Merrill Lynch e a privatização da Vale do Rio Doce

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Privatização da Companhia Vale do Rio Doce na sede da Bolsa de Valores
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Quando a privatização da Companhia Vale do Rio Doce foi anunciada, na década de 1990, estudei detidamente o assunto, procurando fugir de preconceitos ideológicos. Não sou contra qualquer privatização.

Escrevi um texto que foi publicado em uma revista que não existe mais e, infelizmente, se perdeu num velho computador irrecuperável. Nem cópia escrita eu tinha.

Durante o trabalho, consegui uma entrevista com o funcionário brasileiro que comandava o processo. Não lembro o nome dele. Se lembrasse, não revelaria agora, por pudor.

Me preparei bem para essa entrevista. Imaginei que ele conhecia profundamente o assunto e traria argumentos fortíssimos.

Fiquei chocado.

Ele não sabia bem o que era a Vale, errava todos os números e só dizia chavões. Quando mostrei que a Merrill Lynch, empresa americana contratada pelo governo brasileiro para avaliar a Vale, havia cometido erros primários, ele só conseguiu me dizer: “A Merrill Lynch não faria isso.”

Prevaleceu o preço estabelecido pela Merrill Lynch. Pouco depois, ela foi multada em muitos milhões de dólares pelo governo americano por manipular informações ao mercado, em outros negócios.

Uma das coisas que descobri na época foi a seguinte: a Merrill Lynch atuou nas duas pontas, assessorando o vendedor e potenciais compradores. Outra coisa foi que a “taxa de risco” do negócio, arbitrada pela empresa americana, equivalia à taxa de risco de comprar um restaurante (esse é um parâmetro decisivo para trazer o preço final ao valor presente). Outra coisa foi que milhões de toneladas de minério foram desconsideradas. E a maior frota de navios graneleiros do mundo havia sido considerada com valor igual a zero.

O funcionário do Estado brasileiro, manda-chuva nesse processo, só me dizia: ” A Merrill Lynch não faria isso.”

Como diria o Millôr, pano rápido. República de bananas é o que somos.

Por Cesar Benjamin