Mercado de Trabalho no Brasil: situação só se agrava

UALLACE MOREIRA: Mercado de Trabalho no Brasil: situação só se agrava

Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

Se somarmos a taxa de desocupação (13,3%) mais o desalento (5,6%), temos uma taxa de desemprego de 18,9%.

Os indicadores mostram uma situação delicada e que tende a se agravar.

Como podemos observar no gráfico acima, a taxa de desocupação aumentou para 13,3% em junho. Isso representa um crescimento da taxa de desocupação de 1,1 ponto percentual em relação ao trimestre de janeiro a março de 2020 (12,2%).

O fato preocupante é que o número de pessoas ocupadas continua crescendo, alcançando níveis recordes, com 83,3 milhões no trimestre de abril a junho de 2020. É uma redução de -9,6%, ou seja, menos 8 876 mil pessoas em relação ao trimestre anterior (janeiro a março de 2020).

Em termos percentuais, o nível de ocupação estimado em 47,9% no trimestre de abril a junho de 2020, apresentou uma redução de -5,6 pontos percentuais frente ao trimestre de janeiro a março de 2020 (53,5%).

Em relação a igual trimestre do ano anterior, o indicador de ocupação apresentou variação negativa -6,7 pontos percentuais), quando o nível da ocupação no Brasil foi de 54,6%. Ou seja, estamos com o menor nível de ocupação do período recente, com 47,9%. Situação muito grave.

Outro indicador que aponta para a situação delicada do mercado de trabalho é a taxa composta de subutilização, que alcançou 29,1%. Se olharmos no gráfico, observem que desde a aprovação da reforma trabalhista, a tendência é de crescimento.

Por que o crescimento da taxa de desocupação por preocupante? Nesse grupo, inserem-se grande parte das ocupações informais, assim como diversas atividades em tempo parcial, por tempo determinado ou sob contrato intermitente, ou seja, por ocupações precárias, com baixa renda.

Essa característica do crescimento da taxa de desocupação aponta para um elemento estrutural e não conjuntural, fomentado pela reforma trabalhista. O que pode significar níveis de renda mais baixos, assim como situação de maior vulnerabilidade da condição do trabalhador.

Para completar a situação delicada do mercado de trabalho, a taxa de pessoas desalentadas está aumentando, alcançando um percentual de 5,6%. Se somarmos a taxa de desocupação (13,3%) e a taxa de desalento (5,6%), temos um desemprego de 18,9%.

Quando consideramos a massa de rendimento real, de acordo com o IBGE, para o trimestre móvel de abril a junho de 2020, temos R$ 203,5 bilhões de reais, e quando comparada ao trimestre móvel de janeiro a março de 2020 apresentou variação de -5,6% – menos R$ 12,0 bilhões.

Também, quando comparamos a massa de rendimento frente ao mesmo trimestre do ano anterior, houve variação de -4,4%, o que representa uma redução de R$ 9,4 bilhões na massa de rendimentos dos trabalhadores.

Síntese dos indicadores: a) crescimento da taxa de desocupação; b) queda no nível de ocupação para nível recorde; c) crescimento de forma estrutural da taxa de subutilização; d) crescimento da taxa de desalento; e) queda da massa de rendimento real dos trabalhadores.

Conclusão: em junho, já tinha mostrado aqui como a situação do mercado de trabalho no Brasil era grave,com tendência a se agravar mais ainda. Qual a resposta do Bolsonaro e Paulo Guedes para essa situação? Retirar mais direitos dos trabalhadores.

Por Uallace Moreira, mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da UNICAMP e  professor da Faculdade de Economia da UFBA.

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