Análise da recuperação da atividade industrial

Uma análise da recuperação da atividade industrial de junho a partir dos indicadores. A atividade industrial, ao avançar 8,9% em junho de 2020, elimina apenas parte da queda de 26,6% acumulada no período março-abril de 2020.

Por Uallace Moreira – Uma análise da recuperação da atividade industrial de junho a partir dos indicadores. A atividade industrial, ao avançar 8,9% em junho de 2020, elimina apenas parte da queda de 26,6% acumulada no período março-abril de 2020.

Quando a gente compara com o mesmo mês do ano anterior, que é a melhor comparação no momento de crise, podemos observar que há uma queda na produção industrial de -9,0%.

Vejam no gráfico anterior que os únicos setores que apresentaram taxas positivas de crescimento foram os relacionados a produtos farmacêuticos e alimentos. Itens de necessidade básica e que a política de auxílio de emergência contribuíram para estimular a demanda.

Setores que estão relacionados a um dinamismo maior, como bens de consumo duráveis e bens de capitais, estão com taxas negativas de crescimento. Isso está associado à baixa dinâmica econômica do país, com baixo investimento, elevado desemprego e queda da renda.

Quando comparado com junho de 2019, Bens de consumo duráveis tem queda de -35,1%, enquanto bens de capital apresenta queda de -22,2%. Confirma-se assim o baixo dinamismo da atividade econômica, principalmente com baixo investimento e queda da renda, com elevado desemprego.

Em bases trimestrais, o setor industrial, ao recuar 19,4% no segundo trimestre de 2020, apontou a queda mais intensa desde o início da série histórica nesse tipo de comparação.

O gráfico anterior, na comparação trimestral, mostra ainda que fica em evidência que o comportamento negativo permanece presente desde o último trimestre de 2018 (-1,3%), todas as comparações contra igual período do ano anterior.

O aumento na intensidade de perda do total da produção industrial na passagem do 1º (-1,6%) para o 2º trimestre de 2020 (-19,4%) foi explicado pela redução de ritmo nas quatro grandes categorias – bens de capital e bens de consumo duráveis com quedas mais acentuadas.

As quedas mais acentuadas para bens de consumo duráveis (de -6,5% para -64,9%) e bens de capital foram resultado da menor fabricação de automóveis (de -14,9% para -83,2%), eletrodomésticos (de 5,9% para -33,2%) e equipamentos de transporte (de -7,0% para -61,1%).

Quando consideramos os seis primeiros meses de 2020, temos uma queda de -10,9%. Com um menor dinamismo para bens de consumo duráveis (-36,8%) e bens de capital (-21,2%). Mais uma vez, confirma-se o baixo dinamismo de setores essenciais para uma retomada mais robusta.

Esse menor dinamismo nos 6 primeiros meses foram pressionadas, em grande parte, pela redução na fabricação de automóveis (-51,4%) e eletrodomésticos (-13,5%); e de bens de capital para equipamentos de transporte (-36,2%) e para fins industriais (-16,3%).

Conclusão: A atividade industrial, ao avançar 8,9%, elimina apenas parte da queda de 26,6% acumulada no período março-abril de 2020.

Isso deixa em evidência que o caminho de recuperação ainda é longo e depende muito da recuperação do mercado interno, com mais investimento e recuperação da renda dos trabalhadores.

Por Uallace Moreira, mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da UNICAMP e  professor da Faculdade de Economia da UFBA.

Sair da versão mobile