O sucesso de Lukashenko na Bielorrússia contra o neoliberalismo

O sucesso de Lukashenko na Bielorrússia contra o neoliberalismo
Botão Siga o Disparada no Google News

Alexander Lukashenko foi eleito pela sexta vez o presidente da Bielorrússia com quase 80% dos votos. Lukashenko é conhecido na imprensa internacional como o último ditador da Europa, isso porque ele está no poder há 26 anos, desde 1994. Ou seja, Lukashenko ganhou 6 eleições consecutivas. Muitos acusam seus bons resultados eleitorais de serem fraudados, mas há poucas provas – tanto para quem acusa quanto para quem se defende. Mas é um ponto interessante a se analisar, como um homem tem dirigido um país por tanto tempo sem nunca ter sofrido claros sinais de derretimento por insatisfação popular?

A Bielorrússia é um país que foi parte da União Soviética e portanto tinha uma economia planificada. A Bielorrússia se desenvolveu muito sob o Socialismo Soviético e sua população queria continuar com esse modo de produção, ou pelo menos algo que se aproximasse dele. A maior prova disso é que os bielorrussos votaram em um referendo para manter a União Soviética intacta em uma margem de 84% a 16%, pouco antes de entrar em colapso em 1991. Ou seja, ao contrário de outros países que sofreram golpes de direita contra a opinião popular que também votaram pela permanência da União Soviética, a Bielorrússia conseguiu eleger um líder que representasse essa vontade popular e esse líder era justamente Lukashenko, que permanece até hoje no poder.

O sucesso de Lukashenko na Bielorrússia contra o neoliberalismo

Lukashenko não empreendeu um amplo programa de privatizações no país, ao contrário daquilo que aconteceu com os outros países do leste. Em verdade, Lukashenko trata de reativar e rejuvenescer a economia estatal do país. Até hoje cerca de 50% a 60% da economia da Bielorrússia é de grandes empresas estatais. A economia privada se limita aos pequenos e médios negócios, como supermercados, bares, restaurantes, salões de beleza e etc. Inclusive por isso, sem dar margem para a formação de grandes magnatas concentradores de riqueza, a Bielorrússia tem um baixíssimo nível de desigualdade.

É preciso consultar alguns dados para saber se realmente a economia e a qualidade de vida na Bielorrússia nesse meio tempo melhorou tanto – que justifique a permanência do mesmo líder no poder por 26 anos sem claros sinais de insatisfação popular – ou se a economia e melhoria de vida na Bielorrússia melhorou razoavelmente igual aos outros países que adotaram o mercado em primeiro plano.

O PIB per capita em poder de paridade de compra de Bielorrússia em 2017 era de 17 mil dólares. Comparado ao PIB per capita PPC da Ucrânia ele é alto – mais que o dobro – mas se comparado ao da Lituânia, ele é baixo – quase metade. Ou seja, nesse aspecto a Bielorrússia está em uma situação mediana. No entanto, no ano 2000 o seu PIB per capita PPC era bem menor que o dos outros países do leste europeu. Ou seja, já se pode inferir que o PIB per capita PPC da Bielorrússia cresceu muito nesse período (TABELA 1).

Tabela 1 – Crescimento do PIB Per Capita PPC entre 2000 e 2018 nos países do Leste Europeu  

País Crescimento em % do PIB per capita PPC
Hungria  49.16%
República Tcheca 53.85%
Ucrânia 64.56%
Rússia 76.26%
Polônia 84.74%
Estônia 87.74%
Bulgária 110.15%
Romênia 122.65%
Moldávia 123.61%
Letônia 124.28%
Bielorrússia 127%
Lituânia 142.2%

Banco Mundial, 2018

 Ou seja, entre os 12 países do Leste Europeu analisados, entre 2000 e 2017, o PIB per capita PPC da Bielorrússia foi o segundo que mais cresceu, somente atrás da Lituânia. Para o exemplo ficar ainda mais palpável aos brasileiros, nesse mesmo período, o PIB per capita PPC do Brasil cresceu somente 24.03% – que foi suficiente para dar 4 vitórias ao Partido dos Trabalhadores.

Agora muitos podem argumentar que embora o desempenho econômico da Bielorrússia nesse período foi muito bom, ainda ficou atrás da Lituânia e esse país não tem o mesmo líder há 26 anos. Isso é verdade, mas deve-se notar que a Lituânia é um país que recebeu gordos investimentos da União Europeia nesse período, que não foi o caso da Bielorrússia. O preço pago por esses investimentos é a mutilação da soberania nacional que a Lituânia sofreu – devido os acordos com a União Europeia e a OTAN – que para a Bielorrússia parece ser um assunto muito caro. Ou seja, em outros termos, embora a Lituânia tenha uma economia per capita mais avantajada, ela é em parte inflada pelo investimento estrangeiro e portanto grande parte dos benefícios desse investimento vão para seus donos, que estão no estrangeiro. No caso da Bielorrússia, as grandes empresas são nacionais e estatais, isso permite que os benefícios fiquem mais concentrados no próprio país. Isso explica a qualidade de vida na Bielorrússia, que foi o país que mais avançou em IDH nos últimos anos. (TABELA 2).

TABELA 2 – Crescimento em pts entre o IDH 2000 e IDH 2018 dos países do Leste Europeu

PAÍS IDH 2000 IDH 2018 Avanço em pts entre 2000 e 2018
Hungria 0,769 0,845 0,076
Ucrânia 0,671 0,750 0,079
Polônia 0,785 0,872 0,087
República Tcheca 0,796 0,891 0,095
Moldávia 0,609 0,711 0,102
Estônia 0,780 0,882 0,102
Rússia 0,721 0,824 0,103
Bulgária 0,712 0,816 0,104
Romênia 0,709 0,816 0,107
Lituânia 0,755 0,869 0,114
Letônia 0,728 0,854 0,126
Bielorrússia 0,682 0,817 0,135

PNUD, 2019

No Ranking de avanço do IDH, entre os 12 países do Leste Europeu analisados, a Bielorrússia fica em primeiro lugar como o país que mais avançou em qualidade de vida entre 2000 e 2018. Aqui já ficou claro que realmente a Bielorrússia se destacou dos outros países em avanços conquistados nos termos econômicos e em qualidade de vida. Os indicadores que revelam a densidade da qualidade produtiva do país representam bem a capacidade e eficiência tecnológica daquele lugar. Um ótimo indicador para se mensurar isso é o valor per capita da atividade industrial. O Valor agregado de manufatura per capita (dólares constantes dos Estados Unidos em 2015) da Bielorrússia, entre 2000 e 2019, cresceu 231%. Ou seja, a indústria da Bielorrússia experimentou intenso avanço nesse período, muito superior ao crescimento industrial da maioria dos países do Leste Europeu. Hoje a Bielorrússia tem grandes marcas nacionais e estatais de caminhões, tratores, colheitadeiras agrícolas e etc. Exemplos claros dessa força industrial da Bielorrússia são as marcas MAZ, BELAZ e VOLAT.

Máquina produzida por uma fábrica nacional da Bielorrússia, BELAZ

É notável que dentre os países do antigo Leste Europeu que pertenciam ao bloco Socialista, a Bielorrússia foi disparado um dos que mais se desenvolveu. Talvez avanços similares pode-se encontrar nos bálticos Lituânia e Estônia. No entanto, mesmo eles tendo um PIB per capita PPC maior, a Bielorrússia tem bem menos pessoas na pobreza e é bem menos desigual. Para exemplo, no ano de 2018, somente 0,7% da população da Bielorrússia vivia com menos de U$ 5,50 por dia, enquanto que na Lituânia eram 4,5%, na Letônia eram 3,6% e na Estônia eram 1,5%.

Portanto, se conclui que a Bielorrússia no comando de Lukashenko – que preferiu a economia planejada dos grandes meios de produção no correr desse tempo – experimentou um processo de desenvolvimento econômico e avanços em qualidade de vida muito maiores que os outros países que optaram pela via de mercado. Dos 12 casos analisados, a Bielorrússia foi o segundo país que mais cresceu em PIB per capita PPC, o primeiro país que mais avançou em IDH, um dos países com o maior avanço industrial e tem uma das menores taxas de desigualdade e pobreza. Ou seja, a Bielorrússia é um exemplo claro de como o planejamento central e a estabilidade política podem fazer um país se desenvolver de forma extraordinária. Isto é, sem receber ajudas equivalentes da União Europeia.

  1. Esse ditador continua no poder atraves das baionetas, disfarçada de voto popular, e o stalismo forçando a população a trabalhar de modo desumano,não existe liberdades, pois sem transparencia não se pode dizer que é progressita ou escravagista

  2. Excelente artigo, explicando não só o que apresenta, mas também o porque do ódio da grande mídia e dos capital financeiro contra o país e seu governante. Quase 10 milhões de pessoas livres da escrevidão rentista e servindo antes a si mesmos que aos parasitas do setor financeiros, só poderia resultar em difamação, fraude e tentativas de golpes.

  3. Excelente artigo é retrata bem a realidade local. Estive em Minsk há dois anos e pude constatar o orgulho da produção local em que pese todas as dificuldades. A ideia que passa é de que é um bom lugar para morar. Isso se você não tem problema com o frio

  4. A teoria MACROECONÔMICA só pode ser aplicada mediante o controle estatal das principais empresas que são tidas como as campeãs nacionais. Portanto, os países capitalistas chamados de desenvolvidos são atualmente os mais endividados. Por quê? Simplesmente porque promoveram um tipo de neoliberalismo que extinguiu a macroeconomia. Quando isto acontece, verifica-se o anarquismo institucional em que o governo é manipulado pelos mais ricos que praticam a FINANCEIRIZAÇÃO que também pode ser denominada como NEOCOLONIALISMO PRIVADO ou como CANIBALISMO ECONÔMICO. Dessa forma, o Brasil (e outros países do Terceiro Mundo) sustenta a Europa desde 1500 e eles ainda mentem ao dizer que o RISCO BRASIL é muito alto.

  5. Sou da Bielorrússia e declaro que não aconselho ninguém a viver neste país.
    O artigo é propaganda natural, Lukashenka é um criminoso, um assassino e um psicopata.

Deixe uma resposta