Quando o socialismo fabrica o mercado

O caso chinês é mais enigmático, e rico, pois as reformas de 1978 marcam o início de um processo em que o desenvolvimento de um modo de produção distinto (socialismo) demandou que um novo tipo de superestrutura literalmente "fabricasse" um mercado como forma de sua sociedade se revigorar. O reencontro da China com a sua milenar história mercantil é um marco fundamental aos estudiosos do tema.
Botão Siga o Disparada no Google News

O tipo de desenvolvimento institucional verificado na Ásia muito antes da Revolução Industrial inglesa, causa e consequência de elevado desenvolvimento da economia de mercado em países como a China, é um interessante referencial à compreensão das distintas formações econômico-sociais que coabitam no leste asiático. É verdade, em uma visão smithiana do processo, que o desenvolvimento das economias de mercado na Ásia não produziu uma Revolução Industrial como na Inglaterra, mas de forma tardia proporcionou o surgimento de Estados Desenvolvimentistas que, cada um ao seu modo, revigorou características institucionais milenares – e se apoiaram em tais – para criar poderosas estruturas industriais e financeiras.

O caso chinês é mais enigmático, e rico, pois as reformas de 1978 marcam o início de um processo em que o desenvolvimento de um modo de produção distinto (socialismo) demandou que um novo tipo de superestrutura literalmente “fabricasse” um mercado como forma de sua sociedade se revigorar. O reencontro da China com a sua milenar história mercantil é um marco fundamental aos estudiosos do tema.

A fabricação deste mercado levou o país a uma completa reorganização de sua estrutura social. O mercado passou a ser instrumento de governo para revigorar sua base material e criar uma gama de formas de propriedade que torna muito difícil classificar o país nos marcos de capitalismo ou socialismo “puros”. O “mercado fabricado” deu contorno a diferentes formas públicas de propriedade. Afora uma grande finança também estatal.

Não existiu harmonia no processo. A China está repleta de desequilíbrios e desafios de toda monta, desde a preocupante desigualdade social até a pressão do imperialismo sobre seu desenvolvimento. Porém, a grande questão é que a milenar história mercantil e institucional da Ásia produziu distintas formações econômico-sociais e, consequentemente, Estados Desenvolvimentistas de diferentes modelos. O “mercado fabricado” na China foi fundamental ao surgimento de uma nova, complexa, distinta e única formação econômico-social, de tipologia “socialista de mercado”. A China é o primeiro exemplo de uma nova classe de formações econômico-sociais. O Vietnã com suas características próprias vem atrás.

Por: Elias Jabbour.