A questão industrial está no centro da questão nacional

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A cambiante realidade mundial trouxe ao Brasil mais uma grande surpresa, bem no meio de sua experiência política mais nefasta desde a Redemocratização iniciada no final dos anos 1970.

Mesmo que o mundo inteiro tenha visto o recrudescimento do papel dos poderes públicos sobre a economia na última década – como resposta necessária à desordem profunda provocada por criminosas tramoias financeiras comandadas a partir de Wall Street, com a crise de 2009 -, no Brasil a maioria dos economistas e da mídia comercial fez cara de paisagem.

Ignoraram deliberadamente as políticas de salvação monetária feitas nas economias centrais, os investimentos públicos feitos em gigantes corporações privadas que de outra forma iriam à falência, a ascensão de países com economia planejada (não apenas a China). No Brasil, continuou o blá-blá de que o dinheiro do Estado havia acabado para sempre, e que o mercado em absoluta liberdade seria o único caminho para colocar a economia para andar.

Já se vão quase cinco anos que o neoliberalismo retornou com força, avassalando o regime laboral do país, cedendo aos ditames financeiros mais exigentes, reduzindo as mínimas burocracias para abertura de empresas, e o resultado é uma economia que desliza para o lado de maneira deprimente, com dezenas de milhões de pessoas sem a mínima condição econômica. São os desempregados, mais os desalentados, mais os informais aviltados, mais os estudantes que não conseguem entrar na vida profissional.

O resumo desta ópera chega sem máscaras a 2020, ano em que uma crise de vida ou morte termina de pôr tudo isso a nu. No mundo do Covid-19, ninguém tem medo de emitir dívidas públicas, emitir moeda soberana, financiar o salário dos trabalhadores, salvar empresas produtivas. Os Estados não têm qualquer vergonha de ir ao socorro de suas economias privadas, pois nelas estão suas sociedades.

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Aqui, como sempre, o atraso é a regra. E ainda estamos discutindo se e quando o Estado pode aparecer. Só que com quatro décadas de omissão, a crise nos encontra em profunda desestruturação produtiva. Com pouco tecido industrial, e grande parte dele refém de importações de insumos, o Brasil de 2020 é um esqueleto anêmico. Deveria receber de seu Estado a dose mais cavalar de investimentos em toda sua história, mas preferimos discutir tecnicalidades enquanto a saúde pública e a recessão dão as mãos num baile assassino.

A crise da pandemia, que no Brasil se torna uma expressão bizarra de nossa estagnação econômica, ao menos coloca a questão nacional no centro do debate. Já não é mais possível não discutir a questão nacional. Para contribuir com este necessário debate, entrevistei o professor de Direito Econômico e Economia Política da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Gilberto Bercovici.

Convido todos a assistir a entrevista, veiculada no canal Revolução Industrial Brasileira, e aprender com o professor Bercovici como e por que a questão industrial é essencial para um debate correto e abrangente da questão nacional.