O caminho para a saída de Bolsonaro

GUSTAVO CASTAÑON O caminho para a saída de Bolsonaro
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Ontem, eufórico com o desmascaramento de Bolsonaro em praça pública, previ um processo de impeachment rápido contra ele, o que, no caso, quer dizer uns nove meses.

Não tenho problema em revisar aqui a opinião de cabeça mais fria.

Continuo achando que Bolsonaro é um cadáver adiado.

Mas o que se formou anteontem não foi ainda o consenso sobre como Bolsonaro sairá do poder, mas que ele tem que sair do poder.

Abrem-se agora as sessões de negociação entre Centrão, Esquerda, Globo, lava-jatistas e militares para acertar o modelo da retirada e do novo governo.

Cabe aqui um parêntesis de que os militares aceitarão discutir por mais recados públicos de lealdade que enviem, pois permanecem no governo somente em parte por um senso de responsabilidade com o país (além deles hoje só sobram no governo retardados mentais e patifes), em parte por medo de que Bolsonaro tente quebrar a hierarquia das tropas diretamente.

Um longo processo de sangramento se dará agora contra o genocida. Finalmente o processo contra Flávio andará, a investigação contra Carluxo andará, a investigação da morte de Marielle andará.

O fator imponderável que ninguém as vezes leva em conta nas análises é que Bolsonaro não é o gênio populista que uma esquerda petista quer pintar, mas um homem mau, estúpido e incontrolável que é bem informado pela NSA e tem uma gigantesca máquina de internet para destruir seus adversários.

Como retardado perverso que é, toma decisões insanas e impensadas que depois são reparadas pela estrutura de rede, e quase nunca o inverso.

Foi o que aconteceu em seu pronunciamento, que ao invés de ser a peça esquizofrênica que a classe média alta viu, foi um desfile milimétrico de situações que comovem suas bases populares contra o juíz pedante que recusou cumprimentar um fã popular no aeroporto, fazendo-o ficar magoado. E esse popular agora é o presidente da república que o juíz traiu. Essa narrativa pelo jeito já pegou em sua base.

Mas suas decisões insanas e autodestrutivas dificilmente cessarão, como temos visto esses dias, e podem precipitar um processo de afastamento mais rápido.

Assim como o pode um descontrole da curva de mortos da pandemia.

Essas decisões, como negar a pandemia, se opor ao confinamento, demitir Mandetta e agora Moro, vão gerando um progressivo desgaste de sua base que diminui o nível de adesão e convencimento de seus apoiadores, quando não os transforma em opositores ferozes.

Assim como os mais aguerridos defesores são os recém-convertidos, os mais aguerridos opositores são os recém-traídos.

Me arrisco a dizer que hoje o fenômeno Bolsonaro se apoia unicamente em dois pilares: a libertação para a expressão pura da maldade e ressentimento de parte da população, e a mitologia neopentecostal que pastores aproveitadores criaram em torno dele.

Isso formará o núcleo duro de seu apoio popular.

No entanto não tem força para segurá-lo. As forças decididas a tirá-lo do poder, mercado financeiro, judiciário, lava-jatismo, oposição, centrão, agronegócio e grande mídia, hoje só precisam chegar a um acerto entre si e com os militares.

Até lá, vão matar o mito antes que o homem.

Acho que vou voltar a ver o Jornal Nacional.

Vai ser divertido, enfim.