Apoio de grupo de caminhoneiros a Bolsonaro mascara o golpismo

Apoio de grupo de caminhoneiros a Bolsonaro mascara o golpismo
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Grande parte dos caminhoneiros, certamente a maioria, apoiou Bolsonaro nas últimas eleições. A razão era a esperança de que seus interesses objetivos, notadamente os referentes ao preço do diesel, seriam atendidos pelo novo Governo depois da infame política de preços exercida pela Petrobrás no Governo Temer. Recorde-se que para conciliar a política da Petrobrás com as exigências dos caminhoneiros na greve de 2018 foi necessário adotar um indecente subsídio ao diesel, de cerca de R$ 10 bilhões, em favor da empresa.

Na campanha, Bolsonaro deu aos caminhoneiros a esperança de baixar, e manter baixo, o preço do diesel e fiscalizar a tabela de preços mínimos do frete. Logo depois da eleição a promessa foi cobrada. Entretanto, por razões ideológicas e de cumprimento de acertos internacionais, a Petrobrás manteve a política de preços dos derivados alinhados aos preços externos. Diante do aumento do preço do diesel retomado pela empresa,  porém, os caminhoneiros pularam, e Bolsonaro determinou à Petrobrás voltar atrás por uns dias.

Obviamente, esse passinho pra trás e passinho pra frente não pode durar eternamente. A Abcam (Associação Brasileira de Caminhoneiros) levou à Casa Civil um estudo completo mostrando a viabilidade de redução do preço do diesel e de sua estabilização a partir de um fundo financiado por imposto sobre lucro de exportação. Foram iniciadas negociações, mas logo interrompidas pela preparação da greve geral do último dia 14. Os caminhoneiros, entre os quais a Abcam, não participaram da greve, à espera da resposta a suas demandas.

O Governo agiu com malandragem. Dobrou para 40 o número de pontos para se  perder a carteira e dispensou o exame toxicológico para renovação dela. A Petrobrás, por sua vez, ganhou tempo com a queda do preço internacional do petróleo nas últimas semanas. Todos sabem, porém, que isso é temporário. Diante disso, é fundamental que a Petrobrás tenha uma política de estabilização dos preços por intervalos decentes de tempo. Isso, contudo, esbarra na resistência absoluta da empresa, que decidiu também privatizar oito refinarias, eliminando com isso a possibilidade de uma política de preços no futuro, e deixando tudo ao mercado livre, isto é, às multinacionais..

É nesse contexto que alguns grupos restritos de caminhoneiros convocaram a manifestação desse domingo em Brasília, contra o Congresso e contra o STF. Não anunciaram qualquer reivindicação econômica. Falam, genericamente, num movimento contra a corrupção. Isso não tem nada a ver diretamente com caminhoneiros e camufla um claro propósito de estabelecer o caos na capital federal. Seus arautos sequer tocaram na questão do preço do diesel ou da tabela de frete. É pura política  bolsonarista.

O movimento pretende ser a favor de Bolsonaro, mas ninguém explica em que medida ele está em risco. Na verdade, Bolsonaro, em mais de  uma ocasião, manifestou seu desconforto com a resistência do Congresso a algumas medidas absurdas que adotou, notadamente a do descontrole de armas. Há pouco reclamou que queriam fazer dele “rainha da Inglaterra”. Com isso se cria uma clara animosidade contra as instituições republicanas, o que dá ao grupo de caminhoneiros bolsonaristas ganas de fechar o Congresso e o STF.

Nós conhecemos, desde o ano passado, a força dos caminhoneiros, mas eles só são realmente fortes se agirem conjuntamente. Não é o caso. Mas grupos radicais de caminhoneiros podem fazer estrago. Quem conhece bem isso é Paulo Guedes, que teve lições no Chile sobre o movimento de caminhoneiros decisivo na derrubada de Allende em 1973. Aqui talvez essa manifestação não seja para decidir, mas para testar o ambiente. E não é para derrubar o Presidente, mas para lhe dar poderes ditatoriais. Felizmente, a grande maioria dos caminhoneiros, sobretudo os decepcionados com Bolsonaro, não está nessa.