Há condições jurídicas, mas não existem ainda condições políticas para o impeachment do sr. Jair Bolsonaro. Não porque ele ainda conte com o apoio de uma minoria de extrema-direita neofascista que existe em todos os países, mas porque ele ainda conta com o apoio das elites econômicas brasileiras.
Não importa que ele não pare de fazer afirmações absurdas.
Não importa que ele não pare de mentir.
Não importa que ele acelere o desmatamento da Amazônia.
Não importa que ele despreze o Nordeste.
Não importa que ele rejeite a política de defesa dos direitos humanos.
Não importa que ele incentive a violência das milícias.
Não importa que ele ataque a educação pública.
Não importa que ele rejeite a política de apoio à ciência e à tecnologia.
Não importa que indique seu filho para embaixador do Brasil nos Estados Unidos.
Não importa que ele desmoralize o Brasil no exterior.
Não importa que ele defenda o racismo.
Não importa que sua política econômica seja procíclica e corte os investimentos públicos em um momento em que deveriam estar sendo aumentados como se não houvesse diferença entre eles e a despesa corrente.
Não importa que o desemprego seja enorme.
Não importa que o que resta ainda de indústria brasileira esteja sendo destruído.
Não importa que a democracia esteja sendo ameaçada.
Nada disso importa para essas elites porque, “em compensação”, esse senhor defende as reformas econômicas.
Isto é uma loucura! Há coisas sobre as quais não se transige. Algumas reformas são realmente necessárias, como a da Previdência, mas ela está sendo aprovada no Congresso por iniciativa do próprio parlamento. Como a reforma tributária, mas para ela há duas ótimas propostas, uma no Senado, a outra na Câmara dos Deputados – a de Bernard Appy e a do ex-deputado Luiz Carlos Hauly.
O que está em jogo hoje não são as reformas. Aquelas que são necessárias serão realizadas seja por um partido de centro-direita ou de centro-esquerda. O que está em jogo hoje é a dignidade da Nação brasileira – de um corpo político que só se constitui como Nação quando o respeito aos grandes valores das sociedades modernas (a liberdade individual, o bem-estar econômico, a justiça social e a proteção do ambiente) estão na base do compromisso social básico que forma uma verdadeira nação.
Por Luiz Carlos Bresser-Pereira