Brasil, beija essa boca que te escarra! A nova genuflexão pátria sob Bolsonaro e Ernesto Araújo

Brasil beija essa boca que te escarra A nova genuflexão pátria sob Bolsonaro e Ernesto Araújo apoio ao candidato de Trump contra um brasileiro para a presidência do BID
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Juntamente com as convenções internacionais e os princípios gerais do Direito, os costumes são fonte do Direito Internacional. Os costumes são lei do direito internacional. Mas a subversão bolsonarista não se limita ao Brasil. Se para agradar os EUA é preciso quebrar a lei … ora, às favas a lei!

O Banco Interamericano de Desenvolvimento tem sede em Washington e sempre foi presidido por um latinoamericano, porque assim foi combinado. É uma regra costumeira de direito internacional que vige há 60 anos. Presidiram o BID o chileno Felipe Herrera (1960-1970), o mexicano Antonio Ortiz Mena (1970-1988), o uruguaio Enrique Iglesias (1988-2005) e o colombiano Luis Alberto Moreno, que, com o apoio dos EUA derrotou o brasileiro João Sayad em 2005, reelegeu-se em 2010 e 2015 e deixa a presidência este ano, diante de nova regra que proibe mais de uma reeleição. Em 60 anos, o vice-presidente sempre foi um estadunidense. É a lei.

Pelo rodízio natural entre os países latinoamericanos, 2020 seria a vez da Argentina ou do Brasil plantarem um presidente na importante instituição, um dos mais importantes instrumentos da convivência hemisférica. Como a Argentina elegeu um candidato nacionalista para a presidência, Alberto Fernandez, e dado à conjuntura mais à direita na região, seria naturalmente a vez do Brasil.

Porém, no entanto, todavia, contudo, o presidente do Brasil é, ainda, Bolsonaro e tudo o que “Mito” toca não vira exatamente ouro, antes pelo contrário. Dada a “liderança” de Bolsonaro na região, Trump resolveu quebrar a tradição e enfiar goela abaixo da América Latina um homem de sua confiança, Mauricio Claver-Carone, diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional para Assuntos do Hemisfério Ocidental, responsável pelas políticas mais ofensivas para sufocar a economia venezuelana.

Quatro ex-presidentes da República – o chileno Ricardo Lagos, o uruguaio Julio María Sanguinetti, o colombiano Juan Manuel Santos e o mexicano Ernesto Zedillo, todos conservadores, nenhum esquerdista – lançam uma dura nota:

“A proposta de nomeação do Sr. Claver-Carone no BID não anuncia bons tempos para o futuro da entidade, o que nos leva a expressar nossa consternação com essa nova agressão do governo dos Estados Unidos ao sistema multilateral, com base nas regras acordadas pelo países membros. Pedimos respeitosamente a outros parceiros do BID que se oponham às ações do governo dos Estados Unidos, lembrando que tanto a Argentina quanto o Brasil propuseram alternativas em uma decisão que alega ser feita com peso e realismo.

Não é hora de complicar ainda mais o período difícil que a América Latina e o Caribe enfrentam devido à pandemia e às suas sérias consequencias econômicas e sociais. Com essa proposta, o presidente Donald Trump constrói mais um muro em sua maneira de entender o relacionamento dos Estados Unidos com o resto do continente. Ainda é hora de mostrar, com argumentos e determinação, o alto inconveniente de aceitar a imposição pretendida pelo governo dos Estados Unidos. ”

Diante do protesto dos ex-presidentes dos países mais importantes do continente e da menção específica aos direitos da Argentina e do Brasil ao posto, o que faria um Presidente do Brasil que tivesse um átimo de inteligência e de patriotismo? Moveria a diplomacia brasileira, reconhecidamente competente, para beneficiar-se da situação e trazer para o Brasil a presidência do BID.

Mas, porém, todavia, contudo, o Presidente do Brasil ainda é Bolsonaro. E como desgraça pouca é bobagem, o ministro da Economia é o chicago-boy Paulo Guedes e o ministro das Relações Exteriores é o olavista-terraplanista Ernesto Araújo. O que fez a trindade patética e traidora? Sim, claro: soltaram nota apoiando a candidatura estadunidense!

Aliás, não é uma nota diplomática, é uma melosa declaração de amor incondicional de uma colônia à matriz, uma enojante expressão diplomática da Síndrome de Estocolmo:

“O Governo do Brasil congratula-se com o anúncio do forte compromisso do Governo dos Estados Unidos com o futuro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com a candidatura americana à liderança dessa instituição.

O Brasil e os Estados Unidos compartilham valores fundamentais, como defesa da democracia, liberdade econômica e Estado de Direito.

O Brasil defende uma nova gestão do BID alinhada com esses valores e com o objetivo maior de promover o desenvolvimento e a prosperidade na região”

A nota pode ser resumida assim: se os EUA não querem que o Brasil presida o BID isso deve ser bom para o Brasil, porque os EUA sempre sabem o que é melhor para o Brasil. Diplomatas experientes que ainda conseguem indignar-se estão estupefatos. Nunca antes na história deste país se viu tamanha iniquidade!

A nossa diplomacia, em governos civis e militares, sempre se colocou em posição de desconfiança e altivez diante os desígnios imperialistas dos Estados Unidos para com a América Latina. Era assim quando o Brasil era Brasil e gozava respeito internacional. Quando não era um abjeto pária.

E, afinal e ao cabo, o candidato de Trump foi eleito com as abstenções do México, Argentina e Chile. O Brasil sentou no colo dos EUA e deu uma banana para os países latino-americanos. O Disparada alertou e protestou há 3 meses. Consumado o crime, até o Globo protestou em editorial publicado hoje (Bolsonaro avança no projeto de demolir a democracia brasileira – https://oglobo.globo.com/opiniao/bolsonaro-avanca-no-projeto-de-demolir-diplomacia-brasileira-24639748)

Hoje, sob um presidente genuflexo e babão, o Itamaraty é inspirado pelo avesso do poema de Augusto dos Anjos: afaga essa mão vil que te apedreja e beija essa boca que te escarra!

Brasil beija essa boca que te escarra A nova genuflexão pátria sob Bolsonaro e Ernesto Araújo apoio ao candidato de Trump contra um brasileiro para a presidência do BID