Bolsonaro já pretende culpar Argentina pelo próprio fracasso

Mal foram divulgados os resultados das eleições primárias realizadas ontem na Argentina e a resposta do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, veio em cheio.
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Mal foram divulgados os resultados das eleições primárias realizadas ontem na Argentina e a resposta do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, veio em cheio.

Depois da vantagem enorme aberta por Alberto Fernández e Cristina Kirchner sobre Mauricio Macri (mais de 15 pontos percentuais), Bolsonaro disse hoje, no Rio Grande do Sul, que o estado pode se tornar uma nova Roraima caso a “turma da Cristina Kirchner” volte ao poder.

Curioso que essa seja a visão do presidente, pois os índices econômicos da Argentina de Mauricio Macri, hoje, são todos piores do que os índices econômicos dos tempos dos Kirchner.

Só para constar, a pobreza na Argentina atualmente abarca 33% da população, enquanto a inflação, a mais alta nos últimos 27 anos, atingiu 47,6% em dezembro de 2018.

A que crise humanitária o presidente está se referindo? Já não há uma na Argentina liberal de Macri? Com quase cinquenta por cento de inflação ao ano, 40% de informalidade no emprego da população e alto desemprego, é difícil acusar o próximo governo, só por ser de esquerda, de gerar uma crise humanitária semelhante a que assola a Venezuela.

Na verdade, o presidente fecha os olhos para o fato de que a Venezuela poderia ser outro país não fosse o profundo bloqueio econômico dos EUA que simplesmente impede a Venezuela de controlar os próprios ativos financeiros e de fazer comércio com o restante do mundo como qualquer outro país costuma fazer.

Disso só decorre uma conclusão lógica: o liberalismo espontâneo de Mauricio Macri é tão absurdo quanto o isolamento forçado imposto sobre a Venezuela.

Pior, o liberalismo espontâneo de Macri é visto como modelo de política econômica pela “turma de Bolsonaro”.

Cabe agora nos perguntarmos a respeito da viabilidade desse modelo. Já estamos no oitavo mês de governo Bolsonaro e ainda nenhuma solução para o desemprego e o baixo desempenho econômico foi sequer esboçada.

Pelo contrário, a prévia do Banco Central para o PIB, divulgada hoje, já aponta que a economia brasileira encolheu pelo segundo trimestre seguido e estamos prestes a retornar à recessão técnica.

Não surpreende, portanto, que a direita liberal brasileira, que só tem a oferecer ao país um punhado de falsas promessas, pretenda culpar a Argentina pelo próprio fracasso.

Mas se o PIB brasileiro está dançando um tango argentino, alguém precisa avisar que dessa vez o som vem de Brasília.