Esse é um país que vai pra frente

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Quem é mais velho vai se lembrar desse jingle da época do regime militar, governo Figueiredo. Juca Chaves, um famoso comediante contestador do período, tocava essa musiquinha em seu show e soltava uma tartaruga no palco para mostrar de que forma íamos para frente. Essa cena tem quase 40 anos, mas nada poderia ser mais atual, ainda mais que o presidente resolveu fazer chacota hoje com o PIB.

Entra ano, sai ano, e o argumento é sempre mesmo: agora vai, as reformas vão consertar o país e vamos deixar as pessoas trabalharem. Mas é impressionante como desde 2017 a história se repete, os argumentos idem, e o crescimento acumulado da economia no ano gira em torno de 1%; em termos per capita, a média é igual 0,37% nestes três anos. É desprezível para o atraso que precisamos tirar. E muita gente ainda continua embarcando nesse discurso.

A própria nota do Ministério da Economia sobre o resultado do PIB, divulgada hoje, diz que estamos caminhando na direção correta ao reduzir o gasto público e abrir espaço para o aumento do privado, o que é repetido como um mantra. Supondo que isso fosse a salvação da lavoura, a participação do consumo privado e do público no PIB é praticamente constante desde 2017. Nem que eu quisesse seria possível argumentar a favor dessa possibilidade.

Vamos então aos dados que interessam: a variação trimestral do PIB, já há muito, não ultrapassa 0,5% (e a anual roda em torno de 1%); o investimento oscila bastante, não mostrando nenhuma tendência; os gastos em máquinas e equipamentos, que representam expansão da capacidade de produção instalada, cresceram apenas 0,9% em 2019 (descontada a inflação). As exportações, que seriam uma fonte importante de recuperação do ciclo econômico, caíram 2,5% no ano, por causa da Argentina e das barbeiragens na política comercial. O que salvou o comércio da tragédia, que teria um Natal histórico, mas “variou” 0% – isso mesmo – no quarto trimestre, foi uma medida típica de estímulo à demanda já utilizada no passado recente – os saques no FGTS.

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Não haverá recuperação consistente no atual cenário sem uma estratégia de crescimento, sem recuperação da indústria e dos serviços que vêm junto com ela, sem a geração de melhores ocupações, sem a redução do endividamento e sem a recuperação do investimento público. A estratégia atual é a do desmonte. Nunca dará certo. Só pessoas desconectadas da realidade e afeitas a modelos ultrapassados acreditam nisso. O que o mundo discute hoje é a taxação de riquezas, políticas industriais sustentáveis e a geração de empregos de qualidade. Nada disso é possível sem a atuação conjunta do público e do privado.

Resta saber quanto tempo levará para a população que apoia a estratégia atual, que já é declinante, perceber que está sendo altamente prejudicada, e se em algum momento o presidente vai querer virar o jogo. Ele já emitiu os seus sinais, como eu disse há meses que em algum momento ele faria. Se não o fizer, continuaremos crescendo 1%, no ritmo do agora vai. Em cada momento haverá algum fator que ajudará um pouco, outros atrapalhando, e não sairemos desse desempenho medíocre. Como consequência, o que andará para frente e a largos passos não será o nível de atividade, mas a precarização do mercado de trabalho. Infelizmente.

  1. Nelson, quando consideramos a velocidade atual do nosso crescimento podemos considerar que o valor relativo é negativo, quando comparado com o crescimento de outros players no plano internacional. Cada dia que passa ficamos mais distantes da estagnação. O que dizer sobre o crescimento?

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