Pressão e Expectativas: um setembro ameno para o Banco Central

Por Emerson Braz - A última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), publicada na data de 22 de setembro de 2020 optou por manter a taxa de juros básica da economia (SELIC) em 2,00% a.a. Esta decisão veio embasada na análise do cenário macroeconômico mundial para a determinação e mantenimento da taxa de juros no seu menor patamar histórico. Considerações foram feitas acerca dos impactos ainda presentes da COVID-19 sobre o cenário econômico, especialmente, o seu impacto acerca de países emergentes como o Brasil.
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Por Emerson Braz – A última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), publicada na data de 22 de setembro de 2020 optou por manter a taxa de juros básica da economia (SELIC) em 2,00% a.a. Esta decisão veio embasada na análise do cenário macroeconômico mundial para a determinação e mantenimento da taxa de juros no seu menor patamar histórico. Considerações foram feitas acerca dos impactos ainda presentes da COVID-19 sobre o cenário econômico, especialmente, o seu impacto acerca de países emergentes como o Brasil.

O Copom julga que o movimento de abertura parcial da economia tem reduzido as expectativas de redução do crescimento este ano, contudo, o setor de serviços será consequentemente aquele mais afetado, mas, ainda sim, existe a incerteza sobre qual será o ritmo de crescimento e recuperação econômica.

Em relação a inflação, as expectativas para este ano e os seguintes são de se manter abaixo da meta definida pelo BACEN, isto é, a inflação estimada para 2020, 2021 e 2022 ficará em torno de 1,9%, 3,0% e 3,5%, segundo o Boletim FOCUS. Contudo, há uma perspectiva de elevação inflacionário no curto prazo que tem atingido a percepção do consumidor brasileiro. Aumentos significativos em bens de consumo essenciais da cesta básica tem sido pauta recente.

A Ata do mês de setembro também trouxe mais relevância para a ociosidade no lado real da economia, com mais destaque para o setor de serviços. As atas anteriores haviam dado maior relevância para a composição da expansão da política monetária do que para a ociosidade da economia, este ponto mostra que, apesar de haver o maior peso sobre o lado fiscal, o COPOM considerou um pouco mais a ociosidade e a retenção da liquidez (poupança para motivo precaucional).

Na data de lançamento da ata (22/09/2020), as perspectivas sobre o lançamento de um programa de renda básica haviam sido amenizadas, pois as declarações advindas do executivo, especialmente a declaração do presidente de que estavam cessadas as discussões sobre um “Renda Brasil”, estabilizaram um câmbio próximo dos R$5,30. Esta perspectiva muda quando ao final do mês duas declarações alteram o movimento cambial, estas são: a retomada da discussão de um programa de renda básica, agora denominado “Renda Cidadã” e o seu método pouco confiável de financiamento: indução sobre o orçamento do FUNDEB e o adiamento do pagamento de precatórios da dívida, retirando o câmbio do patamar de R$ 5,30 em que foram calculados, especialmente as expectativas para a inflação de 2020, 2021 e 2022.

Portanto, o COPOM manteve a taxa de juros a 2,00% a.a. enxergando imprevisibilidade no cenário de curto prazo, mesmo considerando que “que as expectativas de inflação assim como as projeções de inflação de seu cenário básico encontram-se significativamente abaixo da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária”. Mostrando que deixa aberto o espaço, ao menos para a reflexão, de mais algum corte na taxa básica.

A sucessão do aumento dos preços dos bens de consumo da cesta básica, no mínimo, merece atenção, visto que acontece em um momento de depressão da renda brasileira. Menção a redução dos estoques, especialmente do arroz, que, mediante a incapacidade de definir preço (muito por conta da ausência de estoques) continuarão altos no curto prazo por conta do patamar em que se encontra o câmbio, que torna atrativo a exportação do grão.


Fonte: B3 / Elaboração própria.

As incertezas acerca do desenvolvimento da economia brasileira, especialmente a indecisão entre manter ou não o teto de gastos, tem movimentado a curva de juros futuro. O problema não tem sido quebrar o teto, visto que a esta altura, já estamos acostumados com a possibilidade de rompimento da medida que suprime os gastos do governo, pois é improvável que o Presidente da República renuncie a sua ideia de criar um “auxílio emergencial permanente” anteriormente chamado de “Renda Brasil”, hoje tende a ser o “Renda Cidadã”. Com esta instabilidade, o prêmio pelo risco dos títulos públicos tem se elevado. O prêmio pelo risco (ERP) alcançou 9,7% (VALOR, 02/10/2020), sendo relevantemente superior ao de países emergentes (países de renda média), no caso do México o ERP chegou a 9,1%.

Um horizonte futuro de elevação das taxas de juros dos títulos públicos, influencia diretamente a preferência sobre as decisões de alocar dinheiro na renda fixa ou em ações. Um reflexo disto foram as negociações recentes acerca dos contratos futuros, apesar da Selic permear os 2,00% a.a., o contrato do Depósito Interfinanceiro com vencimento em 2025 era negociado acima de 6,23%.
Esta pressão por um maior prêmio de risco tem sido feita por conta das incertezas acerca do horizonte de decisão quanto as contas do governo. Este estresse será mantido enquanto houver indecisão sobre manter ou romper o teto. Mas há alguma dúvida de que o executivo renunciará ao teto? Nenhuma, e os brasileiros agradecem.