Álvaro Dias: atropelado pelo Roda Viva

Álvaro Dias no Roda Viva
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O ex-governador e senador Álvaro Dias é o pré-candidato sabatinado nesta semana pelo tradicional programa Roda Viva da Tv Cultura. DISPARADA, através deste espaço, fará sua cobertura semanal.

Álvaro Dias é político há quase 50 anos. É o candidato do PODEMOS à presidência do Brasil. O PODEMOS brasileiro é uma jabuticaba fisiológica presidido por uma deputada do antigo baixo clero, de nome Renata Abreu, alçada a voo ainda na era Cunha. O oportunismo do nome do partido, furtado do movimento espanhol de esquerda, já causou embaraços aos militantes do partido de Abreu. A agremiação espanhola repudiou seu homônimo tupiniquim, dizendo que “este nada se assemelha aos nossos ideais”. Feitas as introduções, vamos à entrevista.

O senador fala de forma abstrata, vaga , e tem extrema dificuldade para propor qualquer coisa que não soe mero moralismo. Seu botox é posto à prova a todo o momento, com longas e pausadas risadas descompassadas com o assunto tratado. A fala lenta e cantada que permeou os políticos brasileiros desde o Império é muito clara no ex-governador. É um esforço quase messiânico assistir sua entrevista.  A Lava-Jato de fato terminou o trabalho de fulanizar o debate udenista que já era imposto pela grande mídia brasileira.

A bancada teve atuação destacada nesta entrevista. Participou ativamente quando questionou, por meio da jornalista Ana Claudia Mielke, sobre a incongruência de se pregar moralidade e ter como maior aliado estadual um político concessionário de TV Pública. Álvaro Dias desconversou, coisa que fez muito durante o programa.

Questionado sobre segurança,  defendeu o porte de armas por uma questão de “ser democrata”. Afinal, o Brasil já mostrou em plebiscito, segundo o candidato, suas “vontades”. Confrontado sobre as conseqüências do armamento num país recorde de crimes passionais, repetiu a mesma fala “democrata” incessantemente, como se algo diferente fosse sair de seu senso comum.

Como bom tucano reformado, propôs o receituário já tradicional do partido: corte de despesas públicas sem mexer nos privilégios de uma casta especuladora, reforma da previdência e reformas fiscais. Enxugar o que ainda nem foi molhado. Citando as benesses dessas medidas, lembrou um suposto episódio, dificilmente verídico, de um antigo “funcionário público do governo do Paraná” que anos depois de ter sido demitido pelo governador, agradeceu seu algoz, dizendo: “graças a você hoje eu sou um grande empresário”. Fanfic neoliberal.

Apesar de tucano na essência, mostrou uma certa discordância do receituário vigente, indo contra o “impraticável” Teto de Gastos do governo Temer. O ex-governador ainda possui certo bom senso de saber que o cumprimento deste teto seria uma catástrofe social. Outro momento de lucidez foi no diagnóstico de desindustrialização. O candidato propôs um modelo de alta produção que beneficiasse os micro-empreendedores, algo próximo do modelo alemão. Até um relógio quebrado acerta o horário duas vezes ao dia. A segunda foi quando defendeu uma reforma tributária que taxasse a renda e não o consumo. Em tempos como os nossos, até as maiores obviedades devem ser comemoradas.

A entrevista girou em torno de sua autoproclamada “refundação da república”. Um artifício retórico – inclusive já utilizado por setores do PT – pra dizer nada parecendo dizer tudo. A bancada – cito novamente – teve participação excepcional, contrapondo a suposta “veia liberal” do ex-governador com mentalidades e práticas do século passado.

Álvaro Dias perdeu para o Roda. Foi engolido pelos entrevistadores com extrema facilidade e saiu do programa ainda menor do que entrou.

Próxima!