A Petrobras pode praticar um preço de gasolina desvinculado do preço em dólar do barril de petróleo? A companhia deveria ser privatizada?

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Sim pois é uma quase monopolista natural (não legal), pois é incumbente num setor com bastante sunk costs, economia de escopo e escala, ou seja, tem elevado poder de mercado. Está praticamente sozinha no mercado só com concorrência de gasolina importada e outros tipos de combustível. Não pois tem acionistas privados já que e’ listada na bolsa e precisa maximizar lucro. Não pois e’ monopolista natural e o preço da gasolina tem impactos “absurdos” na economia brasileira. Não pois precisa importar petróleo leve para poder refinar e fazer gasolina, se praticar preço muito baixo terá prejuízo. Essa talvez uma das questões mais relevantes e espinhosas da economia brasileira. Importante destrinchar um pouco essa análise. Em termos de extração de petróleo bruto a empresa bateu recorde no final de 2019 com produção de mais de 2.9M de barris (próximo ate de ira e Iraque). Grande destaque para pre-sal que já representa mais de 50% da produção. (custo de extração do pre-sal está em U$6 por barril, muito abaixo do que se imaginava inicialmente pra tirar petróleo de 7km abaixo do nível do fundo do mar!) Nos próximos 5 anos a empresa deve colocar para operar 13 novas plataformas em 10 campos de pre-sal. Em relação ao negócio de refino do petróleo a companhia atingiu 1.77M de barris dia em 2019, praticamente mesmo nível de 2018. Para refinar a empresa precisa importar petróleo pois não temos nossas refinarias tecnologicamente equipadas para refinar nosso próprio petróleo que e’ pesado. Mesmo que usamos 100% da nossa capacidade de refino não teríamos condições de produzir toda gasolina demandada internamente. Precisamos de mais refinarias.

A empresa poderia usar o lucro da exportação de petróleo pesado para subsidiar o preço interno da gasolina ao não repassar custo do petróleo importado em dólares para o preço da gasolina em reais como fez Dilma. Isso subsidia o consumo de gasolina em relação ao etanol por exemplo. Cria uma distorção em favor de uso de transporte movido a gasolina. Esse “subsídio cruzado” implica obviamente em lucro bem menor que e’ incompatível com o fato da empresa ser listada na bolsa. Se a empresa fosse privatizada haveria enorme risco na transferência do monopólio natural (não legal) de refino para a voraz iniciativa privada. Se não fosse bem regulado poderia representar alto muito forte do preço da gasolina (poder de mercado graças ao monopólio natural). Se fosse feita uma privatização das refinarias para várias empresas privadas teria que se tentar criar um ambiente concorrencial. Se o negócio da exploração fosse privatizado perderíamos poderoso instrumento de uso de conteúdo nacional para desenvolver nossa cadeia produtiva industrial doméstica como fez a Noruega por exemplo. Em termos de concorrência não haveria grande danos pois o preço do petróleo e’ definido no mercado mundial. O ritmo de exploração sendo definido por ótica totalmente privada pode também significar uma exaustão rápida dos poços com vistas a ganhos rápidos, nesse caso os brasileiros da atual geração ganhariam mais! No quesito segurança e setor estratégico os EUA por exemplo simplesmente proibiram a exportação de petróleo bruto de 1975 a 2015 (sem petróleo qualquer economia para). Ainda nos EUA o governo não deixa estrangeiros comprarem empresas do setor de petróleo. São “chatos” com isso. Recentemente vetaram a venda de uma refinaria para chineses. São muitas questões e muitas emoções em relação a esse tema. Importar destrinchar todos pontos e discutir cada um deles. No Brasil o negócio da distribuição da petro (Br distribuidora) ja foi vendido. Eu não privatizaria a companhia toda!

Segundo dados da CSI Market, a margem de lucro bruta do setor de refino no quarto trimestre de 2019 foi de 15,64%, enquanto a margem bruta do setor de extração no mesmo período foi de 109,33%. Uma vez que uma empresa privada deve alocar seus recursos a fim de maximizar lucros, a escolha do atual acionista majoritário parece lógica. Em última instância, o mercado mundial de petróleo e derivados é puxado pela cotação em dólar das commodities de referência: dos blends negociados em bolsas como o WTI e o Brent. Portanto, as empresas do setor buscam otimizar seus custos, pois são tomadoras de preço no mercado internacional de um produto sem grandes diferenciações. No Brasil, os royalties são determinados utilizando-se destas referências. Com a Petrobras não poderia ser diferente quando comercializa petróleo bruto com clientes de outras partes do mundo e quando vende o petróleo bruto da “Petrobras-Extração” para a “Petrobras-Refino”. Se uma empresa do setor praticar preços menores do que os de mercado em algum elo da cadeia produtiva, estará corroendo sua rentabilidade propositalmente, se afastando dos benchmarks do setor e podendo incorrer em prejuízos, como já vimos por aqui. Verificando os resultados da PB por área, fica flagrante que extração e comercialização de óleo cru à mercado carregava a empresa nas costas quando a Petrobras praticou o “subsidio-cruzado”. O momento crítico desta prática foi quando, após o boom das commodities cessou e o dólar subiu, o governo federal interferiu na política de preços da comercialização de combustíveis a fim de brecar aumentos ao consumidor e a companhia auferiu prejuízo por anos seguidos. Este período coincidiu com mobilizações populares com a pauta de “salvação da empresa” (da corrupção que supostamente a estava destruindo), mas é curioso que os mesmos cidadãos que outrora defendiam a Petrobras contra a bancarrota agora também protestam contra o valor do mercado internacional dos combustíveis praticado por ela, que é a grande responsável pela pedida salvação.

Por Paulo Gala e Lucas Soares de Faria.

Link: https://www.paulogala.com.br/a-petrobras-pode-praticar-um-preco-de-gasolina-desvinculado-do-preco-em-dolar-do-barril-de-petroleo-a-companhia-deveria-ser-privatizada/