Pane no sistema: O comício de Bolsonaro no Jornal Nacional

Jair Bolsonaro no Jornal Nacional, em entrevista em 28/08/2018
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Jair Bolsonaro no Jornal Nacional, em entrevista em 28/08/2018

Jair Bolsonaro é o segundo convidado da tradicional série de entrevistas com presidenciáveis promovida pelo Jornal Nacional da Rede Globo. DISPARADA, por meio de seus colunistas, fará a análise de todos os entrevistados, durante a semana.

A entrevista de Jair Bolsonaro foi impecável. Se a possibilidade da extrema-direita vir a presidir o Brasil antes era apenas um devaneio dos mais assustados, hoje é realidade. Nesta noite Jair Bolsonaro consolidou-se como candidato forte ao pleito de 2018.

A rede Globo teve papel importante. As perguntas pareciam elaboradas por “focas” (novatos e inexperientes jornalistas, no jargão da classe). A insistência nas polêmicas do candidato nas questões dos costumes transformou o Jornal Nacional num grande Superpop, com direito a citação de Luciana Gimenez e tudo mais. Bolsonaro brilhou. Falou aos seus asseclas e aos brasileiros encantados pela simplicidade. A homofobia transformou-se em proteção às crianças. O machismo estrutural foi reduzido à incompetência do Ministério Público do Trabalho. Bolsonaro levou seu público ao delírio. Firme e sem as tradicionais gaguejadas, o capitão disse duas bravatas livremente, sob os comentários atrasados e mal formulados do “ex-marido” Bonner, vítima de chacota do deputado em alguns momentos da entrevista.

A bancada insistiu durante 7 minutos numa eventual separação de Bolsonaro e Paulo Guedes. O brasileiro médio, maltratado nas latas de sardinha do transporte público, sem dúvida não entendeu bulhufas do que estava sendo insistido. Se Bolsonaro está com Guedes e Guedes está com Bolsonaro, o assunto está findo, ora. Os minutos serviram pra Bolsonaro exaltar Paulo Guedes e responder a Bonner e Renata o óbvio.

Sua maior trupicada foi quando, perguntado sobre seu voto contrário a PEC das Domésticas, o capitão inventou uma justificativa sem pé nem cabeça, ancorada em achismos que não tem base na realidade. Terminou o momento trágico com a reflexão: “muita gente que dormia no trabalho hoje não dorme mais, muita gente que chegava cedo pra fazer café pros patrões, hoje não chega mais”. As senhoras que antes chegavam cedo ou mesmo as que dormiam, sem dúvida, não sentem saudade.

A incompetência da produção conseguiu constrangê-lo pouquíssimas vezes. A primeira foi quando, após uma desastrosa declaração do candidato, afirmando que a apresentadora Renata Vasconcellos “ganhava menos que ele (Bonner)”. Duramente reprimido, a apresentadora exaltou que não aceitaria receber um salário menor do que o de um homem, exercidas as mesmas funções.

Bolsonaro tripudiou as Organizações Globo. Disse que a emissora “vivia em grande parte de recursos da união, com bilhões e bilhões” e no golpe de misericórdia, citou de cabeça todo o famoso editorial de “O Globo”, que apoiava efusivamente o Golpe Militar de 1964. Associou suas posições com às de Roberto Marinho, marcando-lhe como igual. Tudo isso sob o silêncio de seus vassalos.

Ao final da entrevista, deu um tom mais agressivo que o habitual no tema da segurança pública. Até para os padrões de um boçal como ele. Os grupos de zap foram ao delírio com suas falas beligerantes. Armamento forte para a polícia, violência e mais violência. As ponderações de Renata Vasconcellos não surtiram efeito e o candidato deixou a entender que as mortes de inocentes nos conflitos são naturais. Banalizando a morte de inocentes na periferia, perdeu ainda mais votos das mães do subúrbios, já calejadas pela violência estatal.

Estas mães talvez sejam a esperança de nosso país. Talvez sejam elas o fator que impedirá nossa terra de cair nas mãos do despreparo e do autoritarismo. Amor de mãe.