Boulos bateu no teto e a esquerda continua longe do poder

Foto: Reinaldo Canato / Folhapress
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A proximidade da eleição foi trazendo consigo um discurso conformista ingênuo: A esquerda sairia fortalecida independentemente de ganhar seus pleitos. Para além da narrativa derrotista de peladeiro (” o importante é jogar”) tal afirmação é absolutamente incompatível com qualquer tentativa coesa de tomada de poder.

Não, não há um etapismo que tirará Boulos do segundo lugar da eleição municipal e o colocará no Planalto. Isso não existe. Mais fácil amargar mais anos e anos de derrota. Lembrem-se de Lula, quase vencedor em 89 e humilhado no primeiro turno em 94 e 98.

Em São Paulo não é diferente. Fora a onda de Dória em 16, a esquerda sempre teve votação para ir ao segundo turno sem maiores problemas. As mesmas camadas médias que sempre votaram no petismo – o PT é uma criação paulista – hoje votam em Boulos. Esse pessoal sempre foi à esquerda. O mérito de Boulos foi hegemoniza-los em detrimento ao insosso e vulgar Jilmar Tatto. Um mérito que o coloca igual ao carioca Marcelo Freixo, que por enquanto ainda não venceu eleição majoritária alguma, mesmo depois de diversas idas ao segundo turno.

O objetivo das constatações acima definitivamente não é menosprezar as qualidades de um combativo e consequente Guilherme Boulos de 2020. Mas sim apontar divergências profundas quanto as análises vigentes na bolha esquerdista da internet.

Uma observação atenta aos números de Boulos elucida a questão. Se o eleitorado jovem é hegemonizado pelo psolista, o mais velho não o quer nem pintado de ouro. Em maior ou menos escala, essa tendência já é notada há algumas eleições.

A grande comunicação digital da campanha, que de fato é a melhor em muitos anos, tem seu teto. O teto é geracional. Os mais velhos (38-70) não compram os vídeos bem pensados e as inserções moderadas de um Guilherme Boulos com Rivotril. O mesmo déficit comunicacional da campanha de 16 e 18 continua ativo.

A eleição, até agora, manteve o padrão de outrora. Uma esquerda capaz de ir ao segundo turno com o apoio da classe média cosmopolita e de frações pequenas do eleitorado suburbano. Para Boulos só interessara vencer. Perderíamos com ou sem ele, no segundo turno. O conformismo otimista só o colocará mais longe do poder.

A conjuntura para as esquerdas continua rigorosamente nos mesmos patamares, com oscilações aqui e acolá. Um Freixo que sai para a entrada de um Eduardo Paes no Rio, uma Manuela D’Ávila que entra, um Boulos hegemonizando o eleitorado petista. Nada que influa na triste constatação de que ainda se prega para convertidos. Enquanto não for quebrada a barreira geracional e de comunicação, seguirá o armazém de secos e molhados, sempre com a mesma parca freguesia. Um tanto quanto barulhenta, mas que não morde as canelas de ninguém.

Foto: Reinaldo Canato / Folhapress