Sustentabilidade e a Responsabilidade Social Empresarial

Sustentabilidade e a Responsabilidade Social Empresarial
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É cada vez mais relevante a inclusão de medidas e estratégias que levem em conta a necessidade de políticas na incorporação de princípios e valores da responsabilidade social e da sustentabilidade na gestão das organizações, tanto públicas quanto privadas.

No livro publicado em 20 de janeiro último – “The Green Swan: central banking and financial stability in the age of climate change”, do Banco de Compensações Internacionais (BIS), a instituição vem alertando para a maior participação dos bancos centrais dentre os “mais proativos”, em preconizar empenho para atenuar as consequências do aquecimento global e das mudanças climáticas. “As catástrofes climáticas são mais sérias do que a maioria das crises financeiras sistêmicas: podem ameaçar a humanidade”, destacou a publicação.

Devido a esses fatores, empresas de diversos setores anunciam mudanças aos seus modelos de negócios e estão cada vez mais preocupadas na forma de operar dos agentes de mercado da economia global para sustentabilidade. BlackRock, Microsoft, e Repsol são algumas, das que já se pronunciaram a favor de colocarem essa questão no cerne de seus investimentos e propõem a alcançar a neutralidade carbónica em 2030.

Embora, CEOs das empresas estejam se movimentam em prol dessa ideia e que a mesma faça parte de suas agendas, “as emissões de CO2 continuaram a aumentar desde o Acordo de Paris e nada indica que esta tendência esteja a inverter”, frisou a publicação no livro assinalado.

De acordo com o BIS, diversos estudos acadêmicos, indicam um cenário ‘business as usual’ simulando que as temperaturas do planeta vão aquecer entre 4.1ºC e 4.8ºC em 2100, caso os Estados signatários do Acordo de Paris não tomem medidas para limitar o aquecimento do planeta abaixo de 2ºC. “As alterações climáticas não são apenas um risco do futuro: já começaram a transformar a vida na Terra, embora os piores impactos ainda estão por vir”. “Evitar os piores impactos das alterações climáticas implica um massivo desafio para humanidade. O planeta emite cerca de 40 gigatons de CO2 por ano e está a caminho de duplicar até 2050, altura em que deveríamos reduzi-las para quase zero, de forma a respeitar o Acordo de Paris”, reforçou a instituição.

Como consequências irrecuperáveis e catastróficas para o futuro da humanidade, o degelo dos glaciares, causado pelo aumento da temperatura da Terra, poderá aumentar o nível do mar em dois metros, o que “poderá desalojar 200 milhões de pessoas em 2100”. Ainda mais alarmante, períodos passados na história da Terra indicam que a subida da temperatura entre 1.5ºC e 2ªC podem causar o degelo na Groelândia e na Antártica e provocar o aumento do nível do mar em mais de seis metros, mencionado no livro “Cisne Verde”.

O impacto das alterações climáticas no mundo financeiro

As consequências dessas alterações climáticas serão incertas, mas há uma certeza nesse processo: “as catástrofes climáticas são mais sérias do que a maioria das crises financeiras sistêmicas, porque podem representar uma ameaça existencial para a humanidade”.

Segundo informa o BIS, as mudanças climáticas vão causar essencialmente dois riscos financeiros: de um lado, há os “riscos físicos”, que representam “custos econômicos e perdas financeiras devido à cada vez maior frequência e severidade” de catástrofes naturais; por outro lado, existem os “riscos de transição”, que são “associados com impactos financeiros incertos que poderão resultar de uma rápida transição energética para menores emissões de CO2, impactos reputacionais, avanços tecnológicos ou limitações, e alterar as preferências dos mercados e das normas sociais”.

Stranded assets termo que traduzido do inglês significa “ativos que sofreram reduções, desvalorizações ou conversão imprevisíveis ou prematuras” ou seja, são ativos ociosos – causados por uma rápida transição energética. Estudos citados no livro apontam que para “haver 50% de hipóteses em manter o aquecimento global abaixo de 2ºC, deveriam deixar inutilizadas cerca de 80% das reservas de carvão, metade das reservas de gás, e um terço das reservas de petróleo entre 2010 e 2050”.

Alguns estudos levaram a conclusão de que “os ativos fósseis encalhados poderiam custar entre um bilhão e quatro bilhões de dólares à economia mundial. Enquanto, a Agência de Energias Renováveis estimou esse custo em 18 bilhões de dólares. Portanto, não usar esses ativos acabaria por gerar impactos financeiros, ainda que diversos estudos mostrem níveis de custos diferentes.

Por sua vez, estes dois tipos de risco – os físicos e os de transição poderiam provocar outros riscos de naturezas distintas. Como por exemplo, os “riscos de crédito” – causados pelas mudanças climáticas que provocariam a deterioração do devedor quitar as dívidas, aumentando as probabilidades de não cumprimento das metas. E/ou os “riscos de mercado”, devidos a alteração da percepção dos investidores mediante a possibilidade de lucros, no caso os ‘ativos ociosos’ elevados. Ou ainda, os “riscos com os seguros”, que atingiriam as seguradoras no caso, dos contratos de seguros serem acionados pelos clientes.

As alterações climáticas e o novo papel dos bancos centrais

De toda forma, as mudanças climáticas vão causar reações no mercado financeiro. Essa questão da impossibilidade de controlar aspectos imprevisíveis da natureza, cria um certo desconforto pela incapacidade dos agentes em contornarem ou evitarem catástrofes em suas diversas dimensões. Justamente para não fracassarem em seus empreendimentos, torna-se cada vez mais premente que busquem soluções, antes para salvaguardarem bens patrimoniais e vidas humanas, do que precisarem de última hora demandar movimentos urgentes de situações por si só irreversíveis e incontornáveis.

Para tanto, o papel dos bancos centrais poderá ser de “socorristas de último recurso”, à uma espécie de “seguradora coletiva para danos causados pelas alterações climáticas”. E que será muito mais difícil intervir, no caso de as economias se tornarem inviáveis em decorrência dessas alterações.

A conscientização sobre o assunto aumentou e vai obrigar a uma realocação do capital mais rápida do que muitos antecipam, afirmou, Larry Fink, CEO da BlackRock.

O CEO salientou, “acredito que estamos na fronteira de uma reformulação fundamental do sistema financeiro” devido à essa percepção. Em setembro do ano passado, milhões de pessoas foram às ruas para cobrar ação sobre mudanças climáticas, muitas delas ressaltaram o significativo e duradouro impacto que essas mudanças vão ocasionar no crescimento econômico e no desenvolvimento, um golpe que até agora os mercados têm sido muito lentos em considerar.

Se as mudanças climáticas passarem a ser fator fundamental e definidor das perspectivas das empresas a longo prazo, as provas sobre tal risco estão convencendo os investidores a reavaliar os pressupostos, e a investigação conduzida por várias organizações – como o painel intergovernamental das Nações Unidas sobre o assunto e o BlackRock Investment Institute – aprofundam o conhecimento sobre como esse risco climático poderá impactar não só o mundo físico, mas também o sistema global que financia o desenvolvimento econômico. Outro questionamento do gestor é, se as cidades irão poder financiar as necessidades de infraestruturas à medida que o risco climático altera o mercado de obrigações municipais, ou como é que o crescimento poderá ser forjado se os mercados emergentes verem a produtividade cair, devido ao calor extremo ou outros impactos climáticos. “Os investidores a debruçar-se cada vez mais sobre estas questões e a reconhecer que o risco climático é risco de investimento”, adiantou.

Estas questões irão conduzir à uma profunda reavaliação do risco e do valor dos ativos”. “E porque os mercados de capitais antecipam o risco futuro, vamos ver alterações na alocação do capital mais rápidas do que as próprias alterações climáticas”. “No futuro próximo – e mais cedo do que muitos antecipam – irá haver uma significativa realocação do capital”, explicou Fink.

A escala e o âmbito da ação governamental sobre as mudanças climáticas nos próximos anos, vai ser uma das grandes questões, como parte de um desafio que não pode ser solucionado “sem uma resposta coordenada e internacionalizada dos governos alinhados com os objetivos do Acordo de Paris”. Fink ressaltou, que tal esforço levará décadas, porém a parte dos governos, das empresas e dos investidores também terá um papel de destaque importante.

O gestor sublinhou a importância que os investidores, reguladores, seguradoras e o público em geral precisarão ter no disclosure, ou seja, na ordem de uma transparência sobre a gestão dessas empresas com relação as questões de sustentabilidade.

“Com o tempo, as empresas e os países que não responderem sobre estes riscos de sustentabilidade irão enfrentar a desconfiança crescente dos mercados e um custo de capital mais elevado” frisou.
Sobre a atuação das empresas, Fink revelou que no ano passado a gestora de ativos votou contra, ou absteve-se dos votos de 4.800 diretores de 2.700 empresas, salientando que se as empresas ou os boards não fornecerem a informação ou o quadro da gestão sobre sustentabilidade, a BlackRock irá responsabilizar os diretores.

“Dado o trabalho que já preparamos para fomentar o disclosure… estaremos cada vez mais dispostos a votar contra gestores e diretores quando as empresas não mostrarem progresso suficiente na partilha da informação sobre a sustentabilidade e as práticas empresariais e planos subjacentes”.

Portanto, da mesma maneira que testes de stress são feitos para apurar a resiliência financeira no caso de uma crise, testes de stress climáticos também seriam realizados, e na teoria, caso confirmados nesses testes, riscos climáticos existentes, “poderiam ser aplicados requisitos de capital aos bancos para mitigar a exposição a esses riscos”, explicou o BIS.

A sociedade precisa encarar com rapidez e seriedade que a situação demanda, o desafio profundo e o social do meio-ambiente.

Por Silvana Santolia – Linguista, Professora e ativista no EcoTrabalhismo

Referência

BIS – The Bank of International Settlements report – The green swan – Central banking and financial stability in the age of climate change.

https://www.minterellison.com/sitecore/content/MinterEllison/Website/articles/2020/01/22/02/45/summary-bis-green-swan-report-january-2020