatal brasileira, porém, a “grandeza da nação” é uma proclamação de princípios vazios de patriotismo e militarismo. O General Eduardo Villas Bôas se tivesse acesso aos diálogos entre Max Weber e o Erich Ludendorff talvez considere os dois como marxista-leninistas.

Aliás, uma nota curiosa. Josef Stálin, em 1938, chamou uma reunião do Comitê Central. Uma das pautas era a baixa produtividade do cultivo de tabaco nas regiões soviéticas centro-asiáticas. Stálin disse que “sem tabaco não é possível ganhar a guerra que se aproxima”. Molotov, segundo seu próprio relato, riu e questionou o “camarada” sobre a relação entre o tabaco e a guerra; Stálin respondeu “não se ganha uma guerra sem os homens terem suas necessidades satisfeitas…cigarros não são menos importantes que armas e comida…”.

Mas é isso. Não estamos mais na era dos Weber, Stálin, Lênin… é o tempo de Ernesto Araújo e Villas Bôas.