Bolsonaro e o Golpe em Gestação

Bolsonaro e o Golpe em Gestação
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​Desde que assumiu o poder, Bolsonaro vem sistematicamente atacando a república brasileira e organizando lentamente um clima de aceitação ao golpe e de infiltração nas instituições estatais de elementos bolsonaristas que devem dar suporte ao seu intento.

Fechar os olhos neste momento não é mais possível para as forças dos trabalhadores, de esquerda e democráticas, pois é evidente que o governo trabalha neste sentido. Neste caso é melhor trabalhar com a hipótese de um golpe do que ser pego novamente, como em 1964, despreparados. Não podemos pensar que este é um diagnóstico excessivamente apocalíptico, pois está claro como a luz do dia que Bolsonaro orquestra algo neste sentido.

Bolsonaro e o Golpe em Gestação

Entre pessoas próximas, à algum tempo defendia a impressão de que se Bolsonaro não caísse até as eleições de 2022, estas não ocorreriam mais (e se estas, caso ocorram será dentro de um cenário de terror e fraude). Esta observação, que era apenas uma impressão vem a cada dia ganhando mais densidade. Achar que as eleições de 2022, vão conseguir limpar as nuvens do céu, parece de uma inocência sem tamanho. Bolsonaro, que nunca foi um democrata, se não ganhar a eleição, não irá entregar o poder para seu sucessor, seja ele quem for, Ciro Gomes, Luciano Huck, João Doria ou Fernando Haddad, e para isto ele já está montando uma estrutura de apoio aos seus desejos.

​Primeiro, e este ponto é central, devemos nos atentar que existe uma crise internacional profunda na ordem capitalista que se manifesta de uma forma peculiar e acentuada no Brasil. Desde a crise econômica de 2008 o mundo vem tropeçando em matéria de crescimento. Os grandes empresários vêm tentando aprofundar os ataques a classe trabalhadora para maximizar as suas margens de lucro. Portanto, existe um ataque aos direitos dos trabalhadores em nível mundial.

Com a falta de perspectiva das classes políticas tradicionais de saírem deste beco, o grande empresariado vem apostando suas fichas em saídas mais extremas, que tenham a coragem necessária para atacar e desmontar o estado de bem-estar social e os direitos trabalhistas no mundo todo, há desta forma, não só no Brasil, mas no mundo todo, um aumento das desigualdades.

É neste contexto internacional que Bolsonaro é eleito (maximizado internamente pela debacle do projeto petista), ele é o representante nacional deste ataque em nível mundial. A elite brasileira viu nele a chance de desmontar os direitos trabalhistas e sociais, para tentar superar a crise em que se arrasta o capitalismo nacional (além de reorganizar a economia nacional no sentido da reprimarização reforçando o papel subordinado do Brasil na divisão internacional do trabalho).

Portanto, Bolsonaro tem o apoio irrestrito da elite do país, independente dos seus ataques à democracia, coisa que nunca desagradou a grande burguesia brasileira. Desde que continue aprovando as reformas que desmontem os direitos dos trabalhadores e reforcem o papel colonial da nossa economia, Bolsonaro continuará a ter o apoio deste setor. Esperar que o “mercado” se mobilize a favor da democracia é como acreditar em unicórnios e duendes.

​Uns podem afirmar que caso as eleições ocorram em 2022 e um Luciano Huck ou João Doria vençam as mesmas, a grande burguesia poderia abandonar Bolsonaro, já que eles seriam representantes mais típicos desta classe. Esta forma de interpretação parece equivocada, pois apesar de serem belos representantes da elite brasileira, faltam a Huck e Doria um ingrediente essencial: A mobilização de parte importante da população.

Doria e Huck não despertam paixões, eles podem ter alguma força eleitoral, mas ninguém irá às ruas defender seus projetos e chamá-los de “mito”, a burguesia sabe muito bem, que agora ela precisa de alguém que tenha a audácia e a força para implementar as reformas, pois a direita “bem comportada” não mobiliza as ruas, e este ingrediente é essencial dentro de um quadro de grave instabilidade no cenário internacional.

Bolsonaro tem a seu favor o mérito de conseguir aglutinar forças dispersas da direita e dar um caráter de massa a esses grupos, ele foi a “cola” que uniu grupos fragmentados, que possuem uma disposição militante para ir às ruas e lutar por seu presidente. Algo que nenhum político da direita tradicional tem.

​Portanto, tenhamos bem claro, Bolsonaro é no momento o político mais consequente na defesa dos interesses do grande empresariado, ele mantém o apoio da elite brasileira, para se perpetuar no poder, e aí temos o primeiro ingrediente da sua orquestração, o apoio de um setor social que tem um poder enorme, tanto econômico como político.

Outro elemento importante da equação se refere a forma como Bolsonaro vem ampliando a presença de militares e generais (muitos na ativa) em seu governo, presença essa que já era extensa, se aprofundou ainda mais. Esse movimento pode ter como intenção fornecer a necessária cobertura dos militares a um projeto golpista, estes dariam o suporte das armas as intenções de Bolsonaro. Esses militares retomariam assim, mesmo sob a sombra de Bolsonaro, a proeminência nas decisões políticas. Os militares sempre tiveram um papel de destaque na política brasileira durante a história da república, protagonismo este que foi perdido durante os anos da Nova República, graças a queda do Regime Militar de 1964.

Outro indicativo desta organização golpista é a atuação das polícias militares em todo o Brasil. Diversos setores das forças policiais atuam como se reconhecessem apenas a liderança de Bolsonaro e passam a articular movimentos em diversos estados que atacam e chantageiam os governos estaduais. Esses policiais constituem uma das principais bases de apoio massivo do bolsonarismo na sociedade e estão cada vez mais assumindo o papel de organizações paramilitares. O modelo de milícia que foi testado com sucesso no RJ (base política de Bolsonaro, o que não é uma coincidência), passar a ser exportado para os outros estados, mas já com uma clara função de apoio político ao presidente e sua política de cunho fascista, além do tradicional papel criminoso que as milícias exercem.

Após o evento envolvendo o senador Cid Gomes, que com coragem enfrentou o grupos de policiais amotinados em um quartel em Sobral e que fechavam o comércio nas ruas, Bolsonaro e seus ministros não deram declaração alguma de reprovação ao motim. Pelo contrário, seu filho Eduardo Bolsonaro, defendeu o movimento, escancarando o apoio político que tal movimento recebe do palácio do Planalto. O intuito parece ser , incentivar a rebeldia dos policiais contra os governadores, para se formarem milícias paramilitares que darão o suporte armado a um provável golpe nas ruas, já que as forças policiais estão dispersas por todo o território nacional.

Em um duplo movimento Bolsonaro teria o apoio do alto escalão do exército que mobilizaria tropas e nas ruas, mesmo as mais distantes dos centros populacionais, o apoio de milícias paramilitares, tudo isso envolvido pelo apoio da elite brasileira, satisfeita com as reformas e a política ultraliberal de Paulo Guedes.

​Imaginar que os países imperialistas deixariam de negociar com o Brasil, ou que os investidores se afastariam do país por causa de um rompimento democrático é também de uma grande inocência e desconhecimento do funcionamento do mercado e do capitalismo internacional, estes nunca tiveram quaisquer problemas éticos em negociar com regimes autocráticos, pelo contrário, sempre apoiaram regimes deste gênero, desde que não interferissem em seus interesses.

França, Alemanha e outros países imperialistas poderiam dar declarações contrárias em um primeiro momento, mas sua resolução “democrática” não irá ultrapassar a barreira de algumas palavras e notas para a imprensa.
É no meio deste caldo que surge a conclamação à manifestação de 15 de Março. Esta vem endossar todo um caminho que já está sendo trilhado por Bolsonaro, ela é a cereja do bolo, e a depender de sua força mostrará ao governo qual o seu nível de apoio nas massas, servindo mais uma vez como instrumento para emparedar o Congresso e ameaçar a oposição, auxiliando a criar um clima de favorecimento aos desejos golpistas de Bolsonaro.

​Já passou o tempo de subestimarmos Bolsonaro, pois ele possui um projeto de poder e está construindo uma rede e estrutura para dar suporte aos seu ímpeto golpista, algo que ele nunca fez questão de esconder. Para nós, da esquerda, passou o tempo de esperar as eleições, e os recursos judiciais que não dão em nada, o momento é da ação, do tipo que vislumbramos na atitude do senador Cid Gomes e de organização. Quando chegar 2022 talvez seja tarde demais.

Por Max Marianek, graduado em História pela CUFSA – Fundação Santo André e Graduado em Biblioteconomia pela USP – Universidade de São Paulo