A direita democrática

Por Nildo Ouriques - Fernando Henrique expressou como ninguém a lógica da conciliação de classes quando comandou uma aliança do PSDB com o PFL para disputar e vencer as eleições de 1994. A "tese", simples como deve ser uma boa tese, anunciava a existência de uma "direita democrática" e outra "autoritária". Em consequência, FHC reivindicava a aliança com a direita democrática para impedir o "avanço" da direita autoritária que após uma transição por cima ainda possuía muita força após a ditadura.
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Por Nildo Ouriques – Fernando Henrique expressou como ninguém a lógica da conciliação de classes quando comandou uma aliança do PSDB com o PFL para disputar e vencer as eleições de 1994. A “tese”, simples como deve ser uma boa tese, anunciava a existência de uma “direita democrática” e outra “autoritária”. Em consequência, FHC reivindicava a aliança com a direita democrática para impedir o “avanço” da direita autoritária que após uma transição por cima ainda possuía muita força após a ditadura.

Há poucos dias, o antigo argumento reapareceu na boca de vários dirigentes do liberalismo de esquerda para quem a luta contra o autoritarismo e o fechamento do regime é a fronteira da luta democrática.

Na bancada do PSOL, o MES se adiantou e reivindica a linha de votar no candidato do Rodrigo Maia. O Maia, sabidamente homem do sistema financeiro, esta à direita de Guedes na defesa da agenda ultra liberal mas figura agora como um democrata que supostamente não aceita o autoritarismo de Bolsonaro e possui um compromisso com o regime liberal burguês e a democracia.

Ora, Maia quer encabeçar a coesão burguesa, tirar a “hegemonia” do capitalismo dependente rentístico das mãos de Bolsonaro/Guedes. A coesão é comandada pela fração financeira da qual Maia é o mais disciplinado servo. A fração financeira, como ensina a história latino-americana (europeia também) não possui uma molécula de compromisso com o regime liberal burguês.

Navegar no interior do liberalismo de esquerda é derrota na certa. Cedo ou tarde, a conta chega; de maneira geral, a conta chega cedo.

De resto, nenhuma articulação parlamentar estancou a força da direita fascista em lugar algum do planeta. A redução da política ao parlamento, especialmente nas circunstâncias brasileiras, é um erro tão grave quanto estratégico. Ora, mesmo uma revisão superficial da luta pela democracia na América Latina ensina que os democratas, quando a vida cobra uma posição clara, podem ser contados nos dedos da mão.

A bancada do PSOL ainda não possui decisão, creio. Mas não duvidaria que o MES esta disputando com a Primavera a liderança intelectual e política do Partido nessa decisão. Finalmente, mesmo num tema parlamentar, seria correto que o diretório nacional fosse reunido para discutir e decidir sobre o tema. Há tempo, pois a decisão será em janeiro e essa não é uma questão tática sem repercussão no futuro. Em determinadas conjunturas, as questões táticas ganham conteúdo estratégico.

Vamos aguardar, vigilantes, cada passo dos parlamentares.