A ‘retomada em V’, o comércio e o desemprego

Se somarmos a taxa de desocupação (14,4%) e a taxa de desalento (5,8%), temos uma taxa de desemprego de 20,2%, um recorde histórico. Com a redução do auxílio emergencial e o seu possível fim, teremos um mercado interno em condições de colapso social. Possivelmente a grave situação do mercado de trabalho, somada à redução do auxílio emergencial, estão tendo impactos na retomada da atividade econômica. Se confirmada a agenda de ajuste fiscal defendida por Paulo Guedes e pelo "mercado", provavelmente a situação se agrava.
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Por Uallace Moreira – Em setembro, o comércio cresceu 0,6%. Na verdade, isso representa uma queda da taxa de crescimento do comércio, quando comparamos mês a mês. Alguns pontos merecem ser destacados:

A redução do valor do auxílio e da abrangência do benefício e a profunda crise no mercado de trabalho:

O volume de vendas do comércio varejista nacional mostrou acréscimo de 0,6%, frente ao mês imediatamente anterior. Isso representa uma continuidade da retomada do crescimento do comércio, depois da forte queda em abril.

Quando observamos os dados setoriais, os setores com maiores taxas de crescimento foram: Livros, jornais, revistas e artigos de papelaria (8,9%); Combustíveis e lubrificantes (3,1%); Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (2,1%).

Um ponto relevante nessa recuperação é que, mesmo comparando com o setembro de 2019, há também uma taxa de crescimento do comércio de 1,2%.

O problema dessa recuperação e que, na minha avaliação, compromete um maior otimismo é que a taxa de crescimento do comércio vem apresentando perda de dinamismo, com queda contínua, como mostra o gráfico. Começou com 12,2% de crescimento e agora estamos com apenas 0,6%.

Algumas hipóteses podem ser levantadas em relação à perda de dinamismo do comércio e que pode apontar para uma lenta e longa recuperação do seu dinamismo:

Cerca de 55 milhões de brasileiros que recebem o benefício serão afetados pela redução.

Com os elevados preços dos alimentos no supermercado, do gás e de outros itens básicos, garantir o sustento familiar com o auxílio emergencial de R$ 600 já era um desafio. Com a redução do valor para R$ 300, a tendência é de aumento da pobreza e da desigualdade social.

Além do mais, a elevada taxa de desemprego agrava mais ainda a problemática da retomada do crescimento econômico:

A taxa de desocupação na economia brasileira em agosto bateu novo recorde, ficando em 14,4%:

O número de pessoas desocupadas também apresentou um número recorde: são quase 14 milhões de pessoas desocupadas, fora do mercado de trabalho.

Além do mais, temos o menor nível da história da série de pessoas ocupadas, quase 82 milhões de pessoas, uma queda brutal quando comparamos o maior número de 94 milhões. Isto representa uma diferença de mais de 12 milhões de pessoas ocupadas.

É a menor taxa de ocupação da história no mercado de trabalho, com uma taxa de apenas 46,8%.

Vejam que isso só piora desde o início da crise:

A taxa de desocupação também alcançou um recorde histórico, com um percentual de 30,6%.

Pessoas em condição de desocupação tem menor renda e está em maior condição de vulnerabilidade social.

Outro indicador que deixa em evidência a gravidade da crise do mercado de trabalho e que afeta o dinamismo da atividade econômica é a elevada taxa de desalento, que alcançou também um patamar histórico de 5,8%.

São pessoas desempregadas que desistiram de procurar emprego.

Se somarmos a taxa de desocupação (14,4%) e a taxa de desalento (5,8%), temos uma taxa de desemprego de 20,2%, um recorde histórico.

Com a redução do auxílio emergencial e o seu possível fim, teremos um mercado interno em condições de colapso social.

Possivelmente a grave situação do mercado de trabalho, somada à redução do auxílio emergencial, estão tendo impactos na retomada da atividade econômica.

Se confirmada a agenda de ajuste fiscal defendida por Paulo Guedes e pelo “mercado”, provavelmente a situação se agrava.