Por Uallace Moreira – A atividade industrial, ao avançar 3,2% em agosto de 2020, mostra crescimento pelo quarto mês seguido.
Entretanto, ainda não elimina a queda de 27,0% acumulada no período março-abril de 2020.
Ao avaliarmos por categoria de uso, comparando o mês de agosto com o mês de julho, o setor de bens de consumo duráveis apresentou um crescimento considerável, de 18,5%. Contudo, bens de capital, mais associado ao investimento, ainda patina com crescimento de apenas 2,4%.
Na minha avaliação, a melhor comparação é com os indicadores do ano passado. Nesse sentido, podemos verificar que a indústria, quando comparada com o mês de agosto de 2019, apresentou uma queda de -2,7%.
Se avaliarmos por atividades, comparando com agosto do ano passado, setores considerados relevantes apresentaram taxas negativas elevadas, tais como veículos automotores, metalurgia, outros equipamentos de transporte, máquinas e equipamentos, etc.
Na comparação por categoria de uso, agosto de 2020 com agosto de 2019, o setor de bens de capital, que representa o dinamismo do investimento no país, apresentou uma queda de -16,9%. O setor de Bens de consumo duráveis também teve uma queda de -7,7%.
Bens de consumo duráveis é um setor interessante para a gente avaliar o dinamismo do mercado interno, principalmente por considerar que a sua recuperação depende muito da retomada do emprego e do crescimento da renda.
Em bases quadrimestrais, o setor industrial, ao recuar 8,9% no segundo quadrimestre de 2020, apontou a queda mais elevada desde o primeiro quadrimestre de 2016 (-10,2%), mantendo uma dinâmica negativa desde o último quadrimestre de 2018 (-1,6%), em todas as comparações.
Se avaliarmos o acumulado no ano de 2020, vejam que a indústria apresenta uma queda de -8,6%, com o setor de bens de capital com taxa negativa de -20,2% e bens de consumo duráveis -30,1%.
Sem dúvida nenhuma, é positiva a recuperação da indústria no mês de agosto, mas ainda, na minha opinião, é um dinamismo baixo, principalmente quando comparamos com indicadores do ano passado. E mais ainda se verificarmos que a dinâmica da indústria é baixa desde 2015.
Considerar uma recuperação mais vigorosa e com retomada do fortalecimento da indústria no Brasil, na minha opinião, precisaria retomar o ritmo de crescimento antes de 2015, principalmente com elevado investimento.
Se o crescimento for baixo e manter os mesmos patamares pós 2015, com tendência de uma dinâmica stop and go, não vejo como muito promissora essa retomada, principalmente considerando a necessidade de reindustrializar o país.
Para a retomada mais vigorosa, considero duas variáveis importantes e estratégicas:
1º. Alavancar o investimento público e privado no país.
2º. Dinamizar o mercado interno, principalmente fortalecendo o poder de compra da classe trabalhadora.
Por Uallace Moreira, mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da UNICAMP e professor da Faculdade de Economia da UFBA.